Saber Ciência / Cristina de A. Valença C. Barroso
10/09/2009
Na sociedade os museus são representados como organismos que mantém a salvo a memória coletiva. Funcionam como o lugar que guarda uma memória social julgada relevante e que configuram uma versão consolidada de uma lembrança oficial do passado de uma dada sociedade. O museu também se destaca como organismo dinâmico que ao compartilhar a memória proporciona o relacionamento dos sujeitos com o seu passado, com as perspectivas do olhar do outro e, principalmente, com as formas culturais do pensar contemporâneo. Pode-se supor que as relações estabelecidas entre os indivíduos com os espaços museais contribui para a produção de cultura, da memória coletiva e, principalmente, para a inclusão social e cultural.
A inclusão deve ocorrer em um movimento circular. Tanto as pessoas com deficiência podem procurar meios de adaptar suas necessidades à realidade social, assim como a sociedade também deve ser sensível e ajustar-se de modo a contribuir para a equiparação de oportunidades a todos. Dessa forma, proporcionar acessibilidade aos meios culturais é uma via pela qual essa inclusão pode ser efetivada. Aos museus, como instituições culturais, cabe a função de contribuir para a democratização cultural já que lhe é delegado o papel de adquirir, preservar, documentar e comunicar os bens culturais/patrimoniais.
Mas como proporcionar acesso às informações do museu ao deficiente sensorial, físico e mental? Quais estratégias de comunicação devem ser pensadas para que as pessoas com deficiência tenham oportunidade de participar das exposições, publicações ou ações culturais desenvolvidas pelos museus?
A diversidade das deficiências exige que o museólogo desenvolva várias habilidades para apresentar novas formas de perceber os espaços, os objetos e as informações. Ou seja, propor mudanças na idéia de comunicação. Segundo Sarraf, a Nova Museologia defende uma discussão sobre a importância da museologia social, através da qual seja possível ver o museu como instrumento de intervenção social capaz de viabilizar a integração das pessoas com ou sem deficiência à cultura. A museologia social, afirma Sarraf: “defende uma postura diferente do museu em relação à comunidade, com preocupações de caráter social e defesa de uma maior participação da comunidade” (MUSAS. Rio de Janeiro: IPHAN, Departamento de Museus e Centros Culturais, 2006. p.84).
As ações de políticas públicas direcionadas ao campo da cultura compreendem os museus como veículos de preservação, de comunicação e de divulgação dos valores culturais e que servem como fator de afirmação de identidades, de elemento gerador de recursos turísticos e que se presta ao exercício da cidadania. Mas dificilmente efetivam ações focalizadas na implantação de atendimentos especializados para pessoas com deficiência. Verbas, capacitações e projetos de acessibilidade seriam as primeiras ações públicas para garantir que a relação homem/objeto no museu seja mais democrática e, conseqüentemente, mais cidadã.
Nessa direção, o museu enquanto organismo público deve pensar em ações culturais que promovam a educação e a inclusão social. Essa política cultural deve estar em sintonia com as concepções museológicas contemporâneas que inclui no rol das funções tradicionais de pesquisar, preservar e comunicar a importância das ações de responsabilidade social para que seja possível implantar projetos permanentes de acessibilidade, afirma Tojal (Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento. São Cristóvão: Museu de arqueologia de Xingó, 2008).
Essa proposta de inclusão social aumenta não só a parcela de responsabilidade de todos os setores do museu, como também prevê ações que não ficam restritas apenas a ampliação da freqüência de todos os tipos de público, ou mesmo a eliminação de barreiras físicas para o acesso, mas de incluir as concepções de acessibilidade na própria missão do museu corroborando para implementar o papel social dessas instituições culturais.
Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.
Cristina de A. Valença C. Barroso é mestre, professora do Núcleo de Museologia da Universidade Federal de Sergipe.