Qui, 14 de agosto de 2025, 15:50

Caminho não é atalho: UFS inicia construção coletiva de políticas de ações afirmativas
Universidade estrutura conjunto de programas e políticas voltados à permanência com dignidade e ao enfrentamento de desigualdades raciais e sociais
 (Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) está trilhando um caminho de propósitos e legados. Se antes o foco sobre as cotas raciais era diretamente ligado ao acesso ao ensino superior, agora a UFS dá um passo adiante e começa a estruturar uma política institucional permanente de ações afirmativas. O objetivo é direto: garantir não só a entrada, mas a permanência com dignidade de estudantes negros, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência e demais grupos em situação de vulnerabilidade.

Para além de uma campanha de conscientização, está sendo construída, com envolvimento direto de diferentes setores, uma política com programas, projetos e diálogo com a comunidade acadêmica. A iniciativa é liderada pela Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assuntos Estudantis (Proae/UFS), e conta com as coordenações de Ações Afirmativas (CAAF/UFS) e de Ações Inclusivas (Coai/UFS). Essa pró-reitoria, criada pela atual gestão, é responsável por desenvolver e implementar políticas e programas que visam promover a inclusão, diversidade e a equidade dentro da instituição. “Não estamos apenas respondendo a uma demanda externa. Estamos propondo uma política que parta da escuta da nossa comunidade e da responsabilidade pública da universidade”, afirma o pró-reitor da Proae em exercício, Charles Estevam.

A nova política institucional surge com o entendimento de que garantir o acesso é apenas o primeiro passo. O desafio seguinte, e tão importante quanto, é manter os estudantes na universidade com suporte real para atravessar o percurso da graduação.“Muitos alunos vêm para a universidade com dificuldades reais: não têm como pagar o transporte, a alimentação, os materiais. Estamos trabalhando para que a UFS seja um espaço de acolhimento e suporte”, explica Charles. “Em 100 dias de gestão, conseguimos reajustar auxílios que estavam congelados há mais de uma década. Mas sabemos que é só o começo”.

Do caminho sem atalhos: programas, formações e mudanças

À frente da Coordenação de Ações Afirmativas, a professora Tereza Cristina Martins juntou os pontos da sua vivência como mulher quilombola, estudante, professora e gestora e apresentou um conjunto robusto de projetos propositivos a respeito das demandas da população das Ações Afirmativas na UFS. Entre eles estão os programas Ubuntu, Enfrentamento às Múltiplas Violências e Igualdade de Oportunidades, todos estruturados em eixos que envolvem ensino, pesquisa, extensão, formação de servidores (técnicos e terceirizados), revisão curricular e articulação com a sociedade civil.

A intenção da professora Tereza com esses projetos é fazer com que a política de cotas e as Ações Afirmativas não sejam tratadas como eventos pontuais, e sim que se torne um alicerce bem estruturado na universidade e que enraíze, tornando-se um trabalho que siga seu curso independente de quem esteja à frente da gestão. "Estamos trabalhando para criar raízes prósperas com colheitas muito objetivas. As ações afirmativas não são eventos pontuais. Elas precisam atravessar toda a estrutura da universidade. Do currículo à seleção de servidores. Da pesquisa à convivência cotidiana”, afirma a professora.


Tereza Cristina Martins é coordenadora da CAAF/UFS (Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
Tereza Cristina Martins é coordenadora da CAAF/UFS (Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

Entre os projetos já em curso está a CAAF Itinerante, um canal de escuta ativa com a comunidade acadêmica, que tem promovido encontros com coletivos, núcleos, grupos de estudantes e servidores para construir uma política baseada na participação.

Com a política em construção e a campanha em andamento, a UFS reafirma seu papel como espaço de transformação social e de combate às desigualdades. “É preciso explicar de forma didática porque essas ações são necessárias. Não se trata de criar privilégios, e sim de reparar distorções históricas. A informação tem que ser acessível e pedagógica”, diz Charles Estevam.

“Não basta ter as cotas no ponto de partida. O ponto de chegada é fundamental para a gente verificar se realmente está conseguindo atingir e beneficiar essa população”, afirma Tereza Cristina. “É por isso que essa política precisa ser construída coletivamente e enraizada em tudo o que a UFS faz: no ensino, na pesquisa, na extensão e no cuidado com as pessoas".

O caminho é longo, mas os primeiros passos já estão sendo dados — e com direção.

Ascom UFS


Atualizado em: Qui, 14 de agosto de 2025, 17:53
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