Ter, 23 de agosto de 2016, 16:18

Projeto da UFS realiza cerimônia de formatura de 23 servidores no supletivo do ensino fundamental
Solenidade acontecerá nesta sexta, 26, às 16h no auditório da Reitoria
Eliete dos Santos, 61, e Zé Augusto, 55, compartilham três singularidades: atuam no Departamento de Educação Física, na infância tiveram de deixar os estudos para trabalhar e agora estão prestes a obter o certificado do ensino fundamental.
Eliete dos Santos, 61, e Zé Augusto, 55, compartilham três singularidades: atuam no Departamento de Educação Física, na infância tiveram de deixar os estudos para trabalhar e agora estão prestes a obter o certificado do ensino fundamental.

Faixa, beca, certificado e cerimônia de formatura. Quem nunca sonhou com tudo isso? Afinal de contas estes são símbolos que marcam a conclusão de nossos estudos. Entretanto, podem ganhar um significado ainda mais relevante na vida de pessoas que apesar de anos de colaboração numa universidade não puderam concluir o ensino fundamental.

Eliete dos Santos Almeida, 61 anos, é uma das alunas do curso supletivo ofertado aos servidores da UFS. Ela, que trabalha como servente de limpeza no Departamento de Educação Física (DEF), ingressou na universidade aos 23 anos e hoje se sente muito feliz por estar concluindo o ensino fundamental.

“Estou muito feliz. Depois de anos dentro da casa do saber, tive a oportunidade de voltar a estudar, de receber o que para mim é um prêmio. Estou me sentindo vocês [universitários]. Depois de tanto tempo servindo, agora posso usar uma beca”, diz.

Ela conta que sua infância foi no interior do estado e que aos 15 anos abriu mão dos estudos para trabalhar. “Minha mãe sempre me incentivou muito a estudar, mas como filha única quis trabalhar, coisa de menina nova”.

Eliete agradece à Reitoria, aos professores e aos responsáveis pelo supletivo e ressalta a importância do curso nessa altura de sua vida. Agora, além de se aposentar com uma gratificação no salário, ela também pode cursar o ensino médio, algo que ela faz questão de enfatizar que pretende seguir. “Minhas três filhas estão orgulhosas de mim e me apoiaram durante todo o curso”.

José dos Santos, 55, mais conhecido como Zé Augusto - por conta de um erro no cartório o ‘Augusto’ acabou sumindo de seu nome, mas ficou para os mais próximos – também trabalha como servente de limpeza no DEF (há 37 anos ele atua na universidade).

Assim como Eliete, Zé Augusto abriu mão dos estudos para trabalhar ainda na infância. Somente durante o supletivo ele aprendeu a ler e escrever. “Agora posso pegar ônibus sem perguntar às pessoas. Antes não sabia escrever uma carta ou um bilhete, agora sei”.

Ele relembra as viagens realizadas durante os dois anos de curso e como passou a conhecer melhor o estado em que vive, sabendo diferenciar as regiões do Agreste, do Sertão e saber um pouco mais sobre a caatinga. Também teve a oportunidade de estudar sobre política e os conflitos em que o país esteve envolvido. Zé Augusto, pai de oito filhos, diz que recebeu total apoio de sua família e que não vê a hora de se formar.

Outro aluno ansioso pela solenidade de formatura é José Aluísio de Andrade, 56. Há 34 anos trabalhando na UFS, ele atua na Divisão de Administração de Imóveis (Divai) como servente de obras. Assim que foi informado do curso, realizou o cadastro e começou seus estudos.

“É muito importante ter uma formação, e isso tem a ver com querer e não com idade. Não existe idade quando queremos alguma coisa”.

Como seus colegas, José Aluísio abandonou os estudos cedo, aproximadamente aos 10 anos de idade, para ajudar sua mãe já que seu pai havia saído de casa. “Trabalhar o dia todo para estudar pela noite é muito cansativo, aí não consegui”.

José Aluísio diz ser grato à universidade pela oportunidade de concluir o ensino fundamental depois de tantos anos, sem deixar de destacar também os próprios esforços. Ele ainda conta que muito do que aprendeu já passou aos netos. “A gente aprendeu de tudo, e o que dá a gente passa. Por causa da idade acabamos esquecendo uma coisa ou outra, mas com esforço vai”.

