Saber Ciência / Jéssica Vieira da Silva
10/09/2009
Responda rápido: O que você está fazendo agora? A pergunta mais parece simples e habitual, entretanto ganha a cada minuto um caráter bastante significativo e instigante na rede social que mais cresce entre internautas do mundo inteiro, o Twitter.
Criado em março de 2006 pelo norte-americano Jack Dorsey, da empresa “Obvious” o microblogging (pequeno diário online), como é conhecido, é um dos gêneros mais emergentes no contexto digital segundo Luiz Antônio Marcushi em sua obra intitulada “Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital” (2002), ocupando o terceiro lugar no ranking dos sites de relacionamento, vindo logo atrás do Facebook e do Myspace. Utilizado por pessoas comuns, celebridades, times de futebol e inúmeras empresas de médio e grande porte, o Twitter tem como proposta inicial fazer com que seus usuários anunciem publicamente em apenas 140 caracteres aquilo que estão fazendo - ou desejando fazer -, tornando-se um verdadeiro cartão de visitas online para quem está cadastrado.
Percebe-se, entretanto, que embora haja diversidade no que se refere ao público para o qual estão destinadas as mensagens, ou scraps, há uma convergência imediata de valores no que diz respeito à linguagem utilizada nessa rede social. O ciberespaço, nesse sentido, passa a ser um universo comum, dotado de “símbolos” facilmente reconhecidos e interpretados por seus usuários, constituindo o que se conhece por internetês ou fast information.
Mas qual a intenção de se escrever tão rápido e se aglutinar tantas palavras para responder em apenas 140 caracteres o que você está fazendo agora? O próprio sistema do Twitter responde a essa pergunta. Neste exato momento, você pode estar vendo TV, mas caso não goste da programação, pode desligá-la e colocar seu CD favorito. Em menos de cinco minutos, então, você poderá ter feito várias coisas e, para os mais assíduos ao sistema, isso faz muita diferença em suas páginas.
Mas a necessidade de atualização da página a cada instante passa longe da notória linguagem utilizada no sistema. Gírias e abreviações são utilizadas a todo o momento, tudo para “facilitar” a compreensão da mensagem. O que até então era associado à linguagem adolescente virou vocabulário oficial nos sites de relacionamento para todas as faixas etárias e classes sociais.
Esses termos, que fazem parte de um universo específico - o dos jovens -, são considerados, muitas vezes, disseminadores de um português errado, sem preocupação com a real origem da língua. Mas será que acompanhar o desenvolvimento lingüístico de uma geração específica implica um “esquecimento” ou “empobrecimento” da língua? Falar corretamente é utilizar-se de termos técnicos ou cuidadosamente bem elaborados para tornar mais belo um discurso? Se a comunicação entre usuários ocorre de forma
satisfatória, o que há de errado em usar gírias e utilizar uma linguagem coloquial? É preciso bem mais que aglutinar palavras para descaracterizar uma língua.
As mudanças nos processos de comunicação, a constante necessidade de adaptação às novas tendências de interação sócio-cultural e o desenvolvimento da linguagem são transformações por qual passará toda a sociedade. Se o que você está fazendo agora é ignorar o processo evolutivo dos meios de comunicação, limitando-se aos apegos do passado, o Twitter seria uma boa opção para dizer o que você está deixando de fazer agora.
Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.
Currículo
Jéssica Vieira da Silva é graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Artigo produzido como parte das exigências para a Disciplina “Linguagem do Texto Digital”, ministrada em 2009, pela Profª. Lilian França junto ao Mestrado em Letras/UFS."