Qua, 08 de março de 2023, 10:32

UFS promove representatividade feminina no cenário acadêmico-científico
Com edital temático lançado em 2022, instituição buscou colher dados sobre a presença feminina nas diversas áreas de conhecimento

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) divulgados em julho de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2021, 51,1% da população brasileira era do sexo feminino. No que se refere ao cenário acadêmico-científico, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) aponta que, neste mesmo período, as mulheres correspondiam a 43,7% dos pesquisadores no Brasil.

Levando-se em consideração que o direito feminino de frequentar uma universidade surgiu apenas em 1879 – com autorização do cônjuge no caso de mulheres casadas e do pai em casos de mulheres solteiras -, o cenário é bastante otimista e transformador, mas ainda está longe de se mostrar igualitário.

Para a professora Renata Ferreira, que está à frente da Coordenação de Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (Copes), o número crescente de mulheres no campo da pesquisa científica representa um grande passo no aspecto social, mas ainda não caminha junto a uma cultura e uma política de equidade de gênero.

“É importantíssimo e motivador ver o crescente número de mulheres fazendo ciência no país, mas é oportuno e relevante entendermos que, na prática, os dados não refletem uma equidade de gênero, nem estrutural nem cultural. Basta pensarmos na sobrecarga feminina daquelas que cuidam – de filhos, pais, avós, familiares – e, em meio a essas demandas, ainda são cobradas para produzirem academicamente, sem levar em consideração, por exemplo, afastamentos por licença maternidade em que, naturalmente, há uma pausa em todo esse processo”, explica Renata.

Ela ressalta ainda que é necessário estabelecer políticas de acolhimento institucional capazes de sustentar esse aumento no número de mulheres e de suas produções, que têm se mostrado cada vez mais relevantes nas mais diversas áreas de conhecimento, e que, neste sentido, a UFS tem se mostrado cada vez mais disposta a dialogar com a comunidade.

“Dentro do cenário feminino, fazer pesquisa requer uma grande rede de apoio, desde a familiar à institucional e a UFS tem buscado entender quais são as principais necessidades desse grupo, que é bastante diverso. Assim, pensando em ter indicadores sobre o número de mulheres atuando nas mais diversas áreas de conhecimento, em 2022, a Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da universidade lançou um edital temático com ênfase em projetos sobre mulheres, sobre a representatividade feminina no ambiente acadêmico-científico, fazendo com que pudéssemos entender quais serão os próximos passos”, diz a coordenadora de pesquisa da UFS.


Renata Ferreira é coordenadora de Pesquisa da UFS. (Foto: Josafá Neto/Rádio UFS)
Renata Ferreira é coordenadora de Pesquisa da UFS. (Foto: Josafá Neto/Rádio UFS)

O edital temático nº 09/2022 foi lançado em conformidade com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFS e com as prerrogativas de igualdade de gênero dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), disponibilizando 40 (quarenta) bolsas, durante seis meses, para discentes dos mais diversos cursos de graduação da universidade.

+Clique aqui para conferir a 2ª edição do Edital Temático de Representatividade Feminina no Ambiente Acadêmico

Com o projeto intitulado "Representatividade Feminina no CCET da UFS", a professora do Departamento de Matemática, Maria de Andrade Costa e Silva, buscou coletar dados sobre a presença das mulheres nos cursos de Ciências Exatas da universidade, ainda vistos socialmente como um ambiente predominantemente masculino.

“Antes mesmo de uma criança entrar no ambiente escolar já existem parâmetros socioculturais sobre questões de gênero e as Ciências Exatas estão sempre relacionadas à masculinidade e isso vai ganhando proporções dentro do universo acadêmico, onde ainda há poucas mulheres nessas áreas e, dentre as que chegam, ainda precisamos lidar com os processos de evasão. Pensando nisso, nosso objetivo foi o de coletar informações sobre discentes e docentes no CCET da UFS e suas participações em programas e projetos de pesquisa para, posteriormente, entender quais são os entraves mais relevantes para efetivarmos a participação das mulheres no nosso Centro”, explica a professora.

Ela diz ainda que, mesmo dentro das áreas de Ciências Exatas, há discrepância no âmbito da presença feminina em sala de aula. Segundo a pesquisa realizada por ela, na graduação em Ciências da Computação poucas são as mulheres aprovadas e, dentre elas, as que conseguem concluir o curso. Já na Engenharia e Tecnologia de Alimentos, o número de mulheres em sala de aula é predominantemente maior, sendo maior também a proporcional aprovação. E esses dados também se refletem na docência.


Professora do Departamento de Matemática, Maria de Andrade analisou a presença feminina na docência e discência do CCET da UFS  (Foto: Schirlene Reis / Ascom UFS)
Professora do Departamento de Matemática, Maria de Andrade analisou a presença feminina na docência e discência do CCET da UFS (Foto: Schirlene Reis / Ascom UFS)

“Ainda temos poucas docentes dentro do Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia, sobretudo bolsistas de produtividade, uma vez que o cenário universitário constitui o recorte social de que ainda se trata de um lugar da ciência em que soa estranha a participação feminina. Não é incomum a interpretação coletiva de que a mulher que chega a esse lugar nada mais é que esforçada, cabendo a inteligência associada à masculinidade”, salienta Maria de Andrade.

Para a coordenadora de pesquisa da UFS, professora Renata Ferreira, todo esse levantamento sobre os projetos temáticos é significativo para uma melhor percepção das necessidades e dos entraves femininos na esfera acadêmico-científica, a fim de que possa contribuir para novas possibilidades.

‘Vamos apresentar os resultados desses projetos e lançar um segundo edital para melhor compreendermos os próximos passos institucionais que venham a favorecer a presença das mulheres na pesquisa científica. Existem demandas relevantes, como a criação de uma escola-creche, de inserção da licença–maternidade como pausa necessária na produtividade e de um observatório de combate ao assédio moral e sexual, e tudo isso é importante para a manutenção do espaço feminino no fazer ciência”, destaca Renata.

Jéssica Vieira (Ascom UFS)

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 08 de março de 2023, 12:27
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