Seg, 06 de março de 2017, 17:42

Israel Roberto Barnabé
André Mauricio Conceição de Souza*

Não precisa ser muito religioso para saber as características e as diferenças entre um santo, um anjo e um mero pecador mortal. Eu sou um exemplo típico deste último, mas Israel, tive dúvidas desde quando o conheci. Descobri que não era um santo, quando recusou comer uma buchada, sarapatel ou qualquer comida carregada, como chamamos aqui no nordeste. Isso santo tem que fazer. A cada dia que o encontrava tinha mais certeza que mero pecador mortal ele não era e mais certeza também eu tinha que ele era um anjo. E assim, convencido disso, aprendi a ter um grande prazer em ter sua amizade. Fui muito feliz em tê-lo ao lado de minha família e posso dizer que tive mais sorte que quem ganha na megasena em, no seu convívio, tê-lo como exemplo para meus filhos. No trabalho era o colega que todos queremos ter. Todos nós da UFS e aqueles que vieram pelos programas de intercâmbio tivemos a grande sorte de ter sua competência, sua graça, sua forma perfeita de tocar o setor de relações internacionais da UFS, como exemplo que ficará para sempre. Particularmente, aprendi que nem sempre é fácil lidar com anjos. Nas dezenas caronas que pegava dele, a música sempre maravilhosamente bem escolhida e na altura de ouvido de um anjo. Eu, sempre na vontade de ouvi a música mais alta, ele, implacavelmente no volume que acredito só anjos ouvem com perfeição. Quando eu que dava a carona, nunca fui louco de ligaro rádio, tinha certeza que meu gosto por música e pela altura em ouvi-las não iria agradá-lo. Minha saída era colocar uns causos nordestinos de Jessie Quirino que ele ouvia com grande alegria e muito sorriso. Tirá-lo da hora de voltar para casa sempre foi impossível. Por mais que a farra estivesse boa ele tinha a hora dele, àquela hora em que os anjos vão para casa, quando percebem que a muvuca pode começar. Certa vez, tentei trazê-lo para os pecados mundanos em sentir o prazer de ganhar na derrota do outro. Convenci-o a comprar uma raquete de tênis para jogar contra mim e meus filhos.Esta parte foi fácil, mas meu projeto empacou na sua índole de anjo.Nunca consegui terminar uma partida contra ele. Começava a jogar e ele ia devagar me fazendo esquecer o placar. E nunca consegui ganhar ou perder dele. Nas duplas, ao seu lado contra meus filhos, aí sim, nós sempre perdíamos, por pura alegria dele que só fazia sorrir durante o jogo. Resultado disso: desisti de jogar com ele. Como me arrependo disso hoje. Como não sabemos lidar com o que realmente importa. O sorriso sempre estampado no seu rosto era a marca registrada de Israel, o Barnabé, simples até no nome, que ele orgulhosamente gostava de brincar. Das coisas que nunca vão ter uma explicação na minha vida é por que um anjo tem que nos deixar tão cedo. Ainda precisávamos aprender tanto com você, nosso anjo Léo.

*Professor do Departamento de Física da UFS e ex-Vice-Reitor da UFS


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