André M. C. Souza
Há alguns anos, com grande sucesso de audiência, o canal de TV “Discovery” vem apresentando um programa chamado “caçadores de mito”. Neste programa uma equipe de cientistas busca provar, a partir de experimentos, a veracidade de algumas afirmações que ouvimos corriqueiramente e que nos fazem crer que são verdadeiras. O programa chama isto de mito.
Em educação, somos bombardeados com algumas verdades mitológicas e que, como no programa “caçadores de mito” devemos buscar sua prova. Este trabalho é o primeiro de uma série que trataremos de analisar estatisticamente dados educacionais para caçar mitos em educação.
Um dos mitos que temos ouvido é que a classificação no vestibular tem relação direta com o sucesso do aluno no curso de graduação. Assim, os melhores alunos no vestibular devem se formar mais, enquanto os alunos que passaram nos últimos lugares quase nunca devem terminar seu curso. Este fato deveria ser bem mais acentuado para cursos de ciências exatas e engenharias, em que a taxa de sucesso na graduação está bem abaixo das outras áreas.
O gráfico abaixo mostra a quantidade de formados em função da classificação no vestibular. Analisamos 397 alunos formados nos anos de 2009 e 2010 em 13 cursos* do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da UFS. Como o número de vagas é diferente para diferentes cursos, fizemos uma normalização de modo a caracterizar a colocação de cada aluno entre 1º e 100º. Por exemplo, o aluno que passou em 20º lugar num curso com 40 vagas, tem a mesma colocação de um aluno que passou em 30º lugar num curso de 60 vagas, sendo ambos normalizados para a 50ª posição. O último lugar de cada curso fica na 100ª posição.
Números de formados em 2009 e 2010
Vê-se claramente que o mito da relação direta entre colocação no vestibular e sucesso no curso é falso. A colocação no vestibular dos formados é totalmente dispersa entre todas as colocações. Inclusive, as colocações com mais formados ficam em torno de 60º e 90º lugares, longe dos primeiros. O resultado acima tem grandes conseqüências. Entre as mais importantes podemos avaliar o argumento dos que defendem menos vagas para viabilizar maior sucesso, ou mesmo, pontos de corte no vestibular. Se este argumento for considerado, estaremos tirando a oportunidade de grande parte dos alunos terem um curso superior na nossa universidade, não implicando no aumento da taxa de sucesso de formados. Copiando o programa “caçadores de mito”, podemos dizer: mito detonado.
*Os cursos analisados foram: engenharia civil, engenharia química, engenharia de alimentos, química industrial, física bacharelado, física licenciatura, física médica, engenharia elétrica, matemática bacharelado, matemática licenciatura, química licenciatura, ciências da computação e estatística.
Currículo
Professor da UFS.