Quase trinta mil volumes de Filosofia, Direito, Teologia, História e várias outras áreas do saber foram entregues à Universidade Federal de Sergipe e já estão disponíveis para consulta na Biblioteca Central (Bicen), na Cidade Universitária.
No primeiro andar do prédio, o espaço batizado de Sala Paulo Almeida Machado disponibiliza o acervo pessoal que o ex-professor de muitas gerações e ex-procurador-geral da universidade reuniu durante mais de sessenta anos de estudos, até o seu falecimento em 2015.
A iniciativa da doação partiu do próprio Paulo Machado que, ainda em 2013, dirigiu carta à gestão da universidade manifestando o desejo de doar todo o seu acervo, pelo qual, conta o seu filho e também professor do Departamento de Direito, Carlos Augusto Alcântara Machado, mantinha grande cuidado e zelo, mas do qual teve de se afastar por motivo de saúde.
“Era muito ciumento. Não os emprestava. A quem se interessava por eles, comprava outro volume e presenteava com o novo exemplar. Fez isso inúmeras vezes. Os seus eram seus. Com eles, viveu, e em razão deles, morreu (fibrose pulmonar ocasionada por ácaros). Mas morreu feliz. E morreu já tendo dado um destino à obra da sua vida”, conta.
Ele relata ainda que o pai “não deixou livros publicados, mas demonstrando profundo espírito público, quis que o patrimônio cultural, representado nos seus livros, tivesse uma destinação pública. E hoje esse sonho se concretiza”. Confira a íntegra do discurso.
O material começou a ser trazido para a UFS e catalogado pelo então diretor da Bicen Luiz Marchiotti Fernandes, falecido em 2019. Posteriormente, contou com o esforço do bibliotecário José Nairson, que encabeçou o trabalho de organização e catalogação das obras, até estarem disponíveis para a cerimônia ocorrida hoje, 14 de julho, marcando a entrega oficial do acervo, aberto à consulta da comunidade.
O presidente da Academia Sergipana de Letras Jurídicas de Sergipe, Eduardo Macedo, ex-aluno de Paulo Machado, contou que esse é um grande privilégio, porque essas obras, até então, estavam disponíveis apenas para os discentes mais chegados ao professor.
“A universidade disponibiliza mais conhecimento, mais ciência, mais cultura. Fiz uma breve visita aqui e senti saudade do tempo da universidade, porque algumas obras, só o professor tinha, nem mesmo a universidade possuía. Essa é uma homenagem muito justa, a um sergipano ilustre, que ajudou a construir o saber jurídico e a própria UFS”.
Os livros poderão ser consultados, mas não estarão disponíveis para retirada. É o que explica a Diretora da Bicen, Selma da Silva Santos. “Esse acervo agrega aos mais de cem mil materiais que já temos e amplia a possibilidade de pesquisa para toda a comunidade. Mas não iremos permitir o empréstimo porque podem acontecer perdas e acidentes; a própria retirada para fotocópia também pode danificar a encadernação, por isso as obras estarão disponíveis apenas para consulta local”.
O reitor Valter Santana frisou a importância do conjunto disponibilizado pelo ex-professor Paulo Machado. “Homenageamos um dos nossos mais honrosos quadros, um sujeito de auspiciosa carreira, cuja trajetória de vida e serviço público são meritosos de toda reverência pela sociedade sergipana”. E completou: “Essa sala honrará a memória do nosso homenageado todas as vezes que o acervo aqui disponível servir para inspirar e impulsionar os estudos e a curiosidade dos nossos alunos”.
Biografia
Nascido em Lagarto em 1927, graduado em Direito, Letras, Filosofia e Teologia, Paulo Almeida Machado foi jornalista, poeta, filósofo, advogado e professor, lecionando na antiga Faculdade de Direito e da Faculdade Católica de Filosofia, escolas que posteriormente viriam a compor a Universidade Federal de Sergipe, em 1968.

Foi procurador-chefe da assessoria jurídica da universidade, chefe do Departamento de Direito, vice-diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA), servindo à instituição por mais de 40 anos, até se aposentar voluntariamente em 1995, como Professor Titular. Em 1999, recebeu do Conselho Universitário (Consu) o título de Professor Emérito.
Atuou como advogado do Banco do Brasil por trinta e cinco anos, foi secretário da Casa Civil nos governos de João Andrade Garcez e Paulo Barreto de Menezes e diretor do Jornal católico “A Cruzada”, da Arquidiocese de Aracaju e foi patrono da Cadeira nº 28 da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.
Ascom
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