Ter, 01 de outubro de 2019, 09:53

Doença causada por novo parasita é identificada em Sergipe
Pesquisador da UFS atendeu casos e participou dos estudos que identificaram o parasita

Em 2011, o pesquisador da UFS Roque Pacheco Almeida atendeu um paciente, no Hospital Universitário de Aracaju (HU), que apresentava sintomas parecidos ao da leishmaniose. Após a ineficácia dos tratamentos, o homem de 64 anos veio a falecer no ano seguinte.

Roque Almeida, que é imunologista e chefe do Laboratório de Biologia Molecular do HU, isolou o parasita causador da doença e o enviou para análises do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), em São Paulo, do qual faz parte – os resultados da pesquisa foram publicados na revista especializada EID.

A conclusão da equipe é de que o parasita não pertence ao gênero Leishmania, composto por várias espécies causadoras de diferentes tipos de leishmaniose. A espécie está mais próxima da Crithidia fasciculata, um parasita presente em mosquitos, mas que não infecta vertebrados – como os humanos e demais mamíferos.

A nova espécie, entretanto, infectou 150 pessoas em Sergipe, atendidas por Roque, que isolou os parasitas desses pacientes para ampliação dos estudos.

“Atualmente, temos 150 isolados de parasitos provenientes de pacientes e pretendemos sequenciar o genoma para verificar a extensão desta doença emergente. Vale ressaltar que, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o estado de Sergipe tem uma das mais altas taxas de mortalidade do Brasil por leishmaniose visceral, em torno de 15%, quando o esperado seria de 6%”, alerta o pesquisador.

Após testes em camundongos, os cientistas confirmaram que o parasita tem realmente a capacidade de se instalar em vertebrados.

Sintomas e causas

Os sintomas da doença, que ainda não tem nome, são parecidos aos da leishmaniose visceral: febre, aumento do baço e do fígado e diminuição de todos os tipos de células sanguíneas. No paciente em que foi letal, porém, a doença manifestou também lesões de pele parecidas às de outro tipo de leishmaniose, a tegumentar.


"Talvez estejamos diante de um grande problema decorrente da presença de um novo agente infecioso e não dispomos ainda de terapêutica adequada", alerta Roque Pacheco Almeida, pesquisador da UFS (Foto: Adilson Andrade/AscomUFS)
"Talvez estejamos diante de um grande problema decorrente da presença de um novo agente infecioso e não dispomos ainda de terapêutica adequada", alerta Roque Pacheco Almeida, pesquisador da UFS (Foto: Adilson Andrade/AscomUFS)

Ainda não se sabe também como a doença é transmitida. O parasita da leishmaniose visceral é transmitido pelo mosquito palha. Já a Crithidia fasciculata, que se assemelha à espécie descoberta, está presente em outros tipos de mosquitos, como os que transmitem a malária e até o Culex, famoso pernilongo (ou muriçoca, para os nordestinos).

No entanto, faltam ainda muitos estudos, tanto para conhecer melhor a doença e criar tratamentos, como para confirmar o agente transmissor.

“Estamos tentando sequenciar o DNA de vários outros parasitos para identificar mais isolados do novo agente infecioso. Estamos também iniciando estudos de campo para identificar o mosquito transmissor e possíveis reservatórios do parasito”, diz Roque Almeida.

O que se sabe é que o parasita descoberto tem potencial para se tornar um problema de saúde pública.

“Talvez estejamos diante de um grande problema decorrente da presença de um novo agente infecioso e não dispomos ainda de terapêutica adequada. Podemos ampliar nossas pesquisas, com colaboração de outros estados do Brasil, analisando genoma de parasitos”, conclui o pesquisador.

Outros estudos

Roque Almeida já esteve envolvido em outras importantes descobertas, como na pesquisa que associou pela primeira vez a Síndrome de Guillain-Barré ao vírus Chikungunya.

Marcilio Costa
comunica@ufs.br
Foto-legenda: Divulgação


Atualizado em: Ter, 01 de outubro de 2019, 10:16
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