Saulo Henrique Souza Silva
A paixão é algo que não se explica facilmente. Ela está ligada à ausência da razão na deliberação do julgamento, não importa se o objeto desejado seja efetivamente o melhor, a paixão é uma afecção cega, que nos impulsiona como todo ardor ao objeto desejado. A paixão pode estar relacionada com pessoas, animais de estimação, instituições, organizações políticas, clubes esportivos etc. No Brasil, as agremiações esportivas ligadas ao futebol são as grandes fontes de emanação da paixão entre a população. Afinal, conforme jargão frequentemente repetido, o futebol é a paixão nacional! Não é por acaso que em Sergipe a agremiação esportiva mais tradicional e com maior número de torcedores, o Club Sportivo Sergipe, prestes a completar 104 anos de história, é chamada carinhosamente por seus torcedores de o “Mais Querido”.
Sobre isso, lembro bem que os primeiros contatos que tive com o CSS fora no ano de 1994. Era um momento feliz para o futebol no Brasil haja vista que, após anos sem títulos mundiais, a Seleção Brasileira de Futebol havia vencido de forma heroica a Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos da América em 1994. Nesse tempo, como boa parte dos meus amigos, eu sonhava em ser jogador de futebol e o sucesso da seleção amarelinha tornava esse sonho em uma obsessão. Então, como começar a realização de algo, entendido por nossas cabeças infantis, como um fato tão grandioso? Pois bem, soube por terceiros que o CSS possuía uma escolinha de futebol, não pensei duas vezes em tentar fazer parte daquela escolinha e me juntar a tantos outros garotos com o mesmo sonho de se tornar um grande futebolista. E por lá permaneci como atleta da categoria de base do CSS de 1995 a 1997, até que acabei deixando de lado o sonho da adolescência e me voltei para outros desafios. Ao final, adentrei na vida acadêmica, porém minha paixão pelo Club Sportivo Sergipe nunca foi deixada de lado, não me tornei um atleta sonhador, para me tornar um fiel torcedor. E desde aquela época jamais deixei de acompanhar a trajetória do Mais Querido.
De certa forma, como todos os novos torcedores do Sergipe, eu estava mal acostumado, afinal vivenciei grandes equipes do Sergipe e vi jogar atletas como Sandoval, Rocha, Elenilson, Lêniton, entre outros. Feliz eu comemorei o hexa campeonato do Clube em 1996, após ver o sonho da primeira divisão do Campeonato Brasileiro bater na trave com o sexto lugar na classificação geral da Série B de 1995. Entretanto, desde 2003 nada de títulos, problemas administrativos complicados, dívidas crescentes, entra e sai de presidentes e a torcida já não aguentava mais tamanha falta de respeito com o Mais Querido. E ainda era preciso ouvir as provocações dos rivais que espalhavam falácias segundo as quais outras associações menores seriam maiores que o Gigante Rubro de Sergipe. Para completar esse cenário nebuloso, no ano passado o CSS se livrou do rebaixamento na última rodada em uma partida dramática contra a Associação Olímpica de Itabaiana, Clube que seria o campeão estadual daquele ano.
O problema parecia insolúvel: como um clube tão tradicional quanto o CSS poderia permanecer quase uma década sem nenhum título importante? O que esperar em 2013 de um clube que quase foi rebaixado e com tantos problemas administrativos?
Pois bem, o campeonato começou e a coisa foi tomando outro rumo. Inicialmente, veio o título do primeiro turno, porém maculado pelas opiniões depreciativas que a disputa fora um engodo, pois não contava com os dois clubes favoritos ao título: a Associação Desportiva Confiança e, a atual campeã, a Associação Olímpica de Itabaiana, que disputavam a Copa do Nordeste. Entretanto, o segundo turno teve início com a mesma garra dos jogadores, da torcida e dos dirigentes em conquistar o título estadual, e o Club Sportivo Sergipe, ao invés de ter maiores dificuldade com a chegada dos grandes rivais, continuou forte e soberano, acabando o segundo turno da mesma forma que encerrou o primeiro: na parte superior da tabela. O campeonato deveria ter acabado naquela ocasião, afinal o CSS havia ficado em primeiro lugar nos dois turnos. Todavia, era necessário provar mais! Novamente o CSS foi vitorioso no cruzamento olímpico e, após duas partidas difíceis contra a Sociedade Esportiva River Plate, nas finais do Campeonato Sergipano o Sergipe sagrou-se campeão de forma maiúscula e indiscutível.
Enfim, parece que a urucubaca foi embora de uma vez, afinal esse título não é apenas mais um para ser somado aos outros 32 títulos estaduais do Mais Querido. Esse título representa uma verdadeira redenção da maior agremiação esportiva do Estado de Sergipe. O ano de 2013 é especial e marca o retorno do Gigante Rubro de Sergipe ao lugar que sempre deveria estar: o de grande campeão sergipano e maior representante do futebol do estado a nível nacional. Afinal, além de acabar com o jejum de títulos estaduais o CSS garantiu sua vaga no Campeonato Brasileiro da Série D, na Copa do Brasil de 2014 e na Copa do Nordeste, também em 2014. Ao fim e ao cabo, está mais que demostrado que o CSS é grande, tem tradição e uma enorme torcida apaixonada, que essa tradição seja sempre perpetuada em qualquer esporte que leve consigo o escudo do Sergipe, do Remo ao Futebol, do Vôlei ao Futebol Americano. Salve o Club Sportivo Sergipe!
*Professor de Filosofia do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (Codap-UFS), mestre e doutorando em Filosofia pela UFBA.