Saber Ciência /Renisson Neponuceno de Araújo Filho
08/06/2010
O modelo de desenvolvimento econômico baseado no crescimento a qualquer custo tem gerado graves perturbações ao meio ambiente. A intensa e inadequada exploração dos recursos naturais tem resultado em inúmeros desequilíbrios, de acordo com equipe de Dias, conforme relatado no trabalho “Aplicação do mapa digital de uso do solo e cobertura vegetal no planejamento ambiental do município de Volta Redonda - RJ, 2002)”. Cappio e sua equipe de pesquisa, no livro “Rio São Francisco: uma caminhada entre vida e morte” (Petrópolis: Vozes, 1995), ressaltam que destruir ou alterar as condições naturais do rio São Francisco significa retirar as condições básicas de sobrevivência dos seres humanos que formam o povo do rio.
O trecho do baixo curso, que abriga a foz do rio, é o mais afetado pela diminuição do volume de água do rio causado pelo represamento das águas nas barragens, prejudicando as atividades econômicas tradicionais e degradando os recursos naturais. Segundo a equipe de Holanda (Riparian vegetation affected by bank erosion in the lower São Francisco river, northeas stern Brazil. Revista Árvore, 2005), com os barramentos ao longo da calha do rio, o regime fluvial foi modificado, alterando o regime de cheias e vazantes, comprometendo as atividades econômicas tradicionais, a reprodução dos peixes e a estabilidade das margens, favorecendo assim o aparecimento de croas e dificultando a navegação.
A erosão nas margens, potencializada ou não pela retirada da mata ciliar, tem se constituído em grave processo de degradação ambiental com rebatimentos nas atividades de navegação e pesca, importantes para a sustentabilidade econômica das populações ribeirinhas. A erosão marginal é responsável pela perda de grandes volumes de solo, que não podem mais ser recuperados, trazendo prejuízos sócio-econômicos para proprietários de terras ribeirinhas, para donos de embarcações, para pescadores, além de prejuízos ambientais, assoreamento o rio e comprometimento da micro e da macro flora e fauna que habitam dentro e fora do rio.
A mata ciliar na margem do rio São Francisco tem sido séria e continuamente desmatada devido à construção de estradas, hidrelétricas, ocupação urbana, agricultura irrigada, ocupação com pastagem para o rebanho bovino e a extração de madeira e minerais. Esse tipo de mata é importante para o controle da erosão em áreas fluviais, pois, de modo geral, interceptam a água das chuvas, aumentam a evapotranspiração, adicionam peso, ancoram o talude, produzem efeito de alavanca sobre o mesmo e recobrem o solo pelo acúmulo de serrapilheira na superfície.
As comunidades ribeirinhas sofrem e ao mesmo tempo são elementos ativos nos processos de degradação. Constituem-se em testemunhos vivos das conseqüências das políticas públicas que trabalham o desenvolvimento na região de forma insustentável.
Engenheiro Florestal. Pesquisador Laboratório de Erosão e Sedimentação (Labes) da Universidade Federal de Sergipe