Ter, 04 de agosto de 2020, 15:21

Projeto EpiSergipe sendo uma ferramenta de enfrentamento da covid-19 em São Cristóvão
Prof. João Batista Cavalcante Filho e Mayra de Oliveira Mendonça

No final do ano de 2019, um novo coronavírus foi identificado como a causa de um conjunto de casos de pneumonia em Wuhan, China, provocando a emissão de um alerta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com alta infectividade, o vírus se espalhou rapidamente por todo o mundo, sendo designado como SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus 2), e a doença que provoca, nomeada covid-19 (coronavírus 2019). Seguindo os passos da disseminação da doença, foi no Brasil o primeiro caso diagnosticado de covid-19 na América do Sul, registrado em 26 de fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo. Em Sergipe, o primeiro caso foi diagnosticado em 14 de março de 2020, em uma mulher residente em Aracaju, de 36 anos, que havia retornado da Espanha.

O primeiro caso diagnosticado no município de São Cristóvão teve exame positivo no dia 14 de abril de 2020. Desde o início da pandemia, ações assistenciais, de vigilância epidemiológica e de vigilância sanitária - como a instituição do centro operacional de emergência, a definição de duas unidades de referência em síndromes gripais, a implantação do WhatsApp do coronavírus para acesso da população para tirar dúvidas e receber orientações, do plantão psicológico para teleatendimento, monitoramento de casos positivos e suspeitos, a instalação de 14 leitos novos leitos de observação, sendo 2 de estabilização com respirador na Unidade de Urgência 24h, a contratação de novos profissionais de saúde, a potencialização das fiscalizações sanitárias em feiras e estabelecimentos, entre outras - vêm sendo executadas no intuito de enfrentar este que é o maior desafio de saúde pública da história do Sistema Único de Saúde (SUS).

Neste enfrentamento, toda a parceria é mais que bem-vinda. A proximidade da gestão municipal de São Cristóvão com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) não é exclusivamente física, já que o maior campus da Universidade fica em nosso município. A parceria mais recente é a realização de um inquérito sorológico e de estudo populacional para identificação de pessoas com SARS-CoV-2, ou seja, a realização de exames laboratoriais para covid-19 na população em geral. O inquérito é parte do Projeto EpiSergipe da UFS (coordenado pelos professores Adriano Antunes, Luís Ribeiro e Karyna Sposato) que fará levantamento epidemiológico nas 3 mesorregiões do estado e acompanhará 8 municípios (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, Itabaiana, Estância, Lagarto, Nossa Senhora da Glória e Própria) visando apresentar quinzenalmente o cenário de contaminação da covid-19 em Sergipe, além de gerar dados de georreferenciamento e acompanhamento dos indivíduos infectados. Com os dados desta pesquisa, teremos informações fundamentais para qualificar as políticas públicas no cuidado da população.

No mês de julho em São Cristóvão, em dois dias de coleta, foram realizados 369 testes rápidos para SARS-CoV-2. Equipes de pesquisadores da UFS se uniram às equipes de gestão e às equipes de saúde da família da Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão para executar o estudo. Distribuídos em diversos bairros da cidade, 69 destes testes rápidos foram positivos, indicando que estas pessoas tiveram contato com o novo coronavírus e desenvolveram anticorpos. Uma das etapas fundamentais do estudo é realizar um teste confirmatório dos testes rápidos positivos. Nos testes confirmatórios, 61 pessoas foram identificadas com a presença de Imunoglobulina G (IgG). As Imunoglobulinas são proteínas protetoras contra o vírus, e a IgG está implicada com proteção de longo prazo contra as doenças. Como a covid-19 é uma doença nova, estudos são necessários para certificar se esta proteção pelo IgG é eficaz para proteção de longo prazo contra este novo coronavírus, mas sua a presença em parte de nossa população em estudo é uma boa notícia.

O resultado desta primeira etapa da pesquisa foi animador. Realizaremos, em conjunto com a Universidade Federal de Sergipe, outros três momentos de coleta de exames, totalizando mais de 1.000 exames analisados no município. Neste momento onde os números apontam para uma estabilização no número de casos novos - porém ainda em níveis considerados elevados - e onde iniciamos um processo de retomada de algumas atividades econômicas, os estudos realizados pelo projeto EpiSergipe são de suma importância para o planejamento em saúde, para tomada de decisões, para uma reabertura o mais segura possível e conciliada com o cuidado com cada cidadão.

São Cristóvão se colocou à disposição para ser a primeira cidade a receber o inquérito do EpiSergipe. Fruto de uma confiança construída em inúmeras parcerias anteriores com a UFS, e por crer que a união de projetos de saúde e educação, tendo as evidências científicas como lastro, sempre geram um cuidado melhor. Os dados obtidos já estão contribuindo com o aperfeiçoamento do estudo e, consequentemente, atuando no combate a pandemia em todo o estado de Sergipe.

Uma das lições a serem aprendidas com o desafio do enfrentamento da crise provocada pelo novo coronavírus é a união necessária entre pessoas e instituições. Usar máscara, lavar as mãos várias vezes ao dia, promover o distanciamento social possível e outras medidas de segurança são um papel de todos e de cada um. Contamos com cada cidadão para cuidar de si e do outro. E todos podem contar com o trabalho da Prefeitura Municipal de São Cristóvão, e também da parceria com a UFS.

Prof. João Batista Cavalcante Filho é médico e professor da Universidade Federal de Sergipe.

Mayra de Oliveira Mendonça é enfermeira e Diretora de Vigilância e Atenção à Saúde da SMS de São Cristóvão.

Ambos compõem o Centro Operacional de Emergência para combate à Covid-19 da Secretaria de Saúde de São Cristóvão e são colaboradores do Projeto EpiSergipe.