Seg, 09 de abril de 2018, 11:00

Impacto das tecnologias digitais no homem: uma reflexão
Henrique Nou Schneider

Algumas tecnologias desenvolvidas pelo homem impactaram radicalmente a espécie humana. Podemos citar o fogo, que permitiu o aquecimento do homem, cozimento dos alimentos, a forja do metal, a iluminação, a cauterização rudimentar de feridas e etc.; a imprensa de Gutemberg, isto é, a máquina de impressão tipográfica por ele inventada, que, com os tipos móveis, permitiu a impressão em série de documentos e livros, socializando o saber; o relógio de precisão, que disciplinou o homem ao lapso de tempo; o telescópio, que possibilitou enxergar o universo que nos cerca e conhecer o registro da sua história por meio do rastro deixado pelo surgimento e pelo apagar de estrelas; e o computador, que estendeu a capacidade cognitiva do homem.

Esta última tecnologia, que teve o ábaco como uma das suas primeiras aproximações e foi disponibilizada em meados do século passado, como fruto de uma corrida dromocrática para balizar melhor a pontaria da artilharia das forças combatentes na segunda grande guerra, já apresentava capacidade e velocidade de cálculo maior que a humana, passou a ser utilizado, também, no processamento de dados empresariais e científicos, até chegar às versões atuais, as quais servem como meio de comunicação, de informação, de entretenimento, de negócios e de análise de grandes volumes de dados e respectiva síntese de padrões; enfim, o computador e a informática, área de conhecimento que atua no desenvolvimento de técnicas e tecnologias para processar os dados binários representativos dos fenômenos mundanos, constituem-se na última tecnologia a interferir radicalmente na ontologia e na filogenia humana, pois vem alterando a forma de pensar do homem.

Como nos apresenta Brüseke (2010), o homo faber, com a técnica, suplantou todas as outras dimensões humanas. Na informática, o homem vem quebrando paradigmas e respectivos valores, há muito cristalizados no seu modus vivendi, como a relação espaço-tempo. Agora, o homem atua no tempo do clock do processador do computador e se desloca na velocidade da luz na internet, representado pela informação, fato que lhe permite experimentar a ubiquidade. O ciberespaço é o locus atual das relações humanas, onde, infelizmente, não cabe os valores tradicionais desenvolvidos na esteira da alteridade, já que o outro é simplesmente uma representação, ou seja, uma porção de pessoa. Tangido na velocidade, como nos ensina Trivinho (2007) e abraçado com a técnica, como Brüseke (2010) sinaliza, o homem vai se deixando aprisionar, cada vez mais, no circuito da racionalização, isto é, no uso raso e imediato da razão, pois não é lhe dado o tempo necessário para ele refletir sobre as suas ações.

Portanto, as tecnologias digitais, em todas as suas versões, se constituem na plataforma sobre a qual se desenvolve as relações humanas na atualidade. O bom ou mau uso das mesmas depende de como e para que elas são usadas. Cumpre, assim, ao usuário definir o objetivo da sua utilização. Devido à sua gênese, baseada em um sistema simples binário, que possui somente dois estados possíveis, mas que possibilita infinitas combinações, as tecnologias digitais carregam no seu “DNA” a flexibilidade máxima que a técnica pôde até agora alcançar. Então, é no caldo resultante da flexibilidade e da velocidade que o homem hodierno vive. Resta-nos, finalmente, a pergunta: como fazer bom uso das tecnologias digitais? O Gepied apresentou uma reflexão sobre os motivos do mau uso dessas tecnologias no livro “Por quê se faz mau uso das tecnologias digitais”, a ser lançado pela Editora Appris – Curitiba/PR. Agora o Gepied está refletindo como utilizá-las bem! Quiçá também podermos socializar o resultado desta reflexão num futuro próximo.

Henrique Nou Schneider é professor no Departamento de Computação e no Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFS. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Informática na Educação - Gepied


Atualizado em: Seg, 09 de abril de 2018, 11:12
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