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Dalva Nou Schneider nasceu a 27 de agosto de 1926, na cidade de São Cristóvão/SE. Seus pais: José Rodrigues Nou e Euridice Linhares Nou.
O pai foi juiz de Direito da Comarca de São Cristóvão, cidade que muito amava. Pelos seus méritos, chegou a desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. Dele a filha aplica em vida o exemplo da honestidade e simplicidade. “Foi um homem que teve um poder do Estado na mão e os filhos não percebiam”.
Sua mãe dedicou sua vida ao esposo e aos oito filhos. Dela aplica em vida o exemplo de devoção à família.
No Colégio Francina Menezes, em Aracaju, fez o curso primário. “A professora Leonor Teles era proprietária do estabelecimento de ensino e diretora e ainda ensinava na Escola Normal da rede estadual de ensino”.
Ela vestia a farda do colégio, se dirigia à sala de aula toda perfumada e lá dava suas lições de português. Nossa farda era uma saia azul e uma blusa de palhinha de seda”.
No Colégio Tobias Barreto, na época do professor Zezinho Cardoso, passa um ano no chamado curso médio preparatório e sai pronta para enfrentar o curso de admissão ao ginásio. “Tenho gratas recordações pelos conhecimentos que o professor Zezinho transmitia aos alunos”.
Faz com sucesso exame de admissão ao Colégio Atheneu Sergipense no velho prédio da Rua da Frente (Av. Ivo do Prado) inaugurado como Atheneu Pedro II e que em sua época tinha como diretor o professor Joaquim Sobral. “Era um colégio muito organizado, bons professores e ensino caprichado. Não existia universidade em Sergipe e quem desejava continuar os estudos para progredir na vida estudava no Atheneu, que tinha grandes mestres, a exemplo do médico Oscar Nascimento, que ensinava biologia. Sou uma pessoa que até hoje sou capaz de responder muitas coisas de história natural pelas aulas que tive com o Dr. Oscar Nascimento. Ele dava aulas interessantíssimas. Na parte de botânica todos os alunos tinham de levar para sala de aula uma folha e ele arguia o aluno com a folha na mão”.
Cita o nome de outros professores do seu tempo de Atheneu: Artur Fortes, Abdias Bezerra, José Augusto da Rocha Lima, Garcia Moreno. “Atheneu. Basta dizer os alunos da nossa turma que saíram de Aracaju para fazer vestibular fora e só saiu reprovado quem a gente sabia por não ser bom aluno. Os meus colegas foram aprovados no vestibular na cidade de Ouro Preto e Salvador”.
Na antiga Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, a jovem Dalva Nou sai aprovada no vestibular de 1945 para o curso de Engenharia Industrial e Química.
A escolha do curso aconteceu por influência de irmãs que estudavam no Rio de Janeiro e que num momento de retorno a Aracaju disseram a Dalva que o curso da moda era o de Química. “Ainda não tinha escolhido carreira e estava no curso científico. Meu pai queria que fosse para o Rio, onde minhas irmãs estudaram, mas nós estávamos em momento de guerra, quando chegou um amigo dele, engenheiro na Bahia, Dr. Emílio Torneron, e disse que não era preciso me levar para o Rio de Janeiro, pois na Bahia tinha um curso muito bom, tanto de Engenharia Química como Civil na Escola Politécnica”.
Quando Dalva Nou estava terminando o curso de Engenharia Química, em vista que o Brasil estava a necessitar de profissionais da engenharia, a Escola Politécnica da Bahia é solicitada pelo MEC através documento oficial para criar condições de acesso aos formandos de Engenharia Química que desejassem ter o diploma de Engenharia Civil, através de disciplinas complementares. Na época até o terceiro anos alunos de química e de engenharia civil estudavam na mesma sala de aula.
“Passei mais um ano complementando as disciplinas. Colei grau em Engenharia Química em 1949, na tradicional e inesquecível solenidade de formatura, com presença de familiares e amigos. Já na formatura de Engenharia Civil, em 1950, não quis participar da solenidade de colação de grau”.
