Sex, 28 de novembro de 2014, 10:42

Mesa-redonda debate Ditadura Militar
Mesa-redonda debate Ditadura Militar
Mesa-redonda debate Ditadura Militar
Mesa-redonda debate Ditadura Militar
Debate ocorreu na tarde dessa quinta-feira, 27, no auditório da Reitoria
Debate ocorreu na tarde dessa quinta-feira, 27, no auditório da Reitoria
Marca do Memorial da Democracia elaborada pela equipe da Editora UFS
Marca do Memorial da Democracia elaborada pela equipe da Editora UFS
Outras atividades com a mesma temática também foram realizadas na tarde dessa quinta, 27
“São essas as considerações iniciais, provocando os meus colegas, famosos como ‘demolidores conferencistas’, a questionarem e reduzirem meu livrinho a pó”, brincou o professor aposentado do Departamento de Ciências Sociais da UFS Ibarê Dantas, autor do livro “A tutela militar em Sergipe”, quando lançou as provocações que deram início à mesa-redonda sobre “Memória e História da Ditadura Militar em Sergipe”.
ASSISTA AO VÍDEO e confira o álbum de fotos do evento.
Integrando a programação da segunda edição da Semana Acadêmico-Cultural da UFS (Semac), o debate ocorreu na tarde dessa quinta-feira, 27, no auditório da Reitoria, e foi um dos três eventos que abordaram o período da Ditadura Militar em Sergipe, juntamente com o lançamento do projeto do Memorial da Democracia e da segunda edição do livro de Ibarê.
Mediada pelo professor e coordenador da Semac, Péricles Moraes, a mesa foi composta pelo professor emérito (2002) e doutor honoris causa (2010) da UFS, José Ibarê Costa Dantas, pelo professor do Departamento de História, Antonio Fernando de Araújo Sá, e pelo professor do Departamento de Direito, José Afonso Nascimento.
Ibarê guiou sua fala através do objeto de estudo do seu livro. O professor manteve os conceitos da contra-revolução e autoritarismo – teses rejeitadas pela maioria dos estudiosos – e buscou esclarecer as diferenças entre golpe e contra-revolução, explicando porque não considera o período militar como uma ditadura, mas como um regime autoritário. Em seus estudos, além da preocupação pela verdade, explica, “existe uma preocupação também em desmistificar invencionismos que são comuns em todos os movimentos, cada um apresentando sua versão”.
Fernando Sá deu ênfase ao diálogo existente entre a história e a memória. “Aquilo que é memorável ou não numa sociedade implica numa questão de disputa de poder. Essa construção se dá de diferentes maneiras”, explica. A memória, segundo ele, interpela a história; pode tanto legitimar ou questionar a própria sociedade. Quanto às provocações feitas pelo colega, Fernando acredita que o termo ditadura dá conta de explicar esse período histórico conhecido como “ditadura militar”. “Não tem tutela. A tutela militar se deu pós-ditadura”, rebate.
Afonso aproveitou sua fala para elogiar o livro de Ibarê. “É uma obra incontornável neste momento”, afirmou. Em resposta às provocações, disse não concordar com a contra-revolução, tese defendida pelo professor Ibarê, e critica a valorização que ele dá a retórica ‘dita revolucionária’ daquela época. Assim como Fernando, Afonso também não concorda com o termo ‘tutela’. Para ele, falta uma explicação maior por parte do autor acerca dessa expressão.
Em resposta às provocações, Ibarê recordou que o termo ditadura foi banalizado devido ao uso pela ciência política desde o século 18. Ele prefere a distinção feita por um dos autores da Escola de Frankfurt entre democracia, autoritarismo e totalitarismo. E enquadrou o período da "tutela militar" como autoritório, em razão da existência ainda de uma sociedade civil que conseguiu se articular de modo a derrubar o próprio regime autoritário e de eleições, mesmo que controladas.
Memorial da Democracia
“A história tem que ser vista também como intervenção política e, como historiador, não poderia deixar passar o cinquentenário da Ditadura Militar”, confessa Fernando Sá. A partir dessa premissa, o professor propôs ao Conselho Superior da UFS a “construção de um lugar de memória que reivindique a defesa da democracia, aludindo, principalmente, a resistência individual e coletiva daqueles que combateram o autoritarismo da ditadura civil-militar, motivado pela efeméride dos 50 anos do golpe de 1964”.
Confira o projeto arquitetônico do Memorial.
O Conselho Universitário, considerando que a defesa da democracia do direito à memória é um dos princípios básicos da cidadania no Brasil, criou, através da Resolução n° 25/2014, a comissão para viabilizar o projeto arquitetônico, urbanístico e artístico visando a construção do Memorial da Democracia, um lugar de memória que reivindicasse a defesa da democracia na UFS.
"Como gestor dessa instituição, sinto-me honrado por lançar esse Memorial. Tenho orgulho de participar desse momento histórico que pode muito contribuir para o fortalecimento da democracia, um bem simbólico que tem melhorado a vida de milhares de sergipanos nos últimos 30 anos", disse o reitor Angelo Roberto Antoniolli.
Também esteve presente, apresentando a proposta arquitetônica, urbanística e paisagística do memorial, o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e autor do projeto, Cezar Henrique Matos e Silva.
Lançamento de livro
No final da tarde, no hall da Reitoria, familiares, amigos e membros da Universidade Federal de Sergipe se reuniram para prestigiar o lançamento da segunda edição do livro de Ibarê Dantas “A tutela militar em Sergipe”. Segundo o professor Afonso Nascimento, “não existe nenhuma outra obra de conjunto sobre a ditadura militar no estado”.
De acordo com o autor, a publicação é uma “tentativa de lembrar os acontecimentos e resgatar essa história na busca da verdade”. Tal busca o levou a entrevistar 62 pessoas, o que tornou ainda mais rico o seu estudo.
Considerado uma das maiores contribuições de Ibarê para a sociedade e história do estado, o livro, que tem como foco os “partidos e eleições no período autoritário”, foi lançado pela primeira vez em 1997 e relançado neste ano pela Editora UFS. O escritor ressalta que quase nada foi alterado na nova edição.
“Meu livro, de alguma forma, destoa da literatura que vem sendo publicada nessa comemoração cinquentenária, sobretudo, através dos dois conceitos que mantive, mas que grande parte dos historiadores não adotam”, avalia.
Ascom
comunica@ufs.br


Atualizado em: Ter, 02 de dezembro de 2014, 09:13
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