Qui, 19 de fevereiro de 2015, 09:49

Tributo a Alan Turing
Tributo a Alan Turing

Henrique Nou Schneider


Quem é esse homem a quem o governo britânico, através do seu Primeiro Ministro em 10 de setembro de 2009, fez um pedido oficial de desculpas público pelo tratamento desumano e preconceituoso, que recebeu perdão real e foi tema de filme (“O Jogo da Imitação”, concorrendo ao Oscar em 8 indicações) recentemente?


Alan Mathison Turing, nasceu em Londres, filho de uma família sem riquezas, em 23 de junho de 1912 e morreu em 7 de junho de 1954, pouco antes de completar 42 anos. Matemático de formação, especializou-se em lógica e criptografia, vindo a ser um dos mais importantes cientistas da computação, cujas contribuições científicas ajudaram a desenvolver o primeiro computador.


De personalidade introspectiva, o que dificultava o trabalho colaborativo, foi forçado a aprender a trabalhar em equipe quando liderou um grupo de criptoanalistas contratados secretamente pelo governo britânico para tentarem quebrar o código de comunicação da frota alemã, gerados pela Máquina Criptográfica Enigma, a qual garantia uma comunicação sigilosa entre o comando do III Heich e a sua frota de submarinos espalhados pelos mares e oceanos, levando a pique os comboios navais aliados de suprimento, fato que estava prejudicando extremamente as ações de guerra destes. Concomitantemente, outras equipes britânicas de matemáticos e criptográficos tentavam descobrir o padrão de codificação Enigma manualmente. Turing acreditava que somente uma máquina poderia quebrar o código secreto gerado por outra máquina. Assim sendo, investiu todo o recurso financeiro dado ao projeto e o conhecimento da sua equipe na construção e aperfeiçoamento de uma máquina de criptografia, inicialmente chamada Christopher (em homenagem ao seu grande amigo nos tempos de internato Christopher Morcon), precursora do Colossus, que utilizava símbolos perfurados em fitas de papel e conseguia processar a uma velocidade de 5 mil caracteres por segundo.


Somente por este feito, Turing já merecia ser agraciado, pois contribuiu fortemente para antecipar a vitória aliada em dois anos, poupando ainda mais vidas humanas. Mas outra importante contribuição de Alan Turing o levou a ser considerado um dos pais da Ciência da Computação: o seu conceito de uma Máquina Lógica de Computação, que depois passou a se chamar Máquina de Turing.


Tudo começou quando Turing foi estudar em Cambridge - Inglaterra e o seu Professor, o grande matemático Max Newman o instruiu sobre a terceira questão do problema de Hilbert, ou seja, o “Problema da Decisão”, que ainda estava sem resposta. A maneira que o Professor apresentou a questão a Turing (“existe algum processo mecânico que possa ser usado para determinar se uma afirmação lógica específica é comprovável?”) o deixou intrigado, particularmente com referência à expressão “processo mecânico”. Após uma das suas habituais corridas à margem do rio Ely no verão de 1935, ele sentou-se entre as macieiras para descansar e pensar sobre a noção de “processo mecânico”, vislumbrando, então, uma máquina imaginária que executasse o tal processo: a Máquina Lógica de Computação.


A Máquina Lógica de Computação, embora muito simples, teoricamente podia executar qualquer computação matemática de qualquer complexidade, desde que recebesse a tabela de instruções adequada. Para responder ao “Problema da Decisão”, Turing sofisticou o conceito de números computáveis: “qualquer número real que fosse definido por uma regra matemática podia ser calculado pela Máquina Lógica de Computação”. Aprofundando o seu raciocínio sobre o “Problema da Decisão”, Turing demonstrou haver também números não computáveis, o que ele relacionou ao “Problema da Parada”, também demonstrado por ele: “não podia existir método que determinasse, a priori, se coordenador uma determinada tabela de instrução combinada com qualquer conjunto determinado de dados levaria a Máquina a dar uma resposta ou ficar executando algum loop indefinidamente”. Ele demonstrou por analogia, que o fato do “Problema da Parada” ser insolúvel significava que o “Problema da Decisão” também o era, publicando o artigo “Sobre Números Computáveis, Com Uma Aplicação ao Problema da Decisão” em 1937. Embora Turing não tenha sido o pioneiro na resposta ao “Problema da Decisão”, o seu artigo repercutiu no meio acadêmico pela idéia da Máquina Lógica de Computação que ele desenvolveu, a qual foi citada na resenha de Alonzo Church, matemático em Princeton, e quem realmente foi o primeiro a chegar a uma resposta para o “Problema da Decisão”, cunhando a expressão “Máquina de Turing”. Assim, aos 24 anos de idade, Alan Turing gravou o seu nome na história da Ciência da Computação, pois o conceito da “Máquina de Turing” foi usado para o desenvolvimento do primeiro computador.


Outra importantíssima contribuição de Alan Turing para a Ciência da Computação em 1950, foi a formulação do “Teste de Turing”, que serviu como impulso para as incipientes pesquisas na área de Inteligência Artificial.


O “Teste de Turing” averigua a capacidade de uma máquina se passar por humano: “há como imaginar um computador digital que faria bem o jogo da imitação?" provocou Turing. Em outras palavras, ao se colocar um computador entre pessoas, todos escondidos de um interlocutor, o computador passa no “Teste” se o interlocutor, após fazer perguntas a eles e receber as respectivas respostas, não conseguir distinguir quem é o computador. De acordo com a WIKIPEDIA, “no dia 8 de junho de 2014 (exatamente um dia após o 60º aniversário da morte de Alan Turing) pela primeira vez um supercomputador conseguiu superar este teste, através de um software chamado Eugene Goostman” desenvolvido em uma Universidade da Rússia. No seu artigo original, ele previa que isto aconteceria até o ano 2000.


Pois bem, este foi Alan Turing, que cometeu suicídio por não agüentar o tratamento para castração química através de hormônios feminino, devido ser condenado por homosexualidade, crime na Inglaterra daquela época. Uma mente brilhante que foi precocemente ceifada. Na WIKIPEDIA lê-se que o perdão oficial da Rainha Elizabeth II lhe foi concedido em 24 de dezembro de 2013, motivado por uma petição de 2012, contendo mais de trinta e sete mil assinaturas encaminhada pelo Ministério da Justiça do Reino Unido à Rainha.


Henrique Nou Schneider é professor do Departamento de Ciência da Computação.



Atualizado em: Qui, 19 de fevereiro de 2015, 10:26
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