Recém-formada, retorna a Aracaju com toda expectativa para começar sua vida profissional, numa época em que não era preciso concurso público para ingressar no Estado, diante da visita de cortesia que seu pai, na condição de presidente do Tribunal de Justiça, recebeu em sua residência o governador do Estado. Após a retirada do governador, perguntou se não tinha lembrado de uma colocação para a filha. “Me lembro bem do que ele respondeu: ‘Minha filha, juiz não pode pedir. Se eu pedir qualquer coisa ao governador, ele se sente no direito de pedir outras mais.
Então, você aguarde’”.
Com toda vontade para o trabalho, a engenheira Dalva se inscreve em vários concursos, mas os concursos não aconteceram.
Procurada pela amiga e professora Maria Thétis Nunes, que na época era diretora do Colégio Estadual de Sergipe (Atheneu), para assumir a vaga da disciplina matemática do professor catedrático e engenheiro José Rollemberg Leite, que iria assumir um cargo público, ingressa no Colégio Estadual de Sergipe. “Foi uma coisa que me enriqueceu muito. Ensinava matemática pela manhã para a turma do 3º ano ginasial e pela tarde às turmas do 1º, 2ºe 3º ano do curso científico. Uma experiência fascinante. O que recebi de carinho e atenção daqueles meninos do Atheneu e até hoje recebo, é gratificante. E eles estudavam muito, pois eu era muito exigente e até me diziam: ‘A professora é exigente, mas é justa’. Tinha alunos que já no final de curso não faziam provas, pois eles ensinavam seus colegas mais fracos. Dizia:
‘Façam eles melhorarem matemática e vocês não vão fazer teste’. Todos foram felizes no vestibular. O Atheneu era uma riqueza de colégio. Os que saíam para fazer vestibular fora eram aprovados”.
Ensinando matemática para a turma do 3º ano ginasial, teve tempo de exercer a profissão de engenheira química no Instituto de Tecnologia de Sergipe, atendendo convite do Dr. Antônio Bragança, seu professor na época do Atheneu. Só começou a trabalhar no ITS depois de fazer estágio em 1953, no Rio de Janeiro, precisamente no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), na seção de Metrologia, atendendo ao pedido do Dr. Bragança. Deixa de ensinar no Atheneu quando passa a fazer cursos de especialização em outros Estados.
Ainda funcionária do ITS, foi membro do Conselho Rodoviário do DER-SE, de 1957 a 1958. “Fui a primeira mulher brasileira a integrar um órgão rodoviário como conselheiro, fato registrado na revista ‘Rodovia’. Fui escolhida para compor a lista tríplice através de eleição pelo Sindicato dos Engenheiros de Sergipe e entre os três nomes dos engenheiros da lista o governador Leandro Maciel escolheu o meu”.
Foi membro do Conselho Administrativo do Instituto de Tecnologia e Pesquisas, professora de mecânica racional da antiga Escola de Filosofia, professora de solos e pavimentação da Escola Técnica Federal de Sergipe. Frequentando o DER-SE nas reuniões do Conselho e já conhecida dos engenheiros, recebe convite do engenheiro Paulo Barreto de Menezes para trabalhar no Departamento Estadual de Estradas de Rodagem de Sergipe em seu quadro técnico. “Paulo Barreto era meu contemporâneo na Escola Politécnica. Um certo dia ele me questionou: ‘Dalva, porque você não vem pra cá? Respondi que não queria ficar em estradas’. Ele me disse que o engenheiro que estava montando o laboratório de mecânica de solos do DER-SE estava casando com uma baiana e iria embora. Como condição de aceitar a proposta de um novo emprego, pedi um curso de formação de mecânica do solo e só assim poderia assumir e ele aceitou”.
Hoje só lembra do DER com saudade. “Era um órgão maravilhoso em tudo por tudo. Nós éramos poucos engenheiros. Basta dizer que o carro que servia ao diretor também pegava os engenheiros em casa”.
