A abertura da exposição 'Ontem é Hoje', do artista visual Elias Santos, aconteceu na noite da última quarta-feira, 28, às 19h, no Centro Cultural da Universidade Federal de Sergipe (Cultart). Com curadoria da professora Marjorie Garrido Severo, do Departamento de Artes Visuais (DAVD/UFS), a mostra convida o público a refletir sobre o tempo, a memória e a existência por meio de obras que rompem com o formato tradicional e propõem novas possibilidades de interação com a arte.
Composta por gravuras de grande formato em papelão e esculturas em alto-relevo, a exposição retira as obras das paredes e as coloca no chão, promovendo uma experiência sensorial que estimula o toque e convida o visitante a refletir — até fisicamente — sobre as camadas simbólicas da vida. O uso recorrente da figura do cachorro de rua não é aleatório: representa a marginalidade, o abandono e a repetição sufocante do cotidiano.
“O cachorro vira-lata é um símbolo de quem está à margem, vencido pela rotina e pelo esquecimento. Ele está lá, deitado num sofá, não por escolha, mas porque a vida o forçou a parar”, explica Elias Santos.
A curadora destaca que o projeto foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo e contou com o apoio da UFS, o que reforça o papel da universidade como promotora da cultura e da democratização do acesso à arte. “A exposição não segue a lógica tradicional. É acessível ao toque, com elementos tridimensionais que provocam o olhar e o corpo. É um convite à reflexão sobre o lugar do outro, sobre o tempo que se repete e sobre as pessoas que não são vistas”, ressalta a professora Marjorie Severo.
A acessibilidade é um dos pilares centrais da mostra. Com consultoria da professora Rita de Cácia Souza, especialista em inclusão, a exposição foi cuidadosamente pensada para contemplar diferentes públicos. Entre os recursos disponíveis estão intérpretes de Libras, audiodescrição em áudio e em texto, materiais em braille, esculturas táteis em diferentes alturas e sinalizações no piso para pessoas com baixa visão.
“Pensar acessibilidade é pensar para todos. Quando tornamos a arte acessível, ampliamos o entendimento e o envolvimento de todos os públicos, não apenas daqueles com deficiência”, afirma Rita de Cácia.
A montagem da exposição também contou com o apoio de estudantes, que auxiliarão no acompanhamento de visitantes com necessidades específicas. A proposta busca quebrar o mito de que a arte não é para todos e promover o chamado 'desenho universal', uma forma de incluir e acolher a diversidade de experiências.
Entre os visitantes presentes na abertura esteve Haroldo Sousa, ex-aluno de Elias Santos, que recorda com carinho os ensinamentos do artista:
“Ele me ensinou a retratar. Já desenhava antes, mas aprendi muito com ele sobre como dar vida aos traços. A relação dele com os cachorros sempre esteve presente nas obras, é algo que ele carrega com muita verdade”.
'Ontem é Hoje' estará aberta à visitação no Cultart até o dia 13 de junho, com entrada gratuita.
Brunna Martins - Ascom UFS