Seg, 01 de abril de 2019, 15:35

Mamulengos para transformar o ambiente hospitalar
Projeto do Departamento de Teatro traz felicidade a pacientes do HU-UFS

Dentre inúmeras maneiras de ajudar os pacientes enfermos através do lúdico, um projeto de extensão do Departamento de Teatro da Universidade Federal de Sergipe (UFS) escolheu uma peculiar: levar felicidade através de espetáculos com mamulengos, os fantoches típicos da cultura nordestina. O fundador e coordenador da iniciativa, o professor Pedro Rodrigues, escolheu o Hospital Universitário (HU-UFS) para comprovar os benefícios que o teatro de bonecos traz aos centros de saúde. Divididos em grupos, alunos da Licenciatura em Teatro da UFS e de outros cursos, além de demais professores e profissionais interessados, percorreram as enfermarias do HU-UFS com espetáculos cheios de alegria voltados para os pacientes adultos, iniciando, assim, o primeiro projeto desse tipo na história do hospital.

“A ideia do projeto é desenvolver miniespectáculos de teatro de bonecos para apresentar no HU. Estreitar a relação da arte com a saúde é algo que tem acontecido muito, desde o século passado. Não só os pacientes, mas os profissionais da saúde também têm de viver experiências teatrais, como forma de transformar o ambiente, proporcionando outra vivência no hospital”, explica Pedro.

Ainda de acordo com o professor Pedro, houve um intenso estudo acadêmico-científico para preparar o projeto de extensão. “Fui pesquisar quem já escreveu sobre isso, sobre relatos e experiências que falam sobre essa proximidade de pessoas da arte com o espaço da saúde”, destaca. O diálogo dos profissionais da arte com os da área hospitalar reflete-se na composição do próprio grupo do projeto, do qual fazem parte alguns estudantes e profissionais da saúde e da educação.

A descoberta dos manipuladores

No rosto de cada um dos membros do projeto eram visíveis a ansiedade e a sensação de descoberta. Os jovens dividiram-se em grupos com diferentes mamulengos e posicionaram os seus palcos improvisados ao lado dos leitos dos pacientes. O estudante de Biomedicina, Thiago Lima, conta que aderiu à iniciativa por meio duma amiga, aluna do curso de Teatro da UFS. “No ensino fundamental, participei de um teatro de bonecos. Então, quando ela me falou sobre esse projeto, fiquei bastante empolgado e perguntei se poderia participar. As apresentações no HU foram, sem sombra de dúvida, muito especiais. Foi muito gratificante o fato de levar alegria para os pacientes e ter retribuição em forma de risos e gargalhadas. Foi uma experiência incrível, porque alguns pacientes falaram que se sentiram renovados”, relata.

Após o final de cada apresentação teatral, uma dupla chamava a atenção dos pacientes. O professor Pedro havia determinado que duas participantes do projeto se encarregassem de colher os depoimentos com as percepções dos espectadores. “Essa parte do trabalho mostra que todo o processo e toda a pesquisa dos textos, dos bonecos, valeram a pena. Saber que os pacientes gostaram dessa ideia e que trouxemos uma energia melhor para cada um deles é muito importante. Tenho certeza de que foi gratificante para todos”, expõe a estudante de Teatro, Fabricia Lima.

A magia que contagiou os pacientes

Com o apoio do Setor de Hotelaria Hospitalar (SHH) e da Unidade de Comunicação Social (UCS), os grupos conseguiram visitar vários pacientes em distintas enfermarias. A surpresa dos internados, acompanhantes e profissionais do HU-UFS logo se transformava em satisfação, no momento em que os bonecos ganhavam vida para contar as suas histórias.

Quando o espetáculo de mamulengos chegou à sua enfermaria, o pequeno Henzo Souza estava com os seus pais Márcio e Tati. Surpreendida com a magia dos bonecos, a família uniu-se para boas gargalhadas. “Agradecemos e damos os parabéns a esse projeto por trazer essa diversão a quem está no HU”, resumiram os pais de Henzo.

A arte dos mamulengos

Os mamulengos são o teatro de bonecos do nordeste do Brasil. “É uma produção do homem nordestino”, enfatiza Pedro. Há todo um estilo próprio de dramaturgia, figurino e apresentação. Os textos dos espetáculos escolhidos pelo grupo são de pessoas que escrevem para o teatro de bonecos, a exemplo da sergipana Aglaé Fontes, e têm as suas origens na literatura de cordel.

“Não são textos do teatro tradicional. É uma dramaturgia um pouco esquecida, mas representa a cultura popular. A ideia é valorizar o mamulengo”, garante Pedro. “Estávamos muito ansiosos por esse momento no HU, que é o encontro com o espectador-paciente”, complementa.

A ciência por trás dos mamulengos é a arte que se explica e analisa. Nessa perspectiva, o também professor do Departamento de Teatro da UFS, Lucas Wendel, quem acompanhou os grupos nas suas apresentações, leciona que as formas animadas estão relacionadas com o mundo das ideias, das abstrações.

“Os mamulengos são símbolos de representações que acabam ganhando dimensões de significado para os manipuladores e espectadores. O projeto de extensão consegue perceber que a dimensão poética do teatro de formas animadas pode ressignificar o espaço formal e institucional da saúde, trazendo outros sentidos: sorriso, brincadeira e diversão. Além do mais, tem um teor educativo, não necessariamente panfletário, que instrui para o humano, para a aproximação entre os indivíduos”, ensina Lucas.

Projetos futuros

O professor Pedro assevera que já pensa em fortalecer a ideia de que o HU-UFS também possa ser espaço de estágio para os licenciandos em Teatro. “É importante que os alunos saibam disso. O ambiente hospitalar é um campo de trabalho para intervenções como essas do projeto de extensão. Em parceria com o SHH, estamos trabalhando para que o HU seja campo de estágio para o curso de Licenciatura em Teatro, como já acontece em outros lugares do Brasil e do mundo”, detalha.

“No próximo semestre letivo, teremos outra edição do projeto de extensão com outros espetáculos voltados para o público infantil. Estudaremos o que é o teatro para a infância, que costuma ser mais difícil que para adultos”, relata Pedro, bastante entusiasmado, quem descreve um sentimento de gratidão.

Luís Fernando Lourenço

Unidade de Comunicação HU-UFS


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