Sex, 23 de setembro de 2011, 12:46

Sustentabilidade de uso dos recursos hídricos no Baixo Rio São Francisco
Sustentabilidade de uso dos recursos hídricos no Baixo Rio São Francisco

Saber Ciência / Arisvaldo V. M. Jr. e Rogério M. Chagas


20/07/2009


A idéia de desenvolvimento sustentável é mundialmente aceita como o modelo mais adequado para garantir condições satisfatórias de sobrevivência do homem nos diversos ecossistemas do planeta. Neste contexto, os recursos hídricos assumem grande importância pelo fato de se constituir em insumo básico para diversas atividades econômicas. Os potenciais conflitos pelo uso da água representados pelos diferentes usos evidenciam a necessidade da adoção de uma política de gestão integrada dos recursos hídricos.


O Rio São Francisco assume importância estratégica para o desenvolvimento sócio-econômico do Estado de Sergipe. A vazão atual retirada do rio para abastecimento público e industrial é de 1,147 m3/s. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a quantidade de água per capita necessária ao atendimento de todas as necessidades de consumo e higiene é de 100 l/dia. Desconsiderando as perdas e assumindo o uso exclusivo para abastecimento público, a vazão atualmente captada daria para abastecer 990 mil pessoas, 45% da população do Estado. A relação entre a vazão média do rio e aquela que é retirada para satisfação das demandas do Estado é de 39%, situação considerada crítica pelas Nações Unidas, exigindo intensa atividade de gerenciamento e grandes investimentos.
As principais atividades econômicas do Baixo São Francisco são a agricultura, a pecuária, a pesca e a aqüicultura. A maior retirada de água é para irrigação. No Estado são retirados 3,18 m3/s para irrigação. A baixa eficiência de uso da água, a ausência de práticas de manejo agrícolas sustentáveis, o desmatamento, a ocupação das planícies de inundação e da mata ciliar, o despejo de efluentes doméstico e industrial, a contaminação da água com resíduos de fertilizantes e agrotóxicos usados na agricultura, a regularização das vazões do rio pelas barragens e a construção de diques para controle das cheias contribuem para acelerar os processos de erosão, reduzir a produtividade agrícola, provocar desequilíbrio no ecossistema, em especial nas populações aquáticas, ameaçando a reprodução de espécies de peixes nativas.
As maiores barragens (Três Marias - 1962 e Sobradinho - 1979) foram construídas essencialmente para geração de energia elétrica e para o controle das cheias. As cheias são eventos hidrológicos importantes e apresentam uma função ecológica indispensável à renovação e manutenção da população de várias espécies de peixes que utilizam as lagoas marginais como berçários naturais por ocasião das inundações. As cheias também são responsáveis pela deposição de nutrientes nos solos localizados na planície de inundação do rio. Estes solos após cada evento de cheia tinham sua fertilidade renovada, sendo aproveitados pelos agricultores durante o período das baixas vazões para exploração de algumas culturas adaptadas a tais características. Algumas dessas várzeas, localizadas no lado sergipano, abrigam os perímetros irrigados de Propriá, Cotinguiba-Pindoba e Betume que exploram basicamente a rizicultura e a piscicultura. A sazonalidade dos eventos de altas e baixas vazões, que caracteriza o regime hidrológico natural dos rios, é motivo de preocupação para os irrigantes porque compromete as operações de captação e de drenagem dos perímetros.
As intervenções ocorridas na bacia ao longo dos anos têm modificado a dinâmica natural das vazões e do ecossistema aquático e isso tem provocado um elevado custo ambiental que poderá comprometer a disponibilidade hídrica na região. Há uma preocupação constante quanto à garantia da disponibilidade hídrica do Rio São Francisco para seus potenciais usuários em decorrência da intensa exploração de suas águas. Atualmente, essa preocupação é discutida por pesquisadores de diversas instituições para que se determine uma vazão que pudesse atender os diversos usos da água do rio e também que garantisse a manutenção das relações dinâmicas entre os processos hidrológicos e os ecossistemas integrantes da bacia. Essa vazão é denominada de “vazão ecológica” que deve se referir a um regime de vazões capaz de manter os processos fluviais, a ciclagem de nutrientes e o fluxo de energia no ecossistema.
As ações relacionadas à gestão integrada dos recursos hídricos devem ter como prioridade principal a garantia de água em quantidade e qualidade suficientes para os potenciais usuários. Tais ações só podem ser aplicadas quando há dados representativos dos processos biofísicos, uma capacidade de análise dos mesmos e uma gestão eficiente dos recursos hídricos. É essencial que haja uma parceria mais eficiente entre instituições de ensino e pesquisas e o órgão gestor federal e estadual na região do Baixo São Francisco para que se amplie efetivamente a rede de monitoramento climático, hidrológico e ambiental na região, se criem ferramentas de análise para auxílio à gestão e se desenvolvam meios para melhorar a capacitação técnica. Essas ações são fundamentais para minimizar riscos futuros de restrições no fornecimento de água para a população, a produção de alimentos e as indústrias.
O grande desafio é equacionar exploração e preservação para garantir um uso sustentável dos recursos hídricos. É preciso identificar estratégias e diretrizes que harmonizem a vocação dos ecossistemas com as formas de ocupação da bacia hidrográfica, capazes de assegurar a sustentabilidade da produção de alimentos, bem como a exploração racional dos recursos naturais, viabilizando assim um modelo diferenciado de gestão no qual o bem estar do homem e o respeito ao meio ambiente sejam priorizados.

Prof. Dr. Arisvaldo Vieira Mello Jr. é do Departamento de Engenharia Agronômica, UFS.
Rogério Moreira Chagas é Eng. Agrônomo, Mestrando em Agroecossistemas, NEREN, UFS.

Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.


Currículo
Prof. Dr. Arisvaldo Vieira Mello Jr. é do Departamento de Engenharia Agronômica, UFS.
Rogério Moreira Chagas é Eng. Agrônomo, Mestrando em Agroecossistemas, NEREN, UFS.


Atualizado em: Sex, 23 de setembro de 2011, 12:48
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