Qui, 13 de abril de 2023, 17:35

Pesquisadores da UFS investigam efeitos do uso medicinal da cannabis
Ensaios pré-clínicos avaliam tratamento de doenças como Parkinson e Alzheimer
Experimentos utilizam canabidiol em modelo animal na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Experimentos utilizam canabidiol em modelo animal na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

O aposentado Paulo Sérgio Reis, 70 anos, faz o uso medicinal da cannabis há pelo menos dois anos. Ele toma oito gotas de óleo de canabidiol, três vezes ao dia, para controlar sintomas de ansiedade e aliviar dores na região da coluna.

“O tratamento vem fazendo um grande efeito em mim. Eu ficava irritado com facilidade e era muito agitado e isso afetava meu sono. Hoje já consigo dormir a noite toda. Também já fico de pé e faço minhas atividades sem sentir dores,” conta o aposentado.

Paulo é um dos 187 mil brasileiros que se beneficiam de medicamentos à base da planta popularmente conhecida como maconha - por meio de prescrição médica - para tratar problemas de saúde. Os dados são Anuário da Cannabis no Brasil, da empresa Kaya Minds, publicado ano passado.

+ Entenda como ONG conseguiu autorização para uso medicinal da cannabis em SE

Apesar do alto custo para a importação dos derivados da substância dificultar o acesso da população em geral ao tratamento, o avanço de pesquisas científicas na área tem contribuído para a melhoria dos produtos e para o aprimoramento da legislação.


Ronaldo dos Santos lidera pesquisas na UFS sobre cannabis. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Ronaldo dos Santos lidera pesquisas na UFS sobre cannabis. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Na Universidade Federal de Sergipe, o Laboratório de Neurobiologia Comportamental e Evolutiva (Lance-UFS), instalado no campus Alberto Carvalho, em Itabaiana, desenvolve estudos sobre os benefícios da cannabis há quase uma década. Os ensaios, em fase pré-clínica, buscam confirmar o potencial neuroprotetor das substâncias.

Segundo o professor de Biocências e coordenador do Lance, José Ronaldo dos Santos, “as pesquisas têm demonstrado os efeitos benéficos da cannabis para o tratamento de transtorno de ansiedade e de doenças neurodegerativas, como Parkinson e Alzheimer”.

+ Pesquisa da UFS avalia eficácia da fisioterapia para controle da enxaqueca

Uma das análises em andamento no laboratório investiga de maneira mais aprofundada os impactos moleculares do uso do óleo extraído da cannabis nos mecanismos fisiológicos de neuroproteção contra o parkinsonismo.


Leandro Sousa é doutorando em Ciências Fisiológicas na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Leandro Sousa é doutorando em Ciências Fisiológicas na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

A pesquisa em modelo animal é feita com cerca de 50 ratos. O experimento começou a ser conduzido no início deste ano pelo biológo Leandro Santos Souza no doutorado em Ciências Fisiológicas da UFS e deve durar quatro anos.

+ Aplicativo visa facilitar denúncias de casos de violência doméstica

“As evidências que trazemos, mesmo preliminares, podem abrir novas possibilidades para estudos em humanos, podendo auxiliar a dosagem e a circunstância mais adequadas para o uso do óleo do cannabidiol contra a Parkinson,” explica o doutorando.

Política Estadual de Cannabis

Atualmente, os compostos de cannabidiol testados em modelo animal na UFS são produzidos na Universidade Federal de São Paulo (Univfesp). No entanto, a recente sanção da lei que criou a Política Estadual de Cannabis, além de facilitar o acesso dos pacientes aos remédios à base da planta, permitirá a ampliação de pesquisas científicas.


Auderlan Mendonça é professor de Biociências da UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Auderlan Mendonça é professor de Biociências da UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Para o professor de Biociências da UFS, Auderlan Mendonça, “apesar das evidências existentes, ainda é preciso avançar na pesquisas para entender melhor como funciona o mecanismo neuroprotetor do cannabidiol e poder passar a fazer ensaios em humanos”.

Tratamento de lesões de pele

Além de avaliar os benefícios da cannabis no tratamento de doenças neurodegenerativas, o Laboratório de Neurobiologia da UFS se prepara para iniciar análises pré-clínicas de compostos para tratar lesões na pele, em parceria com o Ambulatório de Cicatrização do Departamento de Enfermagem do campus de Lagarto.

+ Estudo revela baixo controle de métricas da saúde cardiovascular

“A idéia é avaliar o efeito antiinflamatório e de alívio da dor, pois são esses dois fatores que vão auxiliar o processo de cicatrização. Isso vai ajudar na melhora no tratamento da ferida, estimulando a circulação sanguínea e diminuindo o estresse oxidativo,” afirma a professora de Enfermagem, Katty Anne Medeiros.


Katty Anne planeja pesquisas com cannabis para tratar feridas. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Katty Anne planeja pesquisas com cannabis para tratar feridas. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Comercialização de produtos

Recentemente a Justiça Federal em Sergipe autorizou a ONG Salvar a fazer o cultivo e produção da cannabis sativa pra fins exclusivamente medicinais. A decisão judicial é considerada inédita no país, pois permite, pela primeira vez, a comercialização da flor da planta.

Com isso, de acordo o presidente da associação que reúne cerca de 200 pacientes, Paulo Reis, será possível firmar parcerias com universidades e institutos de pesquisas para o melhoramento dos produtos derivados da cannabis.

+ Tecnologia de baixo custo permite neurocirurgias menos invasivas

“Já iniciamos o diálogo com a UFS para um convênio na perspectiva de garantir tanto o monitoramento da qualidade dos produtos, bem como a padronização dessa produção, já que vamos poder produzir desde pomadas até sprays”, ressalta o presidente.

Josafá Neto

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qui, 13 de abril de 2023, 20:40
Notícias UFS