
Uma “Roda de conversa” reuniu, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), na tarde desta segunda-feira, 20, pessoas da comunidade transgênero de Sergipe e representantes institucionais da Prefeitura de São Cristóvão e da própria universidade. O objetivo do encontro, intitulado “Falando de nós”, foi discutir a saúde da população trans, incluindo a possibilidade da implantação de um ambulatório na “cidade-mãe”.
A UFS dispõe do Ambulatório Trans através do Hospital Universitário de Lagarto (HUL), que oferece diversos serviços à população trans de Sergipe, envolvendo o processo transexualizador, de forma multiprofissional – abrange endocrinologia, psicologia, fonoaudiologia, enfermagem, terapia ocupacional, serviço social, entre outros.

O Ambulatório, criado no Departamento de Fonoaudiologia do Campus de Lagarto (DFOL), é o único do estado. A proposta discutida na roda de conversa é implantar um Laboratório em São Cristóvão para atender parte dessa demanda, residente na antiga capital.
“A ideia desse evento hoje é exatamente uma iniciativa da Prefeitura de São Cristóvão no sentido de viabilizar um outro espaço aqui no município, para que a população local não tenha que se deslocar até Lagarto. É importante frisar que 95% do nosso público é de Aracaju e entorno”, diz Roxane de Alencar Irineu, professora do DFOL e atual coordenadora do Ambulatório Trans.

Acesso e acolhimento
Pedro de Oliveira Fontes reside em São Cristóvão, no bairro Rosa Elze. Usuário do Ambulatório desde o ano passado, ele destaca a importância de ampliar o alcance dos serviços para incluir mais pessoas.
“A gente sabe que Lagarto fica a uma hora e meia daqui, mais ou menos, então causa uma dificuldade maior, que impede muitas pessoas de conseguirem ter esse acesso. Temos relatos de várias pessoas que não conseguem ir ao Ambulatório, pessoas que trabalham, que não têm como tirar o dia todo”, explica. “Então, [expandir a oferta dos serviços] é pensando em facilitar esse processo também de acolhimento, com regularidade, né?”, reflete.

O rapaz observa também que não se trata apenas do empreendido no deslocamento para Lagarto, mas também da alta demanda pelos serviços.
“Começamos a perceber a dificuldade de [o Ambulatório] conseguir atender a todos, a demora que há na marcação de consultas, já que ele não consegue atender a demanda do Estado, uma vez que é o único ambulatório que a gente tem em Sergipe”, pontua.
Frequentando o Ambulatório desde antes da pandemia, Daniel Lima Menezes confirma que a demanda tem aumentado. Ele ressalta que a disponibilidade de um ambulatório em São Cristóvão trará benefícios para todos os usuários.

“Isso atende a população de São Cristóvão, mas vai também reduzir a quantidade de pessoas que já são atendidas no Ambulatório, já que há essa defasagem de marcações [de consultas], permitindo que mais pessoas usufruam dos serviços”, assinala.

Mapeamento
De acordo com o IBGE, a população de São Cristóvão (estimada em 2021) é de 92 mil pessoas. Desde o ano passado, a prefeitura da cidade vem realizando um cadastro para mapear a população LGBTQIA+ do município. A iniciativa é da Coordenadoria de Políticas Públicas para a população LGBTQIA+.
“A coordenadoria foi criada em abril do ano passado, desde então assumimos a tarefa de implementar políticas públicas no município, então nós começamos com o grande desafio de saber onde está essa população LGBTQIA+ em São Cristóvão, quem são eles, quanto são”, explica Sandra Sena, atual coordenadora.

A gestora entende a necessidade da população trans de São Cristóvão pelos serviços que envolvem o processo transexualizador. Ela reconhece também que para atender a demanda, é imprescindível que seja em parceria com a UFS.
“Sim, já estamos em discussão sobre isso, até mesmo porque a universidade está dentro do município. Estamos sensíveis para ver o que pode ser feito, minimamente, para poder atender de uma forma mais célere essa população”, conta Sandra. “[A possibilidade] é que eles possam pelo menos utilizar parte dos serviços aqui, e outra parte no ambulatório de Lagarto, que os atendimentos emergenciais e essenciais, por exemplo, sejam feitos dentro do próprio município [de São Cristóvão]”, pondera.

A roda de conversa é um ponto de partida para atender a reivindicação da população são-cristovense, mas já envolveu um bom público e atores das diversas instâncias.
“Hoje é a primeira iniciativa. Propusemos essa roda de conversa para ouvir a população, para ouvir os profissionais de saúde e fazer essa articulação entre o município de São Cristóvão e o Ambulatório Trans de Lagarto. Então eu venho nesse sentido de trazer um pouco da nossa experiência”, diz Roxane.
O encontro foi articulado pela Coordenação de Tecnologias Sociais Ambientais (CTSA), que é uma subunidade da Pró-Reitoria de Extensão da UFS.

“Nós apoiamos esse evento porque entendemos que essas pessoas fazem parte da nossa comunidade, precisam ser acolhidas, e essas ações afirmativas, essas ações assertivas da universidade, elas permeiam por todas as áreas – e com a população trans não poderia ser diferente”, afirma Tereza Raquel Ribeiro, coordenadora da CTSA.
Marcilio Costa - Jornalista Ascom/UFS
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