Sex, 23 de setembro de 2011, 12:55

Usinas Nucleares: Uma solução viável
Usinas Nucleares: Uma solução viável

Saber Ciência / Ana Figueiredo Maia


20/07/2009



A demanda de energia no país é crescente e o aumento do poder de geração de energia no Brasil é fundamental para garantir o crescimento econômico. Entretanto, o grande desafio atual é aumentar a capacidade de geração de energia, sem provocar mais danos ao meio ambiente. E é exatamente devido à ameaça crescente do aquecimento global que a energia nuclear voltou à tona sendo apontada, muitas vezes, como a melhor solução disponível para diminuir os danos causados pela geração de energia por meio das termoelétricas.
Muitas razões justificam este novo encantamento. A principal é o fato das centrais nucleares não emitirem gases que aumentem o efeito estufa. Além disso, as centrais nucleares independem das condições climáticas para geração de energia, o que as torna extremamente confiáveis, e sua instalação demanda um espaço territorial muito pequeno, o que as torna mais versáteis.
No mundo todo, o objetivo maior é a diversificação da matriz energética, com fontes que não contribuam para agravar o aquecimento global. Não é possível desperdiçar os recursos naturais, como o sol, o vento e as águas. Contudo, a soma de todas estas fontes ainda não é capaz de substituir a geração de energia por meio de termoelétricas (66% de toda a energia gerada no mundo) e a resistência em aceitar a opção nuclear como parte fundamental na matriz energética no mundo pode resultar em danos irreversíveis ao planeta.
Quando o tema é usinas nucleares, os assuntos mais comentados, principalmente pelos seus opositores, são as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e o acidente de Chernobyl. O apelo popular destes argumentos é inegável, mas não há chances nem de ocorrer outro acidente como o de Chernobyl nas atuais usinas em funcionamento no Brasil, tão pouco é correto afirmar que os combustíveis utilizados nos reatores nucleares podem servir para confecção de bombas atômicas.
O acidente de Chernobyl ocorreu devido a falhas humanas graves, em um reator que dava, aos operadores, autonomia muito além dos limites seguros. Além disso, o prédio da usina de Chernobyl era inapropriado para funcionamento de um reator nuclear. Atualmente, os reatores nucleares para geração de energia são extremamente seguros e mantidos em programas de fiscalização contínua por idôneos organismos nacionais e internacionais, como é o caso da Agência Internacional de Energia Atômica, um órgão da ONU. Em todos os reatores nucleares em funcionamento, os mecanismos de segurança e as barreiras protetoras, para conter qualquer tipo de vazamento, são sempre planejados em sistemas de múltiplas redundâncias.
O Brasil é um dos poucos países a dominar o ciclo de enriquecimento do urânio, além de possuir uma das maiores reservas deste minério no mundo. Estes dois fatores tornam as usinas brasileiras auto-suficientes, o que é, consequentemente, uma enorme vantagem. Vale ressaltar que o fato de o Brasil enriquecer urânio não significa que ele seja capaz de fabricar bombas atômicas. O percentual de enriquecimento do urânio nas bombas atômicas é maior do que 90%, enquanto que o Brasil gera urânio enriquecido a aproximadamente 3,5%. Além disso, o Brasil é um dos poucos países que tem em sua constituição o compromisso de utilização da tecnologia nuclear apenas para fins pacíficos.
Não há como negar, contudo, que as centrais nucleares geram rejeitos de alta atividade que, muitas vezes, precisam ser armazenados por vários séculos. Mas a quantidade de rejeito gerada é relativamente pequena e é perfeitamente viável criar depósitos definitivos que armazenem estes rejeitos pelo tempo que for necessário. A tecnologia para estocar o rejeito radioativo das usinas nucleares, de forma segura e eficiente, por vários séculos, já existe. Se ainda não há decisões mais definitivas em grande parte dos países é porque outros fatores devem ser levados em consideração, inclusive de ordem política.
Na Universidade Federal de Sergipe, há a iniciativa de criação de um centro de divulgação da energia nuclear. A intenção do centro é contribuir para o esclarecimento da população sobre o tema, permitindo que a discussão seja feita em termos de vantagens e desvantagens concretas. Acredito que a defesa maior deva ser em prol da diversificação da matriz energética brasileira, que pode incluir uma contribuição nuclear mais significativa do que a atual, mas que também deve otimizar a utilização dos recursos naturais disponíveis.

Profa. Dra. Ana Figueiredo Maia é do Núcleo de Pós-Graduação em Física, DFI, UFS (afmaia@ufs.br)

Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.


Currículo
Profa. Dra. Ana Figueiredo Maia é do Núcleo de Pós-Graduação em Física, DFI, UFS (afmaia@ufs.br)


Atualizado em: Sex, 23 de setembro de 2011, 12:59
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