Qui, 25 de outubro de 2018, 10:21

70 anos de contribuição da Química para o ensino superior em Sergipe
A história do ensino superior em Sergipe coincide com a história da química e essa viagem ao passado nos enche de orgulho

Iniciei o curso de Química Industrial no início da década de 1980 nas dependências do Instituto de Química, localizado na Rua Vila Cristina, onde hoje é a Secretaria de Estado da Cultura. As aulas práticas eram ministradas nos laboratórios, que tinham aquela áurea que nos fazia se sentir inseridos no clube seleto de cientistas. As bancadas de madeira escura, manchadas por produtos de reações químicas, as vidrarias incomuns espalhadas, o cheiro de reagentes químicos, as cores variadas das soluções, os equipamentos que despertavam nossa curiosidade, compunham o ambiente ideal para o estereótipo do químico. Com o passar dos anos fui tendo conhecimento de que existia uma razão substancial por trás daquela sensação: A tradição da Química em Sergipe.

De fato, a história do ensino superior em Sergipe coincide com a história da química e essa viagem ao passado nos enche de orgulho. Tudo começou em 1923 com a criação do Instituto de Química Industrial (onde hoje é o Palácio da Polícia Civil, na Rua Duque de Caxias), com a finalidade de formação de mão de obra técnica para a agricultura e a indústria. Em 1945 foi transferido para a Rua Campo do Brito e em 1948 passou a se chamar Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe (atual Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe, ITPS). Para se ter uma ideia desse pioneirismo, a profissão de Químico só foi reconhecida nacionalmente em 1934.

Com a experiência acumulada na pesquisa e algumas tentativas frustradas para estabelecer o ensino ao longo desses anos, enfim, as condições se tornaram favoráveis para a criação da Escola de Química de Sergipe (através da Lei Estadual nº 86, de 25 de novembro de 1948), sendo vinculada ao ITPS e sob a direção do farmacêutico-químico Antônio Tavares de Bragança, Laranjeirense, um baluarte na luta pelo ensino, pesquisa e tecnologia em nosso Estado. A instalação do curso de Química Industrial (Decreto 26.928, de 21 de julho de 1949) contou com 11 professores, alguns deles vieram da Europa, devido a Segunda Guerra Mundial (como Leônidas Tancu e Petru Stefan). A primeira turma se graduou em 1953 (5 formandos) e a formação dos profissionais que saíam da Escola de Química era tão sólida que passou a ser referência para um país que estava em processo de desenvolvimento industrial, colaborando decisivamente para alavancar a indústria local e nacional. A Petrobras, por exemplo, utilizou do conhecimento técnico de seus professores para a construção do oleoduto de Carmópolis ao Oceano Atlântico.

Para a criação da Universidade Federal de Sergipe, em 1968, a Escola de Química exerceu um papel determinante, devido a sua estrutura sólida e a grande capacidade de captar recursos. A Escola de Química passou a se chamar Instituto de Química que, com mais outros dois Institutos (Matemática e Física, e Biologia) e quatro Faculdades (Ciências Econômicas, Filosofia e Educação, Letras e Comunicação, e Ciências Humanas) compôs a estrutura acadêmica inicial da UFS. No ano de 1971 foram criados os cursos de Licenciatura em Química, com opção para o Bacharelado, e a Engenharia Química. Em 1978 o Instituto de Química passou a ser Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET), dando origem aos Departamentos de Química e de Engenharia Química. E a força da química não parou por aí. Não seria presunçoso dizer que os demais cursos do CCET tiveram suas raízes fortemente ligadas a Escola de Química.

Em 1982 ocorreu a transferência dos cursos de química para o mais novo modelo de ambiente para o ensino superior, a Cidade Universitária, que recebeu o nome do Professor José Aloísio de Campos. Devido à sua complexidade, os laboratórios de química foram os mais trabalhosos na construção e no processo de mudança. Nessa época, o quadro docente que atendia aos 4 cursos de química era composto por 33 professores, sendo 1 com o título de doutor (o professor João Sampaio D'Ávila), 4 mestres e 28 especialistas. Em 1991, o Bacharelado em Química passou a ter o ingresso de seus estudantes independente da Licenciatura. Em 2003 foi criado o Programa de Pós-Graduação em Química, que já formou mais de 200 mestres e os primeiros doutores sairão no próximo ano. Com a adesão da UFS ao programa REUNI, ocorreu uma intensa reestruturação e expansão em toda a universidade. A química saiu dos limites do Campus de São Cristóvão e chegou ao Campus Professor Alberto Carvalho, em Itabaiana, com mais um curso de Licenciatura em Química, iniciado em 2006. Atualmente, os Departamentos de Química dos dois Campi, juntamente com o Departamento de Engenharia Química, que abrigam os cursos das áreas de química na UFS, contam com 68 professores, sendo 66 doutores e 2 mestres. Outras instituições também promovem a química no ensino superior: o Instituto Federal de Sergipe (IFS) e a Faculdade Pio Décimo, ambos com o curso de Licenciatura em Química.

Portanto, temos muito com que se orgulhar por esses 70 anos da criação da Escola de Química. É nesse contexto que a UFS se apresenta como farol para iluminar o conhecimento e oferecer profissionais voltados tanto para o ensino, a pesquisa, a tecnologia e a inovação quanto em capacidade criativa, empreendedora e crítica.

Haroldo Silveira Dórea é professor do Departamento de Química, formado em Química Industrial pela UFS, com mestrado na UFBA, doutorado na USP e pós-doutorado no Canadá.


Atualizado em: Qui, 25 de outubro de 2018, 10:35
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