Uma proposta inovadora, e que ainda aguarda os meios para sua materialização completa, foi desenvolvida no âmbito do mestrado profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento (Profin) da Universidade Federal de Sergipe.
Trata-se de uma revista em quadrinhos no que se convencionou chamar “desenho universal”, formato que engloba diversos recursos de tecnologia assistiva com o objetivo de atender às necessidades da maior quantidade possível de indivíduos, sejam videntes, cegos ou surdos.
O desejo de se debruçar sobre esse tema nasceu da experiência pessoal da autora, a discente Ana Laura, professora na rede estadual de Ensino e na rede municipal de Aracaju, e de sua vivência em sala de aula com alunos com deficiência visual.

“O que é que não tem para os cegos? Não tem revista em quadrinhos. Temos alguns livros ilustrados. Mas a revista, não”, conta. Ampliando sua proposta inicial de inclusão, à medida que a pesquisa se desenvolvia, ela buscou elaborar um material que pudesse ser acessado pelo maior número de leitores possível.
O projeto da revista contém dez histórias em quadrinhos em três quadros, para serem impressas em tinta e alto relevo e com o Braille, dando acesso à leitura para a pessoa cega. Após a apresentação de cada história, segue-se uma descrição detalhada de todas as imagens (que estará também impressa em Braille) e um resumo em signwriting (escrita em Libras).
“A beleza desse material é que ele permite ser lido, numa sala de aula, por exemplo, por todos os tipos de aluno, ele não isola os videntes, nem os cegos ou surdos, cada um deles tem a sua experiência de leitura, e tudo isso de uma forma conjunta”, explica a coorientadora do trabalho, professora Valéria Bari, do Departamento de Ciência da Informação.

Inúmeras habilidades
Ao invés de adaptar uma história já existente, Ana Laura criou a sua própria história e produziu o roteiro. Ela buscou um tema que pudesse ser lido não só pelas crianças, mas com igual proveito por jovens e adultos e, assim, escolheu falar da própria inclusão da pessoa deficiência como tema da narrativa, visando ajudar a combater a desinformação a respeito.
Além de toda a complexidade teórica envolvida em sua pesquisa, visto reunir diversas discussões a respeito das interações de mediação, de linguagem, etc, Ana Laura relata que foi necessária também a contratação de serviços profissionais especializados para elaboração das diversas etapas do projeto piloto, desde o storyboard, artista plástico que fizesse as ilustrações e capa, tradução para Libras signwriting, serviço de audiodescrição, designer gráfico e a tradução para o Braille.
“Precisávamos ter um material que tornasse possível pôr no mesmo lugar todos esses recursos e que ficasse flúido, legível, e fácil para todas as pessoas”, explica a orientadora do projeto, professora Cristina Valença, do Departamento de Museologia.

Desafios que restam
A revista está descrita em detalhes no relatório técnico de Ana Laura, mas um primeiro grande desafio que ela agora enfrenta é o de conseguir imprimir essa história. Isso porque apenas uma gráfica privada em todo o Brasil tem a capacidade técnica de executar o projeto incorporando todos os recursos assitivos necessários ao formato universal.
"As tecnologias assistivas requerem um investimento um tanto alto. Ligamos para várias gráficas, vários lugares, e não existe nem a impressão em alto relevo dentro dos critérios que a gente precisa. O único lugar para imprimir seria a Fundação Dorina Nowill para Cegos, em São Paulo”, explica Ana Laura.
A professora Valéria reforça que “o valor da publicação é altíssimo, é algo quase proibitivo, que não se consegue facilmente no Brasil, porque o custo final do livro seria praticamente inviável para o consumidor comum. O ideal seria obter uma parceria ou o financiamento público para esta obra”, explica.

“Queremos colocar no mercado esse trabalho que é tão sensível”, reforça a professora Cristina. E alerta para um segundo desafio, a fim de que o projeto tenha impacto social efetivo, que é o de “trabalhar projetos de extensão, de capacitação, em locais de educação formal ou informal (bibliotecas, museus), para que as pessoas saibam lidar com esse material.
“Precisamos de profissionais que conhecem o braille, libras, signwriting, profissionais que tenham a sensibilidade de lidar com as questões de deficiência”, conclui a orientadora.
A autora
Formada em Pedagogia pela UFS, Ana Laura Campos Barbosa concluiu seu mestrado profissional no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFS) em 2021, e possui pós-graduação em Neuropsicopedagogia Clínica, em Deficiências Múltiplas e Sensoriais e em Gestão Escolar.
Pela Secretaria Municipal de Educação de Aracaju, atua na Coordenadoria de Apoio Educacional à Pessoa com Deficiência (COEPD), dando apoio a pessoas com deficiência visual; na Secretaria de Educação do Estado de Sergipe, exerce a docência no Centro de Atendimento Educacional Especializado João Cardoso Nascimento Júnior, espaço totalmente voltado à educação especial.
Para ler a íntegra do trabalho desenvolvido por Ana Laura, clique aqui.
Márcio Santana
Ascom