A situação muda de figura, entretanto, quando deixamos os dados globais e nos debruçamos na análise da concorrência pelas vagas ofertadas por cada opção de curso, como podemos ver na tabela.

Escolhemos um primeiro bloco para exemplificar o imenso predomínio dos egressos da escola pública no preenchimento de nossas vagas. Voltamos a insistir que este é um aspecto por vezes esquecido em análises superficiais, próximas à caricatura, que afirmam que as universidades públicas se tornaram o local de estudo das elites, enquanto as classes menos favorecidas estariam estudando em faculdades e universidades privadas. Na realidade, das 87 opções de cursos oferecidas pela UFS no Vestibular 2009, 44 tiveram a maioria das vagas preenchidas por estudantes egressos da escola privada e 43 outras opções de cursos tiveram suas vagas majoritariamente ocupadas por egressos de escolas públicas.

Estaríamos então diante daquelas situações de muito barulho por nada? Examinemos com mais vagar os números antes de tudo.

Por questão de espaço e comodidade para o leitor listamos, na tabela acima, apenas os extremos dos segmentos onde predominam os egressos da escola privada e o outro segmento onde prevalecem os egressos da escola pública.

Tentaremos mostrar as principais características de cada um desses segmentos. Denominemos de Grupo A o subconjunto dos 44 cursos que no Vestibular de 2009 teve a maioria das vagas preenchidas por egressos da escola privada e de Grupo B o subconjunto dos 43 curso que no mesmo Vestibular teve a maioria das vagas preenchida por egressos da escola pública.

O Grupo A recebeu também uma maioria de inscritos da escola privada, 8.590 candidatos, ou seja, 53,9% dos inscritos no grupo e 82,3% do total de inscritos egressos da escola privada. Os candidatos egressos da escola pública, neste grupo foram 7.358, ou seja, 46,1% dos candidatos do grupo e 50,2% do total dos egressos da escola pública. Portanto, os egressos da escola pública se distribuíram quase igualmente entre os dois grupos quando se considera a inscrição e diferencialmente quando se considera a aprovação nos cursos. Em contraponto, os egressos das escolas privadas parecem revelar preferência pelo segmento em que terminaram tendo mais êxito, quando confrontado com os egressos da escola pública.

Vejamos mais diferenças entre os grupos A e B. A primeira característica do Grupo A é um predomínio absoluto dos bacharelados quanto ao tipo de habilitação propiciado ao final do curso, pois há nesse 41 bacharelados e apenas 3 licenciaturas. A segunda característica é o forte predomínio dos cursos diurnos, 39, contra 5 cursos noturnos. A terceira característica é o predomínio dos cursos ofertados nos Campi de São Cristóvão e de Aracaju, ou seja, no entorno da Capital, com 42 cursos enquanto um curso estava localizado em Laranjeiras e outro em Itabaiana.

Finalmente, todos os cursos de engenharia e todos os cursos da área da saúde estão no Grupo A. Ou seja, esse grupo abrange os cursos que exigem maiores investimentos materiais (laboratórios, ambulatórios, hospitais, bancadas mais complexas) e de pessoal técnico e docente em maior quantidade. Há também nesse segmento alguns cursos de elevado prestígio social, mas de relativamente baixos custos, como por exemplo, os cursos de Direito, de Administração e de Relações Internacionais.

Vejamos agora as características do grupo B, ou seja do segmento de 43 opções de cursos nas quais predominam os egressos das escolas públicas entre o estudantes classificados. Este grupo teve um total de 9.169 candidatos inscritos, dos quais 7.324 egressos da escola pública, ou seja, 79,9% dos inscritos no grupo e, 1.845 inscritos egressos da escola privada, ou seja, 20,1% dos inscritos no grupo. Quanto aos aprovados neste grupo, 1.529, ou 75,5% foram egressos da escola pública e 579 ou 27,5% foram egressos da escola privada.

Em contraste com o Grupo A, no Grupo B predominam quanto às habilitações, as licenciaturas, 29, contra 14 bacharelados. Quanto á distribuição dos turnos de funcionamento, 23, ou 53,5% dos do grupo são ofertados no período diurno e 20, ou 46,5% dos cursos são ofertados no período noturno. Para ficar mais clara a importância dos cursos noturnos no grupo B, lembremos que no grupo A apenas 5 cursos são ofertados no período noturno, ou seja, se consideramos a distribuição dos cursos noturnos entre os dois grupos, 80% deles pertencem ao grupo B e 20% ao grupo A.

Quanto à distribuição por campi universitários, os campi do interior, Itabaiana com 9 dos seus 10 cursos e Laranjeiras com 4 dos seus 5 cursos estão muito bem representados no grupo, assim como São Cristóvão com 30 cursos. O Campus da Saúde, situado em Aracaju, não possui nenhum curso neste grupo.

Resumidamente: a maioria dos inscritos no Vestibular 2009 da UFS, 58,4%, eram egressos da escola pública, enquanto a maioria das vagas ocupadas, no mesmo ano, 51,5% foram por egressos da escola privada. Este percentual, apesar de elevado parece contrariar um senso comum de inacessibilidade da UFS aos egressos da escola pública, visto que sua participação, 48,5% esteve próximo da meta da reserva de vagas. Estes números globais, entretanto, escondem diferenças significativas entre dois grupos de cursos que identificamos como grupos A, onde predominam os egressos da escola privada e o B, onde predominam os egressos da escola pública. O grupo A é caracterizado pela marcante presença dos bacharelados, pela predominância dos cursos diurnos, pela exclusividade dos cursos de engenharia e dos cursos da área de saúde, pela forte presença dos cursos ofertados nos Campi de São Cristóvão e de Aracaju. Por seu lado, o grupo B é caracterizado pela forte inscrição de candidatos da escola pública, os quais terminaram ficando com a maioria das vagas preenchidas. Seus cursos têm grande participação das licenciaturas, se distribuem entre os campi dos municípios do interior (Itabaiana e Laranjeiras) e São Cristóvão, mas não tem participação dos cursos do Campus da Saúde, em Aracaju.

No próximo artigo nos deteremos nos prováveis impactos da reserva de vagas sobre os cursos dos dois grupos.

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