Os manuais do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa) da Universidade Federal de Sergipe ganharam um novo formato. A partir de agora, todos os módulos destinados aos estudantes contam com sua versão, em vídeo, na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
A iniciativa é da Divisão de Ações Inclusivas da UFS (Dain) e tem como objetivo ampliar os recursos de acessibilidade para os estudantes com deficiência, bem como de inseri-los cada vez mais nas atividades que estão além das salas de aula.
De acordo com a coordenadora do projeto, Elielda Bila, a demanda surgiu das dificuldades apresentadas pelos próprios estudantes surdos ao acessarem o sistema. “É preciso compreender que a língua portuguesa não é a língua oficial da pessoa com deficiência auditiva. Dessa forma, tudo o que nos parece fonética e gramaticalmente compreensível gera inúmeras dúvidas para esse grupo, que muitas vezes deixa de participar de atividades importantíssimas
no cenário acadêmico, comprometendo desnecessariamente seu potencial”, diz Elielda, que é tradutora e intérprete de Libras.
Ela explica ainda que, para melhorar esse cenário, era necessário partir do primeiro contato do estudante com a universidade: o Sigaa.
“O estudante faz tudo através do sistema, desde o início do curso à conclusão. Então precisávamos transcrever os manuais de forma a atender essas necessidades. Primeiro, fizemos a organização e a catalogação do material para que os intérpretes da Dain tivessem acesso a todo o conteúdo. Em seguida, fizemos a transcrição, que é um trabalho extremamente minucioso, e, posteriormente, a execução dos vídeos junto ao canal da TV UFS, administrado pelo Núcleo de Editoração e Audiovisual da UFS (Neav). Todo esse processo levou cerca de seis meses e, hoje, está tudo pronto para a visualização dos estudantes”, salienta Elielda.
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Para Alzenira Aquino, chefe do Departamento de Letras Libras (Deli) da UFS, a iniciativa da Dain é fundamental não só no que diz respeito à inclusão da pessoa com deficiência auditiva no âmbito da graduação, mas à sua participação efetiva em todos os processos que envolvem as áreas e atividades acadêmicas.
“Incluir não é apenas garantir o acesso do deficiente à educação superior – até porque isso é um direito previsto em lei -, mas fornecer mecanismos que possibilitem sua permanência no universo acadêmico em todas as suas perspectivas de ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido, a transcrição dos manuais do Sigaa pela Dain é, sobretudo, uma iniciativa que visa auxiliar na melhoria de três pontos históricos bastante negligenciados na educação dos surdos no Brasil: o respeito à Libras, que é a língua oficial do surdo; a carência em relação à língua portuguesa, que é proveniente da educação básica, e a acessibilidade no âmbito da permanência. Isso, por si só, é um trabalho primoroso e, sem dúvidas, terá impacto positivo na vida desses estudantes", salienta Alzenira.
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Cursando o sétimo período de Letras Libras na UFS, o estudante José Emerson dos Santos diz que a transcrição dos manuais contribui significativamente para a mudança de comportamento dos deficientes auditivos frente às próprias demandas acadêmicas. “As pessoas não fazem ideia de como é difícil para um surdo compreender os fundamentos da língua portuguesa. O texto escrito não tem o mesmo sentido para surdos e ouvintes, já que ele vem da fonética e nós não ouvimos. Assim, essa transcrição visual dos manuais, em Libras, é uma forma de nos sentirmos mais motivados a participar da vida estudantil além das salas de aula”, explica José Emerson.
Cândida Suely Menezes, estudante do quinto período de Letras Libras, também acredita que a iniciativa da Dain vai proporcionar melhorias no rendimento dos estudantes. “É diferente quando a gente se vê representado em algo dentro da universidade. Muitos colegas deixam de participar de coisas importantes, como projetos de pesquisa e de extensão, porque os procedimentos são completamente fora da compreensão do surdo. Aqueles que têm mais autonomia, podem ter uma melhor orientação, mas não cabe ao estudante pedir para ser incluído. Esse é um papel da instituição. Assim, a transcrição dos manuais trará um maior rendimento acadêmico e. sem dúvidas, melhorias na autoestima dos estudantes surdos”, diz Cândida.
Foram transcritos em Libras os seguintes manuais: Ouvidoria, Transferência interna, Extensão, Avaliação institucional, Carteira estudantil, Permuta discente e Estágio.
Jéssica Vieira
dain@ufs.br