Ter, 27 de setembro de 2011, 11:01

Alimentação no período colonial sergipano: notas sobre o umbuzeiro
Alimentação no período colonial sergipano: notas sobre o umbuzeiro

Saber Ciência / Antonio Lindvaldo Sousa


08/06/2010


Umbuzeiro: planta nativa de parte do sertão e do agreste brasileiro. Era conhecida pelas tribos tupinambá como y-mb-u, que significa "água que dá de beber". Ela é um perfeito reservatório de água, também conhecida por “imbu”. A copa do umbuzeiro é larga (até 10 metros de diâmetro), desprovida de folhas durante o período da seca. Chega até no máximo 6 metros de altura. A safra do umbu ocorre mais nos meses de dezembro a março, período de muito sol no sertão.


Em 1587, o autor do Tratado Descritivo do Brasil, Gabriel Soares de Sousa, já mencionava a importância do umbu para matar a sede dos "nativos", os índios: "Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga, que está pelo menos afastado vinte léguas do mar, que é terra seca, de pouca água, onde a natureza criou a estas árvores para remédio da sede que os índios por ali passam".
O umbuzeiro mata não apenas a sede, mas a fome também. Os índios, ainda segundo Sousa, comiam “esta raiz, que é mui sadia, e não fez nunca mal a ninguém que comesse muito dela". A respeito de como se coletavam essa raízes, o autor ainda descreve: “para o gentio saber onde estas raízes estão, anda batendo com um pau pelo chão, por cujo tom o conhece, onde cava e tira as raízes de três e quatro palmos de alto, e outras se acham à flor da terra, às quais se tira uma casca parda que tem, como a dos inhames, e ficam alvíssimas e brandas como maçãs de coco; cujo sabor é mui doce, e tão sumarento que se desfaz na boca tudo em água frigidíssima e mui desencalmada...".

Quando iniciou o processo de ocupação das terras de Sergipe no século XVII, essa árvore se tornou companheira aliada do vaqueiro que encontrava nela a possibilidade de matar sua sede após dias ou semanas tocando o gado em direção ao rio São Francisco. O vaqueiro também poderia acender uma fogueira e colocar num vasilhame uma pequena quantidade de umbu com água, leite e rapadura, transformando num forte caldo para beber, chamada de "umbuzada", e aguentar dias de labuta no trabalho com o gado. Ele é energético, contém vitaminas "B" e "C".

Os vaqueiros aproveitaram as raízes dessa árvore à maneira indígena. A utilização do umbuzeiro chega a “sociedade do couro” via o índio. Muitos deles tornaram-se trabalhadores do gado, vaqueiros, passando suas práticas de sobrevivência em áreas de difíceis penetração humana, principalmente no que tange a sede e a fome.


Currículo
Doutor em História e professor das disciplinas temas de História de Sergipe I e II do Departamento de História da UFS.


Atualizado em: Ter, 27 de setembro de 2011, 11:01
Notícias UFS