Ter, 26 de fevereiro de 2019, 16:23

Empreendedorismo e os desafios de vender pelo Instagram
Pesquisa identifica potencial da plataforma como uma nova alternativa de empreendimento informal digital
Lançado em 2010, o Instagram possui hoje mais de 57 milhões de usuários brasileiros, segundo o relatório Digital in 2017 (Fotos: Adilson Andrade - Ascom/UFS)
Lançado em 2010, o Instagram possui hoje mais de 57 milhões de usuários brasileiros, segundo o relatório Digital in 2017 (Fotos: Adilson Andrade - Ascom/UFS)

As redes sociais virtuais se tornaram um grande meio para propagação de informações. O Instagram, por exemplo, possui hoje cerca de 1 bilhão de usuários ativos e mais de 400 milhões de publicações diárias, segundo informações recentes da empresa. No entanto, novas demandas e propostas ocuparam a plataforma, reconfigurando, assim, suas funções e utilidades.

Uma dessas funções é o empreendimento informal digital. A pesquisadora Raísa Teixeira identificou essa questão e decidiu pesquisar o tema no mestrado que cursou, em Administração, na Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Ela define que o empreendedorismo informal digital é aquela atividade que não sofre taxações do governo e que funcione no ambiente online – não apenas nas redes sociais virtuais, como tratou sua pesquisa, mas também em outras plataformas que utilizem a internet.

“É como se, para o governo, essa atividade econômica não existisse, porque ele não está ciente”, pontua.


Raísa pesquisa sobre social commerce desde 2015, na graduação
Raísa pesquisa sobre social commerce desde 2015, na graduação

A mestra em Administração traçou o perfil dos empreendedores digitais e procurou identificar os desafios do comércio em redes sociais virtuais, especificamente no ramo do vestuário, no aplicativo Instagram.

Essa não é a primeira pesquisa feita por Raísa sobre a temática. Em sua graduação na UFS, em 2015, a estudante escreveu sobre negócios no Facebook. Contudo, a pesquisadora, em seu mestrado, resolveu utilizar, como suporte para o objeto de estudo, outra plataforma. Para o mestrado, porém, ela decidiu mudar o suporte do objeto de estudo, escolhendo outra plataforma digital.

“Escolhi o Instagram pela ascensão do momento. Na época da graduação, pesquisei sobre o tema no Facebook, que era a rede social virtual que estava em alta naquele momento. Com o passar dos anos, o Facebook já está sendo deixado de lado e, dessa maneira, percebi o auge do Instagram tanto para o lazer quanto para o comércio”, diz.

Ludmilla Montenegro, orientadora do trabalho, acredita que o enfraquecimento do Facebook, como recurso para empreender, ocorreu pela praticidade e rapidez exigida pelos usuários.

“Essa migração do Facebook para o Instagram se deu porque o Instagram tem menos texto. As pessoas estão querendo coisas cada vez rápidas. Dentro da própria plataforma já têm a questão dos ‘stories’, que direcionam para a própria página da pessoa; ou seja, não estão acompanhando mais até a página individual. Estão olhando os ‘stories’ por serem mais rápidos”, conta a professora do Programa de Pós-Graduação em Administração.

Contudo, a docente salienta que isso preocupa. Segundo ela, isso comprova que as pessoas estão lendo cada vez menos, inclusive nas redes sociais.


"Qualquer empresa, hoje em dia, antes de abrir as portas já tem o Instagram", conta a professora Ludmilla Montenegro
"Qualquer empresa, hoje em dia, antes de abrir as portas já tem o Instagram", conta a professora Ludmilla Montenegro

Outra inquietação de Ludmilla, relacionada a questões mercadológicas, é sobre a utilização eficiente do Instagram para obter bons resultados no negócio. “O que me preocupa também é se a empresa que lança um perfil no Instagram sabe utilizá-lo. ‘Responde rápido? ’, ‘passa informações? ’. Querendo ou não, é uma ferramenta, que você estabelece, de ligação. Se você não faz de maneira adequada, perde o cliente e tem dificuldades”, relata.

Desafios digitais

Empreender. Seja no ambiente “físico” ou digital, a tarefa de decidir realizar algo requer planejamento, principalmente para conseguir lidar com os desafios. Gestão de pessoas e financeira, burocracia, inovação, marketing e vendas. De acordo com a Pesquisa Desafios dos Empreendedores Brasileiros, esses são os maiores desafios do empreendedor no Brasil, independente do perfil. Mas se o negócio/empreendimento estiver ambientado digitalmente, os desafios são os mesmos?

Desde a sua criação, a plataforma do Instagram já recebeu várias atualizações, melhorando ou acrescentando funções. No entanto, o empreendedor digital informal, ao utilizar a plataforma, enfrenta dificuldades. Uma das constatações, sobre o uso do Instagram no empreendimento, que Raísa conseguiu identificar foi relacionada aos algoritmos – que são os códigos de programação que determinam o funcionamento da plataforma.

“O Instagram só mostra o que o usuário curte, a ferramenta “patrocinado” [quando o usuário paga para aumentar o alcance de uma publicação] não tem o alcance que deveria, curtidas e comentários misturados e postagens que desaparecem devido a denúncias”, explica Raísa.

A mestra, em seu trabalho, indica que os desafios que os negócios no Instagram enfrentam são os mesmos do comércio eletrônico em geral. Ela conta que o fato de o cliente não ver a peça de roupa gerava dúvidas sobre o tamanho, já que no Brasil não existe um padrão. Além disso, a forma de pagamento dificulta a venda. “Muitas pessoas têm medo de passar dados de cartão de crédito, mesmo com os sistemas de pagamentos eletrônicos”, diz.

A pesquisa analisou 15 empreendimentos de vestuários no Nordeste. Os dados coletados pela pesquisadora identificaram que as dificuldades mais abordadas foram: conseguir seguidores, a utilização somente de fotografias e áudios e competição por preços; ou seja, quase todas ligadas especificamente ao ambiente digital.

Quem é? O que o motiva?

Raísa percebeu que os perfis dos donos de negócios no social commerce não são tão distintos: grande parte são mulheres, com no mínimo Ensino Médio completo, sem experiência anterior com negócios on-line.

Além disso, a facilidade ao acesso de novos mercados, um maior tempo dos produtos na “vitrine” e oportunidades foram os motivos que fizeram com que seus entrevistados iniciassem um empreendimento.

Saiba mais

Para ler o trabalho completo da pesquisadora Raísa Teixeira e saber mais informações sobre como funciona os negócios no Instagram, acesse o Repositório Institucional da UFS clicando aqui.

Paulo Marques (bolsista)

Marcilio Costa

comunica@ufs.br


Atualizado em: Ter, 26 de fevereiro de 2019, 16:40
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