Seg, 26 de setembro de 2011, 14:38

Lendas sobre a Lagoa do Sangrador
Lendas sobre a Lagoa do Sangrador

Saber Ciência / Luís Ricardo Santos Andrade


08/06/2010


Sabe aqueles contos populares que, desde a infância, nos acostumamos a ouvir? Muitos deles são reflexos de importantes aspectos do imaginário da nossa sociedade e se constituem em preciosos documentos para a chamada “História do imaginário”. Esses contos são quase sempre transformados pelos chamados memorialistas da comunidade. O trabalho desses mestres aguça a imaginação e resguarda a memória local.



Nesse sentido, tratarei de uma pesquisa em andamento intitulada “Contos populares da Lagoa do Sangrador, Pirambu/SE”. A referida lagoa está localizada a 20 km da sede do município de Pirambu, no povoado Lagoa Redonda. Trata-se de um patrimônio natural e imaterial de grande importância para a população ribeirinha, que conserva o clima de mistério e o respeito entorno da lagoa.

Enquanto bem natural, a Lagoa do Sangrador possui cerca de 5 km de comprimento, dotada de águas escuras e enferrujadas. No campo do imaterial, uma lenda a singulariza. Conta-se que um enorme peixe habita àquelas águas e que, certa feita, teria engolido vorazmente um enorme pote com o qual uma das moradoras do povoado buscava água potável.

Segundo os ribeirinhos, o “período das trovoadas” é sempre o de maior perigo, pois é exatamente nessa época que o temeroso morador da Lagoa costuma fazer suas aparições.

Um fato curioso relacionado à lenda da Lagoa do Sangrador é que a comunidade não adentra ou se banha na lagoa, prova cabal da crença em uma memória envolta em mistérios.

Contos dessa natureza são típicas expressões das culturas orais (sem escrita), ou seja, culturas que não contam com recursos para fixar informações. De narrador em narrador, guardados através dos séculos, na plasticidade da memória e da voz, viajaram para todos os lados sendo disseminados pela transmissão boca a boca.

Nesse processo, sofreram todo tipo de modificação: fusões, acréscimos, cortes, substituições e influências. Em tese, numa simplificação, de um mesmo mito europeu, por exemplo, podem ter surgido infindáveis e variadas histórias, marcadas pelas diversas culturas por onde passaram e recriadas por um infindável número de contadores cada um com seu estilo.

Estudos como esse permitem preencher lacunas na história do imaginário da população do interior do nosso Estado. Em outros termos, possibilita descrever fatos e personagens esquecidos, desconhecidos, lendários, míticos. Finalmente, o estudo local pode servir de instrumento para projetar e dar visibilidade a construção da identidade cultural dessas comunidades.


Currículo
Graduando em História da Universidade Aberta do Brasil, da Universidade Federal de Sergipe – UFS.


Atualizado em: Seg, 26 de setembro de 2011, 14:38
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