Qui, 22 de setembro de 2022, 14:18

UFS traz pela primeira vez Quarteto de Flautas a Sergipe em parceria com UFBA
Apresentação ocorreu no II Simpósio Internacional de Flautistas de Sergipe, de 12 a 13 de setembro
(Fotos: Fred Andrade/Quarteto de Flautas da Bahia)
(Fotos: Fred Andrade/Quarteto de Flautas da Bahia)

A Universidade Federal de Sergipe (UFS), através do Departamento de Música, vem investindo em parcerias e promovendo eventos que fomentem no Estado um habitus da popularização musical e disseminação de novos repertórios em Sergipe. Em um ano representativo na história brasileira – ano do Bicentenário da Independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna –, foi realizado o II Simpósio Internacional de Flautistas de Sergipe (II SIFS), nos dias 12 e 13 de setembro, na Didática VII, na Cidade Universitária.

Com o objetivo de familiarizar os sergipanos a concertos de Flauta Transversal com um repertório multifacetado, o concerto ficou a cargo do Quarteto de Flautas da Bahia. Essa foi a primeira vez que Sergipe recebeu o Quarteto. Para o professor do Conservatório de Música de Sergipe (CMS), Wolfgang Adary Ferreira Ribeiro, o sentimento é único.

“Para mim, é uma felicidade grande poder ouvir e aprender com esse grupo que tem em sua composição dois dos meus professores: João Liberato, com quem iniciei os estudos e o professor Lucas Robatto com quem atualmente estudo na Universidade Federal da Bahia”, elogiou o participante do evento.


Essa emoção se deve ao naipe da formação do Quarteto, composto por doutores, doutorandos e mestres na área musical: Lucas Robatto, João Liberato, Rafael Dias e Leandro Oliveira.

Além do Quarteto, o evento contou com a participação especial do flautista sueco Anders Ljungar-Chapelon, professor do Royal Northern College of Music (Manchester/Inglaterra) e da Lund University/Malmo Academy of Music (Malmö/Suécia).

Para os alunos, foi um momento de aprendizado. “A presença do Quarteto de flautas da Bahia aqui em Sergipe é muito importante para que os estudantes de música entrem em contato com músicos de alta performance e despertem motivação para os estudos”, disse Wolfgang Adary Ferreira Ribeiro, opinião compartilhada pelos seus alunos do conservatório:


Quarteto e participantes
Quarteto e participantes

“Foi o máximo. Eu gostei muitíssimo, amei! Pena que vai demorar para revê-los”, disse Selma Claide dos Santos.

“Fiquei muito emocionado e admirado com o nível técnico dos flautistas. Impressionante!”, disse Thiago de Jesus Costa, que veio acompanhado da sua irmã Letícia de Jesus Costa, 10 anos. “Eles são muito bons. Fiquei impressionada com o tamanho de outras flautas que eu não conhecia. Eu gostei muito como eles começaram a tocar as músicas”, relatou Letícia.

Os alunos de música da UFS também demonstraram entusiasmo com a vinda do Quarteto:


“Toco piano e teclado e o interessante é conhecermos a dinâmica de cada instrumento. Fiquei impressionada pelos músicos fazerem movimentos de percussão com a própria flauta. O bonito é observarmos essas intimidades de dinâmicas que cada instrumento tem”, contou Maria de Fátima Bernardo do Santos.

“Acredito que a vinda de grupos como o Quarteto de Flautas serve como incentivo musical, tanto para o professor como para os alunos. A virtuosidade dos integrantes é impressionante, serve como inspiração”, disse Daniel Antônio de Jesus Melo.

Mas, a que se deve tantos elogios? Com um repertório musical que trouxe a miscigenação brasileira, o musicista e integrante do Quarteto, Rafael Dias, discente da pós-graduação da UFBA, integrante do grupo "Troca Interativa", compositor de "Três Emoções", um dos repertórios tocados no evento, falou sobre sua relação com a música e Sergipe.


Prof. Wolfgang com alunas do CMS
Prof. Wolfgang com alunas do CMS

“Meu pai nasceu em Carira, e minha avó por parte de mãe nasceu em Lagarto. Passava todas as férias de escola em Lagarto na minha infância. Assim, a peça Três Emoções surgiu de um desejo de criar música com aspectos identitários do Nordeste. Escolhi três delas e fiz três movimentos distintos, cada um representando uma emoção. Então, ficaram três emoções: alegria, tristeza e raiva. A primeira vez que fui em Carira foi por volta dos 18 anos. Embora não tenha ido lá em minha infância, eu ouvia algumas histórias de meu pai. Uma delas é quando meu pai, ainda criança, ouvia a banda de pífanos na feira de Carira e que me inspirou no primeiro movimento da peça, o Alegria”, explicou Rafael Dias.

