"APRENDER FRANCÊS: direito que as autoridades negam à sociedade sergipana

Professores de língua e literatura francesa do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal de Sergipe tornam pública a insatisfação da categoria no que diz respeito ao descaso dos órgãos oficiais de educação de Sergipe para com o ensino e aprendizagem do idioma francês.

Para quem ainda não sabe, todo aluno matriculado no ensino fundamental e médio da rede oficial de ensino tem direito a aprender línguas estrangeiras modernas em sua escola. É a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, de nº 9.394/1996, em seus Artigos 26 e 36, que assegura aos estudantes da educação básica essa possibilidade.

Essa lei inaugura o caráter plurilíngüe, entretanto, as autoridades da Educação do estado de Sergipe não permitem que essa concepção ultrapasse os portões das escolas sergipanas. O que ocorre, em consequência disso, é uma imposição aos estudantes de uma única língua – o inglês e, recentemente, por exigência da lei nº 11.161, de 05 de agosto de 2005 – o espanhol. É triste constatar que essas decisões são tomadas pelo poder educacional de nosso Estado sem uma prévia consulta à comunidade escolar, como prevê a legislação. Com isso, os estudantes passam a não ter direito de optar por outras línguas estrangeiras em função de um ato simplificador da administração educacional, por não contar, em seu quadro de funcionários, com uma coordenação de especialistas em línguas estrangeiras para pensar nas questões específicas da área e delas cuidar.

Nessa mesma lei, não há indicações que determinem a língua a ser ensinada nas escolas, uma menção se faz simplesmente à língua estrangeira moderna, que deve ser entendida como todas as que se opõem às clásssicas: grego e latim. Na tradição de nosso currículo educacional, sabemos que as línguas modernas: alemão, espanhol, francês, inglês e italiano já se fizeram presentes na escolaridade dos brasileiros.

Diante desse quadro, lamentamos que os dirigentes educacionais de Sergipe ignorem o aspecto plurilíngüe da legislação brasileira e desprestigiem o ensino do francês junto aos jovens estudantes de nosso Estado, minimizando os serviços prestados há anos pela Universidade Federal de Sergipe, através de suas duas licenciaturas diurna e noturna em português/francês que, a cada semestre, apresentam à sociedade sergipana novos professores de francês que não têm onde atuar profissionalmente.

Várias foram as ações realizadas ao longo dos anos por nós, docentes de francês da UFS e pela Associação de Professores de Francês do Estado de Sergipe (APFESE), junto aos órgãos oficiais de ensino, solicitando vagas nos concursos públicos para o magistério da rede estadual e municipal com a intenção de garantir a presença do francês no currículo escolar atual, mas sempre houve resistência por parte dessas mesmas autoridades, nada fizeram e continuam sem fazer para que isso aconteça. Em dezembro de 2009, por exemplo, elaboramos e encaminhamos uma proposta curricular para o ensino do francês no nível fundamental das redes estadual e municipal. Como mostra a pesquisa de mestrado/2002, realizada por um docente do Departamento de Letras Estrangeiras da UFS, na Universidade de São Paulo-USP, sobre a situação do ensino do francês em Sergipe, havia 10 (dez) escolas públicas estaduais que asseguravam o ensino do francês. Em menos de uma década, esse número se resume a 01 (uma) única escola; por isso, o objetivo da citada proposta previa a manutenção do ensino do francês, considerando que ele ainda está presente no currículo.

Até hoje, por incrível que pareça, nenhuma resposta recebemos oficialmente das secretarias de educação estadual e municipal, às quais nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos e assessorias, mas sabemos, extraordinariamente, para a decepção de todos nós professores que, na versão preliminar do currículo para o ensino fundamental, aquela proposta fora preterida. No ano passado, outro descaso maculou todos aqueles que dedicaram parte de sua vida escolar e profissional ao estudo da língua francesa: a retirada da prova de francês do ENEM-2010 pelo MEC. Que sistema educacional brasileiro é esse que exclui de seu processo avaliativo uma área do conhecimento que sempre esteve presente na educação brasileira desde 1809, ano em que se deu a criação da cadeira de língua francesa neste país? Esse problema marcou fortemente a direção e os professores de francês do Colégio de Aplicação (CODAP) da UFS, que se viram impotentes para justificar a seus alunos tal exclusão. Este colégio da rede federal de ensino oferece a seus alunos o ensino do francês nos níveis fundamental e médio desde 1960 e seus alunos se dedicam durante seus sete anos de escolaridade à aprendizagem do francês. E agora? O que eles podem fazer diante de tal negação? Preocupada com isso, a Federação Brasileira de Professores de Francês implementou uma campanha nacional, junto aos órgãos educacionais pertinentes, em prol da inclusão da prova de francês no ENEM-2011, esperando devolver, assim, o direito aos alunos de serem avaliados na língua à qual dedicaram parte de sua vida escolar. Após uma longa e árdua negociação com o INEP/MEC, a presidente da FBPF – Profª Rosalina Chianca (UFPB) - conseguiu a promessa de que o francês será incluído no Exame Nacional do Ensino Médio deste ano. Isso não resolve, no entanto, a situação caótica dos estudantes que participaram do ENEM em 2010, que tiveram de ser avaliados em uma língua estrangeira que nunca tinham estudado!

Esperamos, com essa publicação, que os responsáveis pelas decisões educacionais do Estado de Sergipe reconheçam a valiosa estrutura já existente em nosso sistema - a formação de professores de francês que a UFS assegura - e a permanência do ensino do francês no currículo atual, eliminando, de vez, o desperdício de recursos humanos e o monolinguismo como sinônimo de uma francofobia.

Professores de francês do Departamento de Letras Estrangeiras da UFS".