Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabiam ler passou de 1,5 milhões em 2019 para 2,36 milhões em 2021, correspondendo a um aumento de 66% de crianças não alfabetizadas nos últimos dois anos no país.
Dessa forma, questões como evasão escolar, repetência e dificuldades de aprendizagem, que já permeavam a educação básica há anos, ganharam novas proporções diante da pandemia de covid-19 e o consequente ensino remoto, que atingiu 99,3% das escolas brasileiras, segundo pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O cenário de ordem nacional, que também impactou os estudantes do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (Codap), sobretudo os do 6º ano, fez com que a professora de Língua Portuguesa Alessandra Pereira sentisse a necessidade da identificação de um perfil leitor desses estudantes, a fim de que o material didático utilizado em sala de aula fosse compatível às suas compreensões linguísticas.

"De forma geral, o processo de alfabetização não se completa nas idades iniciais esperadas e muitos alunos chegam ao 6⁰ ano sabendo ler as palavras, mas não decodificando os enunciados, ou seja, com a automaticidade na decodificação da leitura muito precária ou até mesmo nula, provocando prejuízos no seu processo de letramento. Assim, identificando o perfil leitor desse estudante, é possível estabelecer um planejamento didático que lhe seja favorável e pertencente, almejando a sua permanência na sala de aula, uma vez que as dificuldades de aprendizagem também são causas da evasão escolar ", explica a professora.
Observando resultados significativos com a identificação do perfil leitor nos estudantes do Codap desde 2018, Alessandra resolveu aplicar a metodologia fora dos muros da UFS, coordenando o projeto de Extensão "Letramento em português: entre leituras e escritas" , que visa auxiliar professores na identificação da automaticidade linguística dos estudantes da Escola Estadual Armindo Guaraná, localizada no bairro Rosa Elze, em São Cristóvão.
Segundo a coordenadora, o projeto é uma possibilidade de compartilhar com a comunidade os resultados das ações desenvolvidas pelo Codap e de proporcionar a outros estudantes melhores condições de letramento em sua formação escolar.
"Desde 2010, quando iniciamos a primeira turma via sorteio público, já aplicávamos estruturas de letramento com os estudantes que estavam ingressando no Codap em turnos opostos aos de sala de aula. Em 2018, passamos a identificar o perfil leitor, a automaticidade linguística deles, e os resultados foram significativamente expressivos. Assim, esse projeto de extensão, que conta com a participação de graduandos do curso de Letras Português da UFS, visa auxiliar outros estudantes da rede estadual através das orientações repassadas aos seus professores para que estes possam identificar o perfil leitor dos estudantes e preparar os materiais didáticos condizentes com suas habilidades linguísticas", diz a professora Alessandra Pereira.
Para o diretor do Colégio de Aplicação da UFS, professor Carlos Alberto Barreto, os projetos de extensão são fundamentais para que as comunidades interna e externa tenham ciência de que, assim como a graduação e a pós-graduação da UFS, o Codap tem um papel social de relevância na formação educacional.
"É muito interessante que a gente possa desmistificar o conceito de que a universidade se baseia nas produções da graduação e da pós-graduação, uma vez que a UFS tem um colégio de formação que trabalha em sua totalidade com a tríade ensino, pesquisa e extensão. Atualmente, fora as diretrizes de ensino e os inúmeros projetos de pesquisa, temos 17 projetos de extensão catalogados, fazendo com que a comunidade participe ativamente de boa parte do que produzimos aqui, explica o diretor Carlos Alberto.
Para ele, o projeto de letramento em português é uma oportunidade de direcionar o estudante para um processo linguístico efetivo, colaborando assim para um acolhimento em sala de aula, sobretudo após os dois últimos anos em que estiveram longe delas.
"Esse é um projeto muito transformador pelo momento em que estamos vivendo. Se já haviam lacunas na modalidade presencial, elas se tornaram mais evidentes após a pandemia, trazendo um declínio linguístico muito grande. Assim, essa avaliação do perfil leitor dentro e fora do Codap contribuirá para que esses estudantes passem pelo processo de letramento de forma satisfatória e inclusiva", explica Carlos Alberto.
O projeto, que pretende atender cerca de 60 estudantes, contará com oficinas pedagógicas de leitura e escrita em turno oposto ao de sala de aula dos estudantes do Colégio Estadual Armindo Guaraná durante o ano letivo de 2022 e terá a participação de sete bolsistas (voluntários e remunerados) do Departamento de Letras da UFS
Jéssica Vieira - Ascom UFS
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