Por conquista de bolsa de estudo faz estágio no Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa, nas seções de estradas e aeródromos e de mecânica dos solos e fundações, como bolsista da Capes (1959-1960). “Lá foi uma espécie de pós-graduação, pois quando chegava ao final do estágio você tinha que apresentar um trabalho original”.
No DER-SE foi chefe do laboratório de solos e pesquisas; chefe da divisão de pesquisas e normas técnicas; diretora técnica; membro participante de diversos congressos e simpósios anuais rodoviário como representante.
Na Escola de Química de Sergipe, hoje Instituto de Química, mais outra história. Além de ensinar a disciplina tecnologia inorgânica, antiga química industrial II, foi membro do Conselho Técnico Administrativo e chefe do Departamento de Tecnologia. Na ausência do diretor titular, atuava como diretora eventual. “A antiga Escola de Química foi um marco nacional. Em qualquer canto que a gente mandava um estudante e ele era bem recebido. Até a Petrobras contratou uma turma de estudante da faculdade”.
“Sou professora fundadora da faculdade e até recebi uma medalha. Só deixei a faculdade de Química quando passei para o curso de Engenharia Civil”.
A criação do curso de engenharia civil da Universidade Federal de Sergipe muito deve a engenheira civil Dalva Nou, que marcou presença desde os primeiros passos. Integrou a comissão de três membros designada pelo reitor Aloísio Campos para realizar os estudos preliminares para a implantação do curso.
“Deixando a modéstia à parte, esse curso desde a sua formação muito me deve, porque eu vivia no meio de engenheiros e sabia quem apanhar como professor. Pode dizer que foi o meu esforço para arranjar professor”.
Conta um fato interessante quando da criação do curso: “O reitor Aloísio Campos passou um vexame quando o curso de engenharia estava para ser reconhecido e veio um grupo do Ministério da Educação fazer uma visita. Choveu e alagou o campus. Num domingo, recebo um telefonema do Dr. Aloísio: ‘Professora, por favor, a senhora não é do DER? Por favor, me ajude porque está tudo alagado e quero passar com a turma do Ministério de Educação que vem fazer o reconhecimento da nossa universidade’. E nós conseguimos com o DER aterrar aquilo tudo”.
No curso de Engenharia Civil, ensinou desde a fundação até a aposentadoria a disciplina mecânica do solo, na condição de professora titular. “Substituí o meu colega do DER, o saudoso engenheiro civil e professor Joel Costa, quando ele assumiu a direção do DER-SE, na disciplina pavimentação rodoviária”.
Em diversas gestões foi chefe do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe.
Dalva Nou foi membro reeleito do Conselho do Ensino e da Pesquisa da UFS, onde exerceu por duas vezes a presidência da Câmara de Ensino. Foi coordenadora do curso de Estradas da ETFS para implantação da reforma do ensino e sistema de crédito. Também foi membro representante da UFS junto à comissão composta pelo secretário do Conselho do Desenvolvimento do Estado de Sergipe (Condese) para tratar de assuntos ligados ao desenvolvimento de Sergipe. Em 1966 foi professora do curso de pavimentação do IPR em Recife.
Trabalhos publicados: Iniciação ao Estudo de Solos para fins Rodoviários; A Cal na estabilização de Solos; Solos Massapê do Brasil. Distinções: professor emérito da UFS/Medalha de Membro Universitário. Medalha e certificado pelos 50 anos do sistema Confea/Crea e certificado de serviços relevantes prestados à nação (Confea/Crea) e Inscrição do Mérito dos profissionais do Crea-SE no dia 14 de dezembro no auditório da Aease. Recebeu o título de Cidadã de Aracaju por indicação do vereador Emanuel Nascimento.
Casou com Henrique Schneider em 1971. É mãe de Henrique Nou Schneider, Curt Nou Schneider. É avó de quatro netos: Erwin, Catarina, Curt Vinícios e Fernanda.