Qua, 15 de agosto de 2018, 17:28

Maria Lúcia Dal Farra é semifinalista no Prêmio Oceanos 2018
“Terceto para o fim dos tempos” é o quarto livro de poemas da autora

Depois de “Alumbramentos”, obra com a qual venceu o Prêmio Jabuti 2012 na categoria Poesia, a poeta e pesquisadora Maria Lúcia Dal Farra lançou em outubro do ano passado seu quarto livro de versos “Terceto para o fim dos tempos” (Editora Iluminuras, 128p.), semifinalista do Prêmio Oceanos 2018 (antigo Prêmio Portugal Telecom de Literatura). Por telefone, a professora aposentada da Universidade Federal de Sergipe falou com a Ascom:


Fotos: Márcio Santana/AscomUFS
Fotos: Márcio Santana/AscomUFS

Como foi o processo de escrita desse livro?

A primeira parte dele tem tudo a ver com a perda da minha mãe, que foi em 2014. Esse é um livro de luto, na verdade. E que coincide também com a situação mesma do país e tudo que está se passando. Eu comecei a escrevê-lo em 2014 e ficou pronto na altura de fevereiro de 2017. O livro parecia então premonitório de todas as minhas perdas e do destino do país, porque quando foi à gráfica pouco depois morreu Antonio Candido e minha querida amiga Ecléa Bosi. Então, havia nele um presságio, algo de doloroso.

Como você avalia que esse livro se encaixa no conjunto da sua obra poética?

Em termos de estado de espírito, é como se eu estivesse rompendo com muitas coisas, porque na minha obra havia sempre alegria, inocência. Nesse, eu entro em uma sintonia de dor, angústia, perda, desassossego mesmo. Certa vez um crítico amigo meu me perguntou, lendo Livro de Auras, como era possível ter essa pureza de visão, essa visão das coisas que é como se nada de ruim tivesse me acontecido. Na verdade, muitas coisas ruins aconteceram na minha vida, mas a minha maneira de tratar isso foi com leveza. Então, nesse obra atual, é que estou descarnada, escrevendo de maneira muito direta. E nessa obra houve uma mudança de tom.


"Neste livro, entro em uma sintonia de dor, angústia, perda, desassossego", explica a autora.
"Neste livro, entro em uma sintonia de dor, angústia, perda, desassossego", explica a autora.

Então o livro inteiro é pesado, é de luto?

O livro tem 3 partes. “A casa póstuma” é a primeira, em que eu faço uma homenagem à casa que não existe mais. A segunda é uma brincadeira no “Parque de diversões”, para aliviar o peso disso em mim mesmo, então eu brinco com outros autores. Mas a parte final é muito carregada, porque se chama “circo de horrores”. E o livro acaba de uma maneira terrível. É um tom da minha idade, da minha época. Um tom de morte, de roxo escuro, de Semana Santa, de via crucis, de véu de Verônica.

Seu livro apareceu ontem como semifinalista do Prêmio Oceanos 2018. Qual a sua expectativa nesse concurso?

A expectativa é sempre nenhuma (risos). Essas coisas dependem de muitas outras. O prêmio é sempre uma coisa que não deixa de passar pelo âmbito comercial, de vendas. E neste é uma mistura de romances, poesia, contos. Todos concorrem juntos: escritores portugueses, brasileiros e africanos. Então, eu estou concorrendo com toda a língua portuguesa.


"Terceto para o fim do mundo" é o quarto livro de poemas de Maria Lúcia Dal Farra
"Terceto para o fim do mundo" é o quarto livro de poemas de Maria Lúcia Dal Farra

Para além do trabalho de criação literária, o que você tem feito na área de pesquisa?

Eu tenho um vínculo institucional com a Universidade Federal de Sergipe e tenho um grupo de pesquisa no CNPq com 14 estudiosos do Brasil, Portugal e Alemanha. O grupo se chama Florbela et alli, porque todas as pesquisas têm a poeta portuguesa como seu eixo. É um grupo de comparatistas.


Autora de diversas obras sobre a poeta portuguesa Florbela Espanca, Dal Farra trabalhou no reconhecimento e legitimação de manuscritos da autora publicados em edição fac-similar pela Fundação Casa de Bragança, em Portugal
Autora de diversas obras sobre a poeta portuguesa Florbela Espanca, Dal Farra trabalhou no reconhecimento e legitimação de manuscritos da autora publicados em edição fac-similar pela Fundação Casa de Bragança, em Portugal

Como foi a sua participação na obra “Manuscritos de Florbela Espanca”, publicada pela Fundação Casa de Bragança, em Portugal?

O atual presidente da República Portuguesa era, antes, presidente da Fundação Casa de Bragança, que fica em Vila Viçosa, onde nasceu a Florbela, e que era a residência dos reis de Portugal. Como presidente, ele fez o que nenhum antes fizera: comprou um espólio da Florbela e assim fui chamada (juntamente com a minha colega da Universidade de Évora, a Ana Luísa Vilela) a fazer o reconhecimento e a legitimação dos documentos. Fizemos isso e, em seguida, eles resolveram editar os manuscritos num livro de luxo, cujo lançamento foi feito lá no Paço Real.

Márcio Santana Sobrinho

Ascom UFS


Atualizado em: Qua, 15 de agosto de 2018, 23:14
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