Sex, 23 de setembro de 2011, 14:08

A linguagem digital no contexto escolar
A linguagem digital no contexto escolar

Saber Ciência / Roseane Santana Santos Dias


10/09/2009



O surgimento da internet trouxe a possibilidade de novas formas de comunicação entre os homens. Essas formas se caracterizam como mais variadas possíveis e capazes de mudar a relação de convivência entre os indivíduos. Entramos na era digital e com ela o aparecimento da linguagem digital, que ocupa hoje um lugar privilegiado na comunicação mundial. É através da Internet que milhares de pessoas podem ler, ouvir e falar ao mesmo tempo com diferentes pessoas e em diferentes espaços; ler a mesma coisa, mas não necessariamente ao mesmo tempo. É sem dúvida a mais brilhante invenção do homem nos últimos tempos!

Nesse contexto ocorre também uma mudança na relação com a escrita que se torna coletiva, intertextual e interativa, isto é, em forma de hipertexto. Tudo isso é muito novo se considerarmos a velocidade com que essas mudanças estão acontecendo. Obviamente que essa nova relação com a linguagem acaba influenciando diretamente a dinâmica social, já que é por meio dela que se disseminam as rápidas transformações sociais, políticas e culturais criadas pelo homem.

O mesmo ocorre com o sistema educacional, já que pertence a esse contexto maior que é o social. Acontece que a escola não pode ficar apática a todos esses avanços ocasionados com o advento da internet, nesse sentido, percebe-se ainda uma tímida utilização das novas tecnologias na construção do conhecimento no espaço da sala de aula. Observar de que forma os novos gêneros textuais podem contribuir para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, talvez seja hoje o maior desafio colocado ao professor.

Desafio por ser algo ainda muito novo para ele; e necessário pelo fato de fazer parte do contexto da maior parte dos alunos. É difícil hoje, diria quase impossível o aluno que não tenha conhecimento dos novos gêneros digitais (Chats, os Blogs, o Orkut, MSN, entre outros) e que os utilizam em sua comunicação cotidiana.

Marcuschi aborda uma questão interessante sobre os gêneros textuais e ensino. O autor afirma que os gêneros surgem com as necessidades e atividades culturais e com as inovações tecnológicas. Ele garante que estamos vivendo na fase da “Cultura Eletrônica” na qual se observa a explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita.

Ainda de acordo com o autor, o que promove o surgimento de novos gêneros é a intensidade dos usos das novas tecnologias e as suas interferências nas atividades comunicativas cotidianas. Gêneros esses que não são absolutamente novos, pois tem em sua composição a presença de gêneros já existentes. Essa nova relação com os usos da linguagem traz a possibilidade de redefinir alguns aspectos fundamentais na observação da linguagem em uso (relação oralidade/ escrita). “Esses gêneros que emergiram no último século no contexto das mais diversas mídias criam formas comunicativas próprias com um certo hibridismo que desafia as relações entre oralidade e escrita e inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua” (MARCUSHI, Antônio Luiz, Gêneros textuais & ensino. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.21).

Uma prova de que esses gêneros não são tão novos é observar algumas diferenças entre os gêneros textuais utilizados em sala de aula tradicionalmente e os gêneros digitais. É possível observar que os gêneros tradicionais da escrita (cartas, bilhetes, postais) não ocorrem em tempo real (assíncronos), o que dificulta a comunicação imediata, enquanto que o chat (bate-papo) apresenta a característica do imediatismo (sincronia) e da possibilidade de grande quantidade de interlocutores, o que seria um ótimo trabalho de interação com o aluno. E mesmo os e-mails e os blogs, que são semelhantes ao gênero tradicional por terem a possibilidade da correção (facilitada pelo tempo de que dispõe o autor), no momento em que são emitidos, para só depois ser passado ao destinatário ou ao público que os acessará (no caso do blog), dispõem de recursos áudios-visuais e de uma diversidade de formatos e apresentações que os gêneros tradicionais não possuem.

Uma reflexão deve nortear todo o trabalho com o uso da internet na escola: ela deve ser vista como fonte e origem de grande utilidade e transformação na vida do homem, porém, se não conduzida com responsabilidade, pode acarretar transtornos para o sujeito na construção moral e do conhecimento.

Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.


Currículo
Mestranda em Letras/UFS. Artigo realizado como exigência parcial para a disciplina “linguagem do texto digital”, ministrada em 2009, pela Profa. Dra. Lilian França."


Atualizado em: Sex, 23 de setembro de 2011, 14:09
Notícias UFS