Qua, 10 de outubro de 2012, 07:11

A História, João Alves Filho e o espectro da esperança
A História, João Alves Filho e o espectro da esperança
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Saulo Henrique Souza Silva


Séculos atrás, Nicolau Maquiavel chamou a atenção dos homens públicos de seu tempopara o fato de que os acontecimentos políticos podem ser previstos. A história não deveria ser compreendida meramente como a ocorrência do acaso, movida pelo destino inexorável. Com efeito, o resultado da eleição para a Prefeitura Municipal de Aracaju não foge a essa regra da previsibilidade. A repeito disso, gostaria de refletir com o leitor sobre a aprendizagem com a história, o retorno de João Alves Filho e o novo panorama político.


O grande ensinamento de Maquiavel permanece vivo! Segundo o pensador florentino, mesmo existindo nos assuntos humanos uma ampla possibilidade de imprevisibilidade, cuja característica conjectural seria determinada pela ação da deusa cega Fortuna, se bem observada a verità effetuale dos fatos históricos seria possível antever os acontecimentos indesejáveis e impulsionar aqueles salutares. Afinal, se os homens são os mesmos, a história repetir-se-á de forma circular. É clássico o famoso capítulo XXV d’O príncipe onde Maquiavel compara a deusa Fortuna a um rio desastroso, cujo ímpeto a todos dobra sem poder para contê-lo. Porém, o homem de virtù,conhecedor da história das enchentes, pode tomar providências construindo “(...) barreiras e diques, de modo que, quando a cheia se repetir, ou o rio flua por um canal, ou sua força se torne menos livre e danosa” (2004, p. 120). Com isso, Maquiavel quer nos dizer que mesmo a Fortuna governando metade das nossas ações, deixa ao nosso poder a outra metade.


Seguindo a lição de Maquiavel, o resultado da eleição para a Prefeitura Municipal de Aracaju estava indicado há cerca de dois anos atrás, ao final do pleito para o Governo do Estado, quando o então candidato João Alves Filho (DEM) derrotou o candidato à reeleição Marcelo Déda (PT) na cidade de Aracaju. Esse fato foi marcante porque Déda era o maior líder político da história recente da capital sergipana. Com o voto dos aracajuanos ele foi eleito deputado estadual, federal, prefeito (por duas vezes) e governador, estando atualmente em segundo mandato. No entanto, muitos advogavam, sem sensibilidade às lições da história, que após duas derrotas seguidas João Alves estaria de uma vez por todas afundado no subconsciente popular, sem credibilidade, passaria a ser uma figura meramente folclórica. Porém, os números em Aracaju, mesmo não comprometendo a reeleição de Déda, desenhou o que se esperar para a próxima eleição municipal: a volta de João Alves.


Pois bem, o que se observa de mais pertinente nas críticas de setores progressistas da sociedade à vitória de João Alves Filho é a tese do retrocesso histórico. Isso é verdade. Afinal, João Alves é um político que remota à época da ditadura, ele foi levado pelos braços autoritários dos militares ao ingresso na vida política como prefeito biônico em 1975. Porém, não deveríamos nos surpreender com o retorno do ultrapassado. Como afirma Walter Benjamin, em uma das suas Teses sobre filosofia da história, “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’”. O passado é sempre carregado de atualidade que se faz explodir no continuum da história e a “moda tem faro para o atual, onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente” (1994, p. 229); Ou seja, o passado sempre se faz presente e a vitória de João Alves é o passado que retorna, porém, a pista do retorno fora dada dois anos atrás e corroborado com a escolha de Valadares Filho (PSB) pelo bloco da situação, político apático e sem nenhuma história pública relevante que justificasse estar à frente da capital sergipana.


Entretanto, apesar do resultado, é possível vislumbrar uma conjuntura política mais oportuna com a volta da Prefeitura Municipal de Aracaju às mãos da direita reacionária. Essa situação apresenta a oportunidade da esquerda acentuar melhor o seu papel na cidade. Agora ela tem um inimigo declarado, que não se traveste de moderninho para enganar a população mais progressista. Para os militantes da frente de esquerda, representados pela candidatura de Vera Lúcia (PSTU/PSOL/PCB), essa nova situação simboliza a oportunidade histórica da construção efetiva de uma nova força política eleitoralmente exequível. Pois, como o fim do controle da maquina pública municipal pelo bloco PT/PCdoB/PSB/PMDB e a volta do DEM/PSDB com João Alves Filho, é bem possível que as portas da prefeitura estejam abertas a uma nova liderança no futuro próximo. No final das contas, ninguém mais aguenta João Alves, e o bloco que ele representa mostrou claramente a dificuldade que tem de fazer líderes jovens. Por lá só existe o Negão! Por sua vez, o bloco representado pelo Governador Marcelo Déda está demasiadamente desgastado com tantos anos no poder, sem uma clara demonstração de mudança em relação às práticas políticas de outrora.


Ao fim e ao cabo, não se deve culpar o povo pela eleição de João Alves. A culpa foi daqueles que vêm governando essa cidade há mais de uma década de forma apática, cujos ideais estão visivelmente corrompidos pelos anos no poder. E o povo, ao seu modo, manifestou a sua indignação. Espero apenas que esse retrocesso signifique, parafraseando o Manifesto de Marx e Engels, o espectro da esperança futura que se aproxima.



*Saulo Henrique Souza Silva é Mestre e doutorando em Filosofia pela UFBA, professor da Cadeira de Filosofia do Colégio de Aplicação da UFS.



Atualizado em: Qui, 31 de janeiro de 2013, 09:18
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