Outro integrante do Quarteto ressalta a importância do fomento da música no universo acadêmico. “O Quarteto de Flautas é um grupo musical que tem como foco a pesquisa. Conciliar o universo da pesquisa com a prática musical é muito difícil. Ainda mais quando se quer alcançar um nível elevado, a altura das composições dos grandes músicos que nos propusemos a tocar, não é nada fácil. Mas, estar aqui é mostrar que isso é possível, com todas as dificuldades que podem ocorrer”, colocou Leandro Oliveira (Tigrão), que é discente da Pós-graduação da UFBA, integrante da Orquestra Jazz Sinfônica e do "Bando do Tigrão"

“Nossa convivência pessoal e artística é muito fácil, pois compartilhamos uma mesma linha básica de pensamento flautístico, nossos diálogos e trocas se dão de maneira muito fluida, natural e fácil. Com certeza o Quarteto de Flautas da Bahia é um grande motivador para todos os meus alunos. Mas devo frisar que no quarteto não sou mais o ‘professor’, aprendo muito com os colegas, e a única diferença entre nós é que eu sou o mais velho (brincou)”, garantiu Lucas Robatto, flautista da Orquestra Sinfônica da Bahia, professor da UFBA e que é ou foi orientador acadêmico dos demais integrantes do grupo.


Como nem tudo é um mar de flores, o flautista reconhece os desafios, mas prefere olhar como uma dimensão pequena comparada às alegrias. “As alegrias são muitas, tanto que as dificuldades acabam assumindo uma dimensão muito pequena. Poder sentir a empatia e a vibração do público é um privilégio para nós, e esperamos poder disseminar estas alegrias para muitas pessoas”, finalizou.

Para João Liberato, professor do Departamento de Música da UFS, coordenador do II SIFS, e integrante do Quarteto de Flautas, existem, claro, as dificuldades em desenvolver projetos de extensão como este Simpósio Internacional e como o Quarteto de Flautas da Bahia. Ele relata algumas. “A primeira é encontrar pessoas qualificadas no nível desejado. Como o Nordeste tem a tradição de formação de flautistas acaba sendo mais fácil encontrar pessoas que estejam dentro do que almejamos. Porque a proposta do quarteto é fazer um repertório de nível mais avançado e expandir um pouco os horizontes da flauta transversal. Temos trabalhado no sentido de encomendar músicas novas porque é um dos pontos mais sensíveis desse projeto, pois não existe tanto repertório de alto nível para quarteto de flautas”, explicou.

Outra dificuldade mencionada por ele são os financiamentos. “Uma das maiores, é o financiamento para as atividades do quarteto. Nem sempre a universidade consegue apoiar e nem sempre os editais do governo apoiam. A música que o Quarteto se propõe a fazer não é uma música com apelo comercial, mas que procura contribuir com beleza e inovação estética. Temos trabalhado bastante para vencer essas dificuldades, buscando estabelecer parcerias, oportunidades em editais, e auxílio junto às universidades, apesar dos poucos recursos que elas têm”, revelou.


Lucas Robatto
Lucas Robatto
Leandro Oliveira
Leandro Oliveira
João Liberato
João Liberato

O repertório

Sobre o repertório "Três Emoções" e "Maianguelê”, incluídos no concerto presencial, o que dizer? “Foi a primeira vez que o Quarteto tocou, presencialmente, este repertório que faz parte do álbum Similitudes e também do novo EP, Maianguelê. São peças inéditas para formações em conjunto. Maianguelê é uma composição do renomado músico baiano, Paulo Costa Lima, e faz alusão à cultura afro presente na Bahia, utilizando-se de elementos rítmicos do candomblé e efeitos sonoros que evocam o misticismo tradicional de Salvador. Três Emoções, de Rafael Dias, integrante do Quarteto, é uma peça composta por três movimentos. No 1° movimento, um xaxado, que evoca momentos vividos pelo pai do compositor durante a infância na feira popular de Carira. O segundo evoca o toque de Angola, em alusão à cultura negra presente na comunidade quilombola da Mussuca. O 3° movimento é um frevo que faz homenagem ao bloco de carnaval Zé Pereira, de Neópolis. Essa peça foi gravada e apresentada em um concerto virtual com recursos da UFS”, relatou João Liberato.

O Quarteto é um projeto de extensão que envolve a parceria entre as duas universidades. "Para o grupo, é muito importante, depois de um longo período afastado do concerto, voltar a tocar. Sergipe tem essa grande importância porque lança o ciclo de concertos do Quarteto, além de marcar esse novo momento de retorno do Quarteto às atividades presenciais tocando esse repertório inédito", explicou Liberato.


Vis o do ii sifs jo o liberato e chapelon foto da equipe de divulga  o marcio

Liberato destaca a importância de eventos como esse ocorrerem em Sergipe: “Sergipe ainda não está em uma rota musical internacional e quando nos propomos a fazer um evento de envergadura Internacional, tendo um flautista importante da Europa como é o caso de Chapelon, amplia os horizontes. Colocamos o público em contato com um pesquisador de alto nível. Precisamos pensar sempre nessa internacionalização como uma ponte necessária para troca de conhecimentos, para troca de cultura”, concluiu Liberato.

Sheyla Morales​/Quarteto de Flautas da Bahia


Atualizado em: Qui, 22 de setembro de 2022, 17:28