Seg, 26 de setembro de 2011, 13:25

Desequilibrio territorial em Sergipe I
Desequilibrio territorial em Sergipe I

Saber Ciência /Neilson S. Meneses


08/06/2010
Até os anos 70 do século passado, Sergipe era um Estado predominante rural e sua base econômica estava assentada em uma agricultura pouco modernizada e uma industrialização ainda incipiente concentrada em alguns poucos municípios, a exemplo de Aracaju e Estância.
Entretanto a partir desta década, começa um processo de modernização da economia sergipana estimulados pela política industrial da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e pelos efeitos da chegada da Petrobras ao Estado. Além disso, nessa década também se inicia um processo de modernização da agricultura sergipana com projetos de irrigação e estímulo a produção de frutas para as recém chegadas agroindústrias de exportação de suco concentrado.
Tudo isto resulta em um processo de urbanização crescente e contribui no redirecionamento, em boa parte, dos fluxos migratórios para áreas urbanas do próprio Estado, especialmente para a capital Aracaju, município que recebe o maior número de migrantes
É no contexto dessa evolução urbana e industrial que se amplia a questão das assimetrias e desequilíbrios territoriais no Estado. Em 1970, mais da metade da população sergipana, 53,9 %, vivia na zona rural. Já em 2007, segundo dados do FIBGE, 72,3 % vivia nos centros urbanos, transformando profundamente a realidade do Estado. Essas transformações aceleradas afetaram, entre outras coisas, a distribuição demográfica e econômica e colocaram em evidência a problemática da centralização versus descentralização e da concentração administrativa versus a proximidade decisória.
O processo de urbanização contínuo entre 1970 e 2007 apresenta como uma de suas principais características a concentração territorial da população. Segundo dados do censo 2000 (IBGE) 56,2% da população urbana sergipana vive em apenas 5 cidades (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, Itabaiana e Estância) com mais de 50 mil habitantes e que representam apenas 5,3% do total de cidades. Três destas cidades (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão) junto com o município da Barra dos Coqueiros formam a chamada grande Aracaju que concentra em seu entorno atualmente (2007) 39,2 % da população.
Ocorre também uma concentração em termos de população total, já que em tão somente em 6 municípios, com mais de 50 mil habitantes do Estado (Aracaju, Nossa senhora do Socorro, Lagarto, Itabaiana, São Cristóvão e Estância) concentram-se mais da metade da população 50,3%, segundos dados da contagem populacional 2007. Comparado com os dados da década de 70 quando 39,6% da população viviam nos 6 municípios mais populosos, verifica-se que o processo de urbanização tem levado a uma concentração territorial da população, tanto em termos de população total quanto em termos de população urbana, gerando as assimetrias relacionadas à distribuição populacional, que associadas ao processo de transição demográfica que a população sergipana atravessa, tem contribuído inclusive para tendência de surgimento de vazios demográficos na zona rural sergipana.
A exigüidade do território sergipano que não exige percorrer grandes distâncias para chegar até as áreas de concentração econômica e a existência de um sistema de comunicações (estradas) que permite manter bons contatos com estas áreas, inclusive em vários casos mais facilmente com estas que com as demais áreas ou municípios, contribui para manter o desequilíbrio na distribuição espacial da população.
Entretanto as assimetrias não dizem respeito apenas à dimensão demográfica, mas também envolvem a dimensão econômica, sendo as duas dimensões interrelacionadas, já que o fator econômico é dos fatores explicativos da distribuição da população. Contudo este aspecto, assim como os impactos do desequilíbrio territorial e propostas para sua correção serão analisadas nas próximas duas edições desta Coluna.


Currículo
Professor Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe.


Atualizado em: Seg, 26 de setembro de 2011, 13:26
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