Saber Ciência / Rosemeri Melo e Souza e Wagner Xavier Resende
08/06/2010
Na capital de Sergipe, os processos de degradação da paisagem natural por conta da intensa ação antrópica não ocorrem de modo diferente do contexto brasileiro.
Neste artigo, salientamos a importância das áreas verdes públicas urbanas – formadas pelas praças, canteiros e parques urbanos arborizados – que devem atender a três funções básicas: a ecológica, a estética e o lazer para a população, uma vez que fornecem o sombreamento para as pessoas, tornando o ambiente mais confortável, a prática de atividades físicas e recreativas, além de favorecer também a sociabilidade urbana, contribuindo para saúde física e mental dos moradores, entre outras finalidades.
As áreas verdes também funcionam como amortecedoras de sons, diminuindo a poluição sonora, contribuindo para a tranqüilidade da comunidade. Conferem beleza estética à paisagem urbana, atendendo a aspirações psicológicas e culturais das pessoas. Além disso, as copas das árvores diminuem o calor nas cidades e filtram os poluentes, purificando o ar e tornando o ambiente mais agradável à convivência humana e da avifauna principalmente, melhorando assim a qualidade de vida dos habitantes.
Por tais razões, entre outras, rediscutir e ampliar o debate sobre a necessária correção de assimetrias referentes à disposição de áreas verdes urbanas começa, forçosamente, pela definição dos espaços públicos disponíveis para abrigar o verde de que tanto precisamos e queremos ver nas cidades. Tal discussão encontra momento dos mais oportunos, posto estarmos em pleno processo de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), mais conhecido como Plano Diretor de Aracaju.
O estudo ainda não abrangeu a zona de expansão, mas observações preliminares permitem afirmar que a falta de medidas urbanísticas mais incisivas de parte do poder público municipal tem contribuído para o surgimento de problemas específicos no tocante à escassez do acervo arbóreo urbano.
A distribuição espacial na cidade das áreas verdes públicas ocorre de forma heterogênea, pois há um menor número de tais áreas nos bairros da Zona Norte quando comparado com bairros da Zona Sul e no Centro. Nos bairros Jardim Centenário, Olaria, Soledade, Capucho, Palestina, Lamarão, Porto Dantas e Cirurgia (localizados na Zona Norte), e Coroa do Meio (situado na Zona Sul) não foram constatados áreas verdes públicas. Desse modo, verifica-se que os problemas ambientais também obedecem à lógica dos contrates sócio-econômicos.
As disparidades na distribuição da cobertura vegetal dos espaços públicas foram constatadas ao registrar que enquanto no bairro Centro foram computados 444 indivíduos arbóreos, na Zona Norte (formado por 19 bairros) foram contabilizadas somente 442 árvores, enquanto na Zona Sul foi registrado um total de 1.761 árvores. Na pesquisa de campo, foi observado que existem 12 terrenos baldios cadastrados com o nome de praça pública. Destes terrenos baldios, cinco estão localizados na Zona Norte e sete na Zona Sul.
Além dos bairros sem áreas verdes públicas, alguns bairros mais populosos, como a Farolândia, São Conrado, Santos Dumont e Cidade Nova, merecem também maior atenção na arborização dos espaços públicos, que em geral, são caracterizados pela escassez de indivíduos arbóreos. No total, contabilizou-se 2.647 indivíduos arbóreos na cidade. Deste total, 67,9% correspondem ao mata-fome (Pithecelobium glaziovvi), a amendoeira (Terminalia cattapa), o oiti (Licania tomentosa) e o fícus (fícus ssp.) que são as espécies arbóreas mais encontradas.
A pesquisa aqui discutida sobre Áreas Verdes Públicas de Aracaju foi realizada pelos autores no Departamento de Geografia, no período de 2006 a 2008. Esta pesquisa permite-nos afirmar que, em Aracaju, a arborização pública necessita de urgente e destacada atenção, tanto do poder público quanto da população e seus representantes, principalmente no transcurso do processo de reformulação do Plano Diretor Municipal.
Currículo
Rosemeri Melo e Souza - Professora do Departamento de Geografia, do Núcleo de Pós-Graduação em Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Líder de Pesquisa do Geoplan/CNPq/UFS.
Wagner Xavier Resende - Licenciado em Geografia, graduando em geografia bacharelado e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial Geoplan/CNPq-UFS.