João Paulo Gama Oliveira
Diante de uma tendência que se espalhava pelo país desde a década de 1930, funda-se em Sergipe uma Faculdade de Filosofia, no alvorecer dos anos 1950, denominada Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe – conhecida carinhosamente como FAFI – com o objetivo principal de formar professores para os ensinos secundário e normal. Inicialmente, a FAFI ofertou o curso de Geografia e História, como também os cursos de Matemática e Filosofia, que deixaram de funcionar em 1957. Em 1952 começaram as atividades do curso de Letras Neo-Latinas e no ano seguinte, de Letras Anglo-Germânicas.
Ocupou o prédio do Colégio Nossa Senhora de Lourdes (durante o período de 1951 a 1959), espaço físico cedido pela Congregação das Religiosas do Santíssimo Sacramento, situado na rua Itabaianinha, nº 586, das 18h às 22h30, localizada no centro da cidade de Aracaju – SE, tendo como seu primeiro diretor o padre Luciano José Cabral Duarte. Assim, no dia 25 de março de 1951, ocorreu sua aula inaugural; e para o início efetivo das atividades, organizou-se um grupo de professores, com experiência na docência e reconhecidos no âmbito educacional, convidando-se principalmente professores do Atheneu Sergipense e docentes que já atuavam em outras instituições de ensino superior do estado para lecionar no primeiro espaço de formação de professores em nível superior em terras sergipanas.
Os pioneiros docentes da instituição desdobravam-se para ensinar nos diferentes cursos e disciplinas da faculdade. Eram intelectuais que circulavam nos diversos espaços da sociedade sergipana, alguns membros da Academia Sergipana de Letras e/ou do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, e seus nomes figuravam constantemente em artigos publicados na imprensa local; outros escreviam livros, assumiam cargos na política e trilhavam os caminhos do magistério em diversas instituições. Distante das práticas de especialização, os professores lecionavam por afinidade com as disciplinas, pela sua formação ampla e experiência no ensino, ou mesmo para suprir as lacunas existentes no quadro docente da instituição.
Já em 29 de março de 1959, a faculdade deixa o espaço do Colégio Nossa Senhora de Lourdes para construir um novo ciclo na sua história no “Prédio da Rua de Campos” – o prédio do atual Instituto de Previdência do Estado de Sergipe. Cravada na mente dos seus ex-alunos, ex-professores e guardada na memória da sociedade sergipana, a FAFI formou dezenas de profissionais, congregou palestras, enviou professores para outros estados do país e para o exterior, com o intuito de que eles pudessem aperfeiçoar-se e melhorar a qualidade do ensino na instituição.
A FAFI era uma faculdade católica, particular – cujas mensalidades eram de baixo custo, contando com o apoio de subvenções públicas para existir – , localizada na cidade de Aracaju dos anos 1950. O número de alunos por ano variou entre o mínimo de 19 matriculados no primeiro ano de funcionamento e 77 em 1959. Esses alunos por vezes já se conheciam, e suas famílias eram amigas. O padre que dirigia a instituição era o mesmo que celebrava a missa dominical frequentada por alunos e professores. Os docentes muitas vezes eram antigos vizinhos dos seus alunos, amigos dos seus pais ou mesmo com um grau de parentesco. É dentro desses largos traços, de um quadro difícil de desenhar, que a FAFI precisa ser vislumbrada diante dos olhos de quem a “observa” mais de meio século depois de criada e também há muitas décadas já extinta.
Mesmo assim, a FAFI formou dezenas de professores e conseguiu legitimar-se no ensino superior em Sergipe. Foi também a responsável pela formação de um número significativo de intelectuais sergipanos na segunda metade do século XX. Todavia, os escritos sobre a faculdade pouco ou nada falam dos seus problemas, das suas dificuldades e da carência de professores com formação específica que existiam na instituição, do fato de ser uma faculdade católica e estar inserida em uma série de ações que envolveram a Igreja e a educação.
Por ora, podemos afirmar que do Colégio Nossa Senhora de Lourdes ao “Prédio da Rua de Campos”, a FAFI fez florir novos saberes que se espalharam pela sociedade sergipana. Não obstante ter deixado de funcionar em 1967, sendo desmembrada na Faculdade de Educação, no Instituto de Letras, Artes e Comunicação e no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, diante da sua incorporação à Universidade Federal de Sergipe quando esta foi criada, a FAFI permanece viva na mente dos que ali se formaram, dos que conheceram a instituição ou dos que apenas “ouviram falar” dela.
A “antiga FAFI”, como é lembrada pelos seus ex-alunos, é capaz de provocar lágrimas de saudade, sorrisos de pessoas que relembram uma fase da vida, do início da carreira intelectual, ou tão somente de um ambiente agradável em que aqueles então discentes passaram alguns anos de formação profissional e também pessoal. Embora extinta há mais de quatro décadas, e sessenta anos após sua aula inaugural, a “antiga FAFI” perdura na memória de seus sujeitos e se torna nova a cada lembrança, a cada palavra.
O presente artigo faz parte da dissertação intitulada: “Disciplinas, docentes e conteúdos: itinerários da História na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (1951 – 1962)”, defendida em 1º/03/2011 no Núcleo de Pós-Graduação em Educação (NPGED/UFS).
Currículo
Mestre em Educação pelo NPGED/UFS. Tutor do CESAD/UFS e Professor da Faculdade Atlântico
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