Saber Ciência / Douglas Leoni
10/09/2009
Nos últimos meses tem havido discussões acaloradas nos meios políticos, imprensa e sociedade em geral a respeito da qualidade do transporte metropolitano de Aracaju. Recentemente foi regulamentada a categoria de moto-táxi pelo presidente da República, embora ainda precise ser debatida na câmara de vereadores. Os táxis-lotação também brigam por mais espaço em comunidades onde o sistema de ônibus é sofrível, como é o caso do Santa Maria. Em áreas metropolitanas como Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão aconteceram depredações de ônibus pela população, insatisfeita com a falta de cumprimento de horários, péssima manutenção e até mesmo falta de cordialidade dos profissionais rodoviários, mesmo com uma tarifa elevada de R$1,95. O que poucas pessoas discutem ou sugerem, é a carência em nossa capital de um transporte mais eficiente e acessível para a população: o transporte ferroviário.
Nos últimos anos apenas algumas propostas tímidas, soltas e pontuais tem se feito presentes a respeito do transporte de passageiros por trilhos em Aracaju. Em meados dos anos 1990, parlamentares de Maruim levantaram a idéia de retorno desse transporte, mas infelizmente não foram levados a sério pelo governo estadual e federal na época. Contudo, observamos que a saturação das vias públicas da capital aliada à defasagem do Sistema Integrado de Transporte obriga todos os cidadãos da zona metropolitana de Aracaju a vislumbrar a implantação dos trens como alternativa. É bem verdade que o trem de passageiros não seria uma novidade em terras sergipanas. Na década de 1950 esse meio de transporte era o mais utilizado por pessoas do interior em deslocamento para a capital e vice-versa. Com os investimentos em rodovias o sistema ferroviário foi cada vez mais tornando-se obsoleto até ser desativado ainda na década de 1960. Para retomar esse meio de transporte tão sério e eficaz é necessário provarmos com alguns dados importantes:
O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) tem capacidade de abarcar um maior número de passageiros. Existem vagões que podem levar entre 150 a 200 passageiros, o que poderia equivaler a 4 ou 5 ônibus. O trem é ecologicamente correto, pois é movido a eletricidade, economizando combustíveis fósseis e melhorando a qualidade do ar. Em conseqüência o preço da tarifa despenca. Segundo dados atuais da CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos) em Recife o metrô de superfície transporta 190 mil passageiros/dia ao preço de R$1,40 atendendo as cidades de Recife, Jaboatão, Cabo e Camaragibe, um núcleo de mais de 2 milhões de habitantes. Em Maceió, ao preço social de R$0,50, seis mil pessoas/dia utilizam os trens para se dirigir a Santa Luzia, Satuba e Rio Largo, num percurso de 32 km. O mesmo preço é praticado em João Pessoa, que tem uma malha férrea de 30 km transportando 8 mil passageiros até Cabedelo, Bayeux e Santa Rita. Nesses três exemplos a velocidade média é superior a 25km/h, ao passo que nos horários de pico em Aracaju a velocidade média é inferior a 20 km/h
Aracaju tem uma grande vantagem: é uma cidade plana, de fácil circulação. Já existe uma via férrea, com extensão de 40 km, que pode ser remodelada e modernizada, existe crédito federal para esse investimento. A princípio poderiam ser criados dois ramais, ambos partindo da Estação Leste, no bairro Getúlio Vargas. No sentido norte em direção ao município de N. S. do Socorro e seus grandes núcleos urbanos, criando-se no percurso estações em localidades como Bugio, Veneza, Parque São José, Boa Viagem, etc. No sentido sul o VLT seguiria com destino final ao Santa Maria, criando-se estações em localidades como Ponto Novo, Jabotiana, Orlando Dantas, dentre outras. O ônibus entraria no sistema de integração rodoferroviária na Estação Leste, partindo desta para o Centro sem cobrança de nova tarifa ou pelo menos com uma redução no valor, otimizando um corredor na Av. Coelho e Campos para que esses ônibus fizessem o trajeto de maneira rápida e eficiente. A longo prazo o sistema poderia ser estendido para São Cristóvão, Itaporanga, Maruim e Laranjeiras. Se Aracaju quiser manter o status de cidade de boa qualidade de vida, precisa pensar urgentemente na melhoria do trânsito e do transporte. As futuras gerações agradecem.
Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.
Douglas Leoni é Professor de Geografia da Rede Municipal de Itaporanga d’Ajuda e da Rede Estadual em Aracaju; Estudante de Relações Internacionais da UFS."