Solenidade de formatura


Segundo a pró-reitora de Gestão de Pessoas Ednalva Freire Caetano, projeto surgiu em 2014 a partir da identificação dos servidores próximos da aposentadoria que não eram alfabetizados.
Segundo a pró-reitora de Gestão de Pessoas Ednalva Freire Caetano, projeto surgiu em 2014 a partir da identificação dos servidores próximos da aposentadoria que não eram alfabetizados.

Ação da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) e do Colégio de Aplicação (Codap), o supletivo do ensino fundamental 2014-2016 realizará nesta sexta-feira, 26, a formatura da sua primeira turma de 23 alunos (veja os nomes na lista abaixo da matéria). A solenidade ocorrerá no auditório da Reitoria, no campus de São Cristóvão, às 16h.

Segundo a pró-reitora Ednalva Freire Caetano, o projeto surgiu em 2014 a partir da identificação dos servidores próximos da aposentadoria que não eram alfabetizados e assim foi criada uma turma voltada a essas pessoas. Alguns alunos da turma que já sabiam ler e escrever acabaram colaborando com seus colegas.

Ainda de acordo com Ednalva, que é a paraninfa da turma, os benefícios vão além da alfabetização, pois os que ingressaram no curso passam a ter direito a uma promoção na carreira. “Além de um avanço profissional, o curso é um benefício para o resto da vida porque aqueles que não sabiam ler e escrever agora sabem”.

Uma das preocupações dos organizadores era a de que não houvesse abandono por parte dos alunos, então o plano foi produzido visando o maior número de atividades práticas possíveis. “Sabemos o quanto é difícil voltar a estudar depois de tanto tempo, então foram desenvolvidas diversas atividades ao longo do curso para que eles pudessem se sentir motivados”.

Parceria entre Progep e Codap


Primeira turma do supletivo do ensino fundamental dos servidores da UFS realizará a formatura nesta sexta, 26, às 16h no auditório da Reitoria. (fotos: Adilson Andrade/Ascom-UFS)
Primeira turma do supletivo do ensino fundamental dos servidores da UFS realizará a formatura nesta sexta, 26, às 16h no auditório da Reitoria. (fotos: Adilson Andrade/Ascom-UFS)

A parceria entre a Progep e o Codap neste projeto veio do fato de o colégio já ter uma experiência com educação voltada a jovens e adultos. Segundo a professora Maria Josefa de Menezes Almeida, coordenadora do curso, existe uma grande diferença entre o ensino voltado a adultos e o destinado a outras faixas etárias. “Além da questão metodológica, existe o elemento da afetividade, autoestima, valorização do saber que o adulto já traz, fatores fundamentais para a efetivação do projeto. Posso dizer que ganhei mais 23 amigos verdadeiros”.

A coordenadora ainda explica que o curso foi inovador porque todo material pedagógico foi construído em conjunto, ou seja, não foram utilizados exercícios de livros didáticos nem material disponível na internet, com exceção de alguns textos.

Além de Maria Josefa, que será homenageada na formatura, contribuíram com o projeto a pedagoga Giselma Machado e os professores Carlos Alberto Barreto (Matemática), Genivaldo Martires (História) e Luiz Anselmo Menezes Santos (Departamento de Educação Física).

Maria Josefa destaca que o curso procurou não se restringir à sala de aula, pois foram realizados estudos de campo e neles os alunos tiveram a oportunidade de visitar o Museu da Gente Sergipana, o Oceanário de Aracaju, além de conhecer o cânion de Xingó, entre outras localidades. As viagens foram realizadas bimestralmente e todos os envolvidos puderam contar com o apoio da universidade. Além das matérias comuns ao ensino fundamental, eram ministradas aulas de espanhol e uma vez por semana os estudantes tinham acesso ao laboratório de informática.

Sobre o fim da jornada desses dois anos de curso, a professora diz que “a maior recompensa é ver colegas da instituição que trabalham em diversas áreas, como limpeza, pintura, carpintaria, eletricidade, almoxarifado, sentindo-se parte da UFS, sentindo-se acolhidos”.

Luiz Amaro

Guilherme Almeida (bolsista)

comunica@ufs.br


Atualizado em: Qua, 24 de agosto de 2016, 09:58