Saber Ciência / Lilian França
08/06/2010
O mercado de cinema e de audiovisual brasileiro foi duramente afetado pela extinção da EMBRAFILME e da Fundação do Cinema Brasileiro em 1990, pelo presidente Fernando Collor. Sem qualquer outra forma de respaldo governamental e sem a possibilidade de captar recursos junto à iniciativa privada, o cinema brasileiro caiu numa espécie de ponto morto, que só vai ser modificado com o chamado “cinema da retomada”, justamente com o surgimento das leis de incentivo fiscal.
No âmbito da América Latina, o panorama não difere muito. Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Chile e Bolívia reúnem uma população de aproximadamente 296 milhões de pessoas. O mercado audiovisual, nos sete países arrecadou, em 2007, perto 641 milhões de dólares, 400 milhões no Brasil, segundo dados fornecidos pela Recan – Reunión Especializadas de Autoridades Cinematográficas y Audiovisuales Del Mercosul y Estados Asociados.
O Brasil, segundo a Recan, foi o país que mais exibiu filmes, 333 títulos, 78 deles nacionais, representando 23,4% das películas exibidas, apenas a Argentina, teve 32% dos filmes exibidos produzidos na própria Argentina. O Brasil teve 89 milhões dos 160 milhões expectadores dos sete países juntos, mas apenas 11% dos expectadores assistiu aos filmes nacionais.
Em 2007 o filme mais assistido, e polêmico, foi “Tropa de Elite”, cuja versão pirata foi distribuída através da Internet antes mesmo de seu lançamento, mas esse fato não impediu uma das mais significativas bilheterias da história, com mais de 2 milhões e meio de expectadores. Com um orçamento estimado em 5 milhões de dólares, o filme arrecadou quase 30 milhões de reais.
Os filmes nacionais com maior número de telespectadores foram: “Dona Flor e seus dois maridos”, 1976, 10 milhões e 800mil, 1978, “A dama do lotação” seis milhões e 500 mil, “O trapalhão nas minas do Rei Salomão”, 1977, 5 milhões e 800 mil. “Se eu fosse você 2”, 2009, 5 milhões e 324 mil, “Dois filhos de Francisco”, 2005, 5 milhões 319 mil.“Dois filhos de Francisco” foi o filme de maior público no chamado cinema da retomada e “Se eu fosse você 2” arrecadou 49 milhões, perdendo apenas para “Titanic”, que arrecadou 78 milhões de reais.
No que diz respeito ao audiovisual, fica tudo ainda mais complexo. Além da ANCINE, articula-se a criação da ANCINAV Agencia Nacional do Cinema e do Audiovisual. Ainda que o projeto carregue muitos pontos extremamente polêmicos, uma coisa ele faz, chama a atenção para a grade diversidade de produções audiovisuais. Além de longas e curtas, produtos oriundos de câmeras filmadoras mais simples, máquinas, fotográficas e celulares, começas a surgem com rapidez (veja-se o exemplo do Festival do NANO MINUTO), além de animações, sites. Blogs, flogs, wikis e toda uma nova série de ferramentas. Em 2008 ocorreu a I Feira Livre do Audiovisual do Rio de Janeiro e o I Fórum do Mercado Audiovisual – RJ, abordando temas como produção e difusão de filmes livres e distribuição, exibição e formação de platéias.
As leis de incentivo fiscais tem fornecido os recursos para a retomada do setor. De acordo com o Observatório do Direito a Comunicação, “Apesar de menos de 5% das empresas aptas a usar as leis de incentivo à cultura o fazerem, desde que a Lei Rouanet foi criada, em 1995, os investimentos culturais feitos por meio dela mantêm o ritmo de crescimento - em 1999, por exemplo, foram investidos R$ 211 milhões, e em 2003, R$ 430 milhões. A captação de recursos se concentra no último quadrimestre, época de aprovação dos projetos. Nesse período, como destaca o jornal Valor Econômico já se pode notar uma redução nos recursos, de R$ 540 milhões nos quatro meses finais de 2007, para R$ 416 milhões no mesmo período do ano passado”. Espera-se que isso seja reflexo da crise e possa ser superado brevemente.
Currículo
Doutora em Comunicação. Departamento de Artes e Comunicação/UFS.