Embora os avanços tecnológicos estejam cada vez mais evidentes em diversos tratamentos médicos, a prevenção ainda é a forma mais eficiente no combate a doenças. Sendo assim, em 2006, os departamentos de Medicina e Informática da UFS desenvolveram um software capaz de fazer uma triagem de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) com pé diabético.
O programa tem como base avaliar o desenvolvimento da diabetes melitus através de sinais clínicos primários, perguntas e exames mais específicos a fim de que a ulceração e, em casos mais graves, a amputação do pé do paciente sejam evitadas. “Nosso objetivo é utilizar uma ferramenta de informática com inteligência artificial a favor do trabalho das equipes de saúde no monitoramento de pacientes com pé diabético, evitando que eles tenham seus pés amputados, já que a ulceração precede a amputação em 95% dos casos. Dessa forma, com o preenchimento adequado das informações de cada paciente é possível direcioná-lo ao tratamento mais eficaz”, explica a coordenadora do projeto, professora Karla Rezende Freire.
Instalado no Centro de Especialidades Médicas (CEMAR) em 2008, o software representa a primeira etapa do projeto: a de categorização dos pacientes diabéticos em três estágios (normal, em risco ou pé ulcerado). Só com esse diagnóstico será direcionada uma conduta para o tratamento. “É a partir do diagnóstico de pacientes com pés ulcerados que daremos início à segunda fase do projeto, que consiste no acompanhamento do paciente hospitalar e ambulatorial do Hospital Universitário (HU). É como se estivéssemos seguindo o paciente do SUS pelo sistema”, esclarece a professora.
Para os pacientes, a categorização é bastante satisfatória. A dona de casa Ana Souza, 54, foi categorizada com diabetes há cerca de um ano e, ao ser diagnosticada como paciente em risco, deu início ao tratamento. “Com algumas informações dos exames e da minha conduta alimentar, o programa mostrou que as minhas taxas de açúcar estavam além do normal e que era preciso ter cuidado. Fiquei aliviada ao ser informada logo sobre o problema e evitar complicações”, disse.
Mas, infelizmente, nem todos têm a sorte de Dona Ana. Aos 48 anos, J.A.S, paciente que não quis ser identificado, teve seu pé esquerdo amputado devido a uma ulceração elevada. “Eu não sabia que essa doença era tão grave a ponto de me tirar um pé. Minhas filhas chegavam a esconder alguns alimentos de mim, mas sempre comia escondido. Quando vi, já não dava mais jeito”, lamenta.
Dados recentes do Ministério da Saúde mostram que 2 a cada 3 brasileiros diagnosticados com diabetes estão com as taxas de glicemia descontroladas. “São esses os pacientes que devem ser avaliados frequentemente e com mais atenção”, ressalta a professora Karla Rezende.
Como o pé é danificado?
A glicemia é a quantidade de glicose (açúcar) encontrada no sangue, mais precisamente no plasma sanguíneo (a parte líquida). O nível elevado dessa substância pode danificar o sistema nervoso, que transmite sinais do cérebro para todo o corpo e, em sentido contrário, detecta informações sobre o ambiente e a forma como ele afeta o organismo através dos sentidos.
Quando os nervos estão em disfunção, processo conhecido como neuropatia, uma série de deficiências pode ocorrer em todo o corpo, já que o cérebro não consegue enviar corretamente suas mensagens. No caso de diabéticos, são os pés que não conseguem levar essas informações, fazendo com que cortes, batidas e ferimentos graves passem despercebidos, sem a identificação de qualquer dor. Por isso as feridas constantes e não perceptíveis. Além disso, há um grande índice de má circulação sanguínea em pacientes diabéticos, fazendo com que as ulcerações se agravem.
“Ao detectarmos o paciente com nervos destruídos, automaticamente categorizamos o risco e as intervenções podem ser feitas de maneira precoce”, explica Karla Rezende.
Jéssica Vieira
Ascom UFS
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