Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) apontam que a taxa de abstenção no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vem se tornando significativa desde 2017, atingindo 52,5% de estudantes em 2020 e 26,7%% em 2022, provocando estudos mais aprofundados de especialistas nas áreas da Educação, Ci6encias Sociais, Comunicação, Antropologia e suas interdisciplinaridades.

Neste contexto, o Grupo de pesquisa Cultura, Cotidiano e Sociabilidades na Contemporaneidade (Greccos) da Universidade federal de Sergipe criou o projeto de extensão “Aprendendo com Intervenção Sociológica: Estudos e Atividades entre a UFS e o Colégio Estadual Armindo Guaraná”, coordenado pela professora Tâmara Maria de Oliveira, do departamento de Ciências Sociais (DCS), que tem por objetivo desenvolver estudos e atividades junto à equipe pedagógica da escola para que os estudantes do ensino médio entendam os processos acadêmicos e estejam munidos de condições estruturais para a aplicação das provas do Enem.

“O projeto da equipe de Intervenção Sociológica do DCS – Intersol – visa contribuir com o trabalho pedagógico da equipe do colégio estadual Armindo Guaraná no difícil contexto de drástica diminuição do acesso ao ensino superior de estudantes do ensino médio, articulada às consequências negativas da pandemia reveladas com o retorno ao ensino presencial, buscando enfrentar a baixa motivação de parte significativa de seus alunos em relação aos saberes escolares para uma consequente ampliação das suas chances de entrada no ensino superior”, explica a professora, membro do Greccos.

Ela salienta ainda que a participação efetiva de membros do colégio estadual tem sido de fundamental importância para o processo das intervenções sociológicas e a compreensão coletiva do projeto:

“Um projeto de extensão que envolve estudantes do ensino médio, sobretudo que se encontram em alguma questão de vulnerabilidade, como muitas advindas da pandemia, precisa estar alinhado com todos os seus agentes, e a participação da direção e dos docentes do Armindo Guaraná tem sido fundamental para a execução e o sequencial êxito do projeto. Dessa forma, visitas guiadas, rodas de conversas e entrevistas coletivas fazem parte de todo o trabalho e motivam os estudantes diante dos processos de aprendizagem”, completa Tâmara.

Foi a própria experiência de estudo na rede pública de ensino que motivou Danilo Rodrigues, estudante do 7º período de licenciatura em Ciências Sociais, a se interessar em fazer parte do projeto.

“Com o tempo, comecei a ter uma relação diferente com o saber, que não foi apenas aquele cálculo estudar = passar no Enem. Eu gostava de aprender sobre determinados temas e isso me trouxe à universidade. Assim, o interesse pela educação potencializou o meu desejo de participar e de interagir com esses jovens para me aproximar e poder entender mais as suas dificuldades e o que os motiva atualmente”, explica.

Ele destaca ainda que, ao longo da sua participação, percebeu que o projeto de extensão impacta positivamente na realidade desses estudantes e da sociedade como um todo.

“Parte do nosso papel enquanto graduandos foi o de estabelecer uma relação empática com esses alunos, contribuindo para a intervenção na medida em que existe uma troca de experiências que acaba desmistificando as possibilidades de futuro desses jovens. Acredito que o projeto seja pertinente não só no que se refere a reconhecer suas potencialidades, mas também em pautar novas formas de se relacionar com o saber escolar e científico, tirando da sociedade o caráter apenas utilitário do conhecimento, evidenciando o saber como forma de refletir a existência e suas diversas possibilidades”, completa o estudante.

Para Vanessa Anunciação, estudante de licenciatura em Ciências Sociais e membro do projeto, o âmbito educacional foi um fator decisivo para a sua participação.

“Esse contato com os alunos e com a escola é muito importante para quem, assim como eu, almeja a docência. A nossa temática, a princípio, era sobre as vivências na pandemia e as relações com a escola e os saberes, mas acabou evoluindo para diversos outros anseios dos estudantes, como o Enem e as expectativas pós ensino médio. Dessa forma, creio que o projeto impacta de maneira positiva no sentido em que aproxima os jovens da universidade, ajudando-os a combater as barreiras que os afastam desse universo e mostrando que os espaços acadêmicos podem e devem ser ocupados por eles”, salienta a estudante.

Uma das ações do projeto é integrar os estudantes do colégio estadual à universidade e à realidade do seu funcionamento. Dessa forma, recentemente, eles estiveram reunidos na sala dos Conselhos Universitários (Consu) para melhor compreender o funcionamento dos processos de extensão.

“Foi uma experiência realmente motivadora, pois os estudantes tiveram acesso a uma parte fundamental do funcionamento da universidade e da sua atuação social, que é a extensão universitária. Além disso, vê-los entusiasmados, com interesse em diversos assuntos, faz com que toda a gestão potencialize seus trabalhos”, destaca Sueli Pereira, pró-reitora de extensão da UFS.

Jéssica Vieira - Ascom UFS