Ter, 08 de maio de 2018, 18:11

Estágio em Paris e artigo em revista de astronomia: uma aluna da UFS no Ciência Sem Fronteiras
A estudante conta sobre experiência que resultou na participação em texto publicado na revista Astronomy & Astrophysics

O programa Ciência sem Fronteiras (CSF), encerrado no ano passado, buscou promover a expansão da ciência por meio do intercâmbio internacional. Marissol Mwaba consolidou essa experiência aproveitando ao máximo as possibilidades de estágios e estudos em astronomia, em Paris, concluindo a missão co-assinando artigo na revista científica Astronomy & Astrophysics.

Aliás, a própria vida de Marissol supera as fronteiras. Ela nasceu em Brasília e foi criada na Bahia, mas toda sua família é natural da República Democrática do Congo, o que explica o pomposo nome da estudante: Jacqueline Marissol Omega Muleka Mwewa Mwaba.

Marissol estuda Física Astrofísica na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e se candidatou ao programa Ciência Sem Fronteiras em 2014. Aprovada, ela realizou intercâmbio entre 2015 e 2016, na Université Pierre et Marie Curie - Sorbonne Universités, na capital da França.


Marissol Mwaba é estudante de Física Astrofísica da UFS (Foto cedida pela estudante - Crédito: Guilherme Meneghelli)
Marissol Mwaba é estudante de Física Astrofísica da UFS (Foto cedida pela estudante - Crédito: Guilherme Meneghelli)

A aluna chegou a Paris para cumprir disciplinas do curso de Física. Porém, simultaneamente, participou de um curso de iniciação à astronomia e astrofísica oferecido pelo Observatório de Paris.

Durante o curso, a discente realizou ainda um estágio de trabalhos práticos no Observatório de Meudon e, ao final, um estágio de quatro noites de observação no Observatório de Haute Provence. “Este contato direto com a minha área de interesse foi muito rico e transformador”, enaltece.

Através do estágio, Marissol conheceu Florence Durret, a professora na disciplina de Galáxias. A docente aceitou a intercambista para estagiar com ela por dois meses no Instituto de Astrofísica de Paris (IAP) – “que é um dos maiores centros de pesquisa em Astrofísica”, garante a aluna.

A tarefa de Marissol no estágio era colaborar na pesquisa de Durret, realizando o tratamento de dados em extragaláctica, fazendo fotometria de galáxias no Aglomerado de Ofiúco - um aglomerado é um conjunto de galáxias (podendo conter de centenas a milhares delas) ligado gravitacionalmente.

A pesquisa

O objetivo da equipe liderada pela professora Durret foi investigar as propriedades ópticas do Aglomerado de Ofiúco, para obter pistas sobre a época de formação do aglomerado e compará-las com as do aglomerado de Coma, “que em termos de massa é comparável a Ofiúco, mas dinamicamente é muito mais perturbado”, explica a aluna.

A catalogação final do aglomerado contou com 2.818 galáxias. A partir das informações do catálogo e em comparações com os dados já conhecidos sobre o aglomerado de Coma, a equipe concluiu que os ambos parecem estar imersos em ambientes diferentes. “E a comparação entre eles pode nos dar informações sobre o efeito que o ambiente pode ter em suas propriedades”, aponta Mirassol. “Nossa interpretação é de que Ofiúco se construiu há muito tempo, enquanto Coma ainda está em processo de formação”, completa.

A pesquisa, segundo a estudante, deixa também a reflexão de que é um pouco difícil entender como dois aglomerados gigantescos se construíram para serem de massa e riqueza comparáveis em ambientes tão diferentes.

Intercâmbio

Marissol assegura que o intercâmbio acrescentou muito à sua formação. “Foi um ano de bastantes aprendizados, tanto de cunho acadêmico quanto pessoal. A lida com as mudanças de cultura, clima, idioma, métodos de ensino, e todo conjunto de coisas que variam de um país para outro não foi fácil”, pontua.


Parte da Constelação de Ofiúco, em imagem criada a partir de dados do Digitized Sky Survey (Crédito: ESO/Digitized Sky Survey 2)
Parte da Constelação de Ofiúco, em imagem criada a partir de dados do Digitized Sky Survey (Crédito: ESO/Digitized Sky Survey 2)

Os estudos e estágios na França são mais um patamar superado por Marissol, como ela mesma relata. “Isso atua como mais um ponto de conquista nas lutas travadas por anos batendo de frente com as injustiças”, atesta. “Dificuldades de acesso e permanência à formação acadêmica são, inclusive, algumas das consequências em pauta destas injustiças”, denuncia a discente.

Cada passo na vida acadêmica, cada conquista, são, para Marissol, atos de enfrentamento e resiliência contra as injustiças, entre elas, “obstáculos e estigmas atribuídos ao que minha figura como um todo representa enquanto mulher, negra, africana/brasileira, nordestina e bissexual”.

Para a estudante, usufruir ao máximo do intercâmbio que o CSF oferece é também uma forma de retribuir as oportunidades disponibilizadas pelo poder público. “Isso atua como retorno positivo do investimento na educação que foi feito com o dinheiro público, para que eu pudesse desfrutar de parte da minha formação no exterior”, reflete.

O esforço dos estudantes que participavam do CSF em alcançar resultados nos seus intercâmbios contribuía como integração com as instituições de fora do país, acredita Marissol. “É mais um elemento de representatividade também dos meus colegas e professores do curso de Astrofísica da Universidade Federal de Sergipe diante da comunidade cientifica internacional”, considera.

Ciência Sem Fronteiras

O Ciência Sem Fronteiras foi um programa do Ministério da Educação (MEC) que buscava promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.

O programa começou em 2011 e teve seu fim decretado pelo governo federal no ano passado - o MEC garantiu seguir financiando bolsas em instituições do exterior para estudantes de pós-graduação e estagiários de pós-doutorado.

A publicação

O artigo que tem colaboração de Marissol Mwaba se intitula The optical properties of galaxies in the Ophiuchus Cluster (As propriedades ópticas de galáxias no Aglomerado de Ofiúco) e foi publicado no dia 26 de janeiro de 2018, na revista de alto impacto Astronomy & Astrophysics – uma publicação é considerada de alto impacto quando os trabalhos nela publicados têm índices significativos de citações.

Marília Souza (bolsista)
Marcilio Costa
comunica@ufs.br


Atualizado em: Sex, 25 de janeiro de 2019, 18:14
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