Quando o então Inspetor Geral da Instrução Pública, Manuel Luiz Azevedo d'Araujo, organizou o Regulamento Orgânico da Instrução Pública criando em 24 de outubro de 1870 o Atheneu Sergipense, possivelmente não previa tão grandioso alcance.

O Atheneu Sergipense foi um precioso presente para a cidade de Aracaju de Inácio Joaquim Barbosa ao completar seus quinze anos, oferecendo os Cursos de Humanidades e o Normal. Iniciou seus trabalhos em uma casa oferecida pela Câmara Municipal, um local inadequado e sem as acomodações necessárias. Novo prédio foi erguido com contribuições dos sergipanos para a sua instalação em dezembro de 1872, situado na Praça da Conceição. Por volta do final do século XIX mudou-se para a Rua de Boquim e em agosto de 1926 mais uma mudança, agora para o suntuoso prédio da Avenida Ivo do Prado. Finalmente o Atheneu Sergipense instalou-se no ano de em 1950 no atual local, à Praça Gracho Cardoso.

Qualquer que tenha sido o espaço que essa "Casa de Educação Literária" exerceu suas funções, uma farta documentação produziu decorrente de suas ações administrativas e pedagógicas.

O patrimônio arquivístico do Atheneu Sergipense possui um leque de documentos que reflete a vida da própria instituição e que contribuem sobremaneira para sua existência histórica. São livros de atas, livros de matrículas, livro de ponto, cadernetas de notas e de aulas, correspondências expedidas e recebidas, ficha de alunos, provas de concursos, registro de visitantes, dentre outras documentações de relevância incalculável que persistem em permanecer na instituição, sem a ação danosa dos homens para levá-las para os seus acervos pessoais.

A situação encontrada no arquivo do Atheneu Sergipense não era das melhores: os documentos mais antigos apresentavam-se em deterioração progressiva, bastante descuidados e relegados a condições insalubres de conservação. Isso não podia continuar. Tal riqueza documental devia ser preservada e organizada, a fim de oportunizar aos pesquisadores e a toda sociedade o manuseio do rico acervo de modo a desencadear estudos dentro da História da Educação. Assim, ouvindo o alerta "cuidado tem gente aqui", foi apresentado em 2005 o projeto denominado “Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense - CEMAS", aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Sergipe (a extinta FAP-SE, hoje Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe – FAPITEC-SE), contemplando alunas bolsistas de Iniciação Científica Júnior (FUNTEC/SE/CNPq). O mesmo apresentava como objetivos realizar o levantamento e a catalogação das fontes documentais produzidas pelo Atheneu Sergipense, no período de 1870 a 1950 e a realização de uma exposição comemorativa dos 135 anos de história do Atheneu Sergipense.

O projeto concluiu suas atividades com êxito, porém se fez necessário encaminhar em 2008 nova proposta, para o Edital PROEXT/MEC/CULTURA. Aprovado e em desenvolvimento, o projeto tem como promotoras a Universidade Federal de Sergipe e a Fundação de Apóio à Universidade Federal de São João Del Rei, patrocinadora a Petrobrás S.A, o apoio da FAPITEC/SE e realizadores os Ministérios da Cultura e da Educação do Governo Federal.

O principal objetivo consiste em preservar os vestígios escritos ou não, o testemunho histórico e os documentos produzidos pelo Atheneu Sergipense, além de criar informações necessárias para salvaguardar o patrimônio cultural e manter exposição permanente da memória educacional e social do Atheneu Sergipense que é parte significativa da História da Educação do Estado de Sergipe.

O trabalho não pára. Atividade como a digitalização do acervo documental a fim de manter conservados os originais e facilitar o acesso dessa documentação aos pesquisadores, será realizado. É propósito, ainda, construir página do CEMAS na Web, de modo a disponibilizar virtualmente o acervo documental da instituição, organizar um banco de dados de modo a facilitar o manuseio das fontes. Estas são as próximas ações a serem realizadas pelo Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense.

É importante ressaltar que a conservação dos documentos históricos produzidos pelas instituições escolares é fundamental não só para a memória da escola, mas também para memória daqueles que por ela passaram. A memória, como lembra Nora (1993), é a vida em permanente evolução, carregada por grupos vivos, permeada pela lembrança e pelo esquecimento. Na história, a reconstrução, que se imagina proceder é sempre problemática e incompleta, daquilo que não existe mais.

Eis, pois o presente para o Atheneu Sergipense, a criação do CENTRO DE EDUCAÇÃO E MEMÓRIA DO ATHENEU SERGIPENSE.

Currículo
Professora do Departamento de Educação, Coordenadora do Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe
E-mail: evas@ufs.br