
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) recebeu na tarde desta segunda-feira, 26, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy. A recepção, realizada na Sala dos Conselhos, teve a presença de membros da gestão da universidade, além da comunidade acadêmica.
O encontro envolveu dois assuntos como destaque: a apresentação do trabalho de renda irlandesa desenvolvido em Laranjeiras-SE; e uma palestra, por parte do embaixador, a respeito do centenário da obra Ulysses, do escritor irlandês James Joyce.


“Uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre esse projeto [das rendas irlandesas]. É um projeto cultural, com relação com a Irlanda, que é um país que recebe muitos brasileiros - temos 70 mil brasileiros lá. Temos agora a oportunidade de aumentar nossas relações culturais”, opinou Hoy.
“Estamos celebrando o centenário de Ulisses, de James Joyce, um livro que apesar de ser complicado é relativamente popular no Brasil. E estamos aqui também com esse projeto para visualizar Ulisses aos olhos dos brasileiros”, completou.

Seán Hoy está em Sergipe a convite do Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem). O intercâmbio entre a UFS e a embaixada irlandesa faz parte da política de internacionalização da universidade.
“Colocamos a Coordenação de Relações Internacionais à disposição para estreitar parcerias com a Irlanda, esse país que é conhecido por estar entre os dez melhores sistemas de educação do mundo”, disse Érica Winand, que chefia a Coordenação de Relações Internacionais (Cori).
“E nós pretendemos também estar entre os melhores, não só por questões meritocráticas, de ostentação, mas por acreditarmos que a educação é o caminho mais louvável para que a humanidade seja mais justa, menos desigual. E acreditamos em uma internacionalização também assim, de base humanista e que promova igualdade entre os povos e cooperação para o desenvolvimento”, acrescentou.

Segundo Rosalvo Ferreira, reitor em exercício, o encontro é uma oportunidade para a troca de conhecimentos.
“A renda irlandesa é, digamos, a cereja do bolo. Nós contribuímos muito para o desenvolvimento intelectual, com a nossa capacidade de produzir ideias, mas também atuamos na realidade da comunidade, onde as pessoas vivem. Essa troca de conhecimento com o fazer popular é fundamental”, afirmou.
O convite realizado pelo Governo do Estado teve o objetivo de promover o intercâmbio cultural e comercial da renda irlandesa, além de ampliar o conhecimento sobre a produção singular desse artesanato que se perdeu no seu país de origem, a Irlanda, mas se fortalece, a cada dia, no estado sergipano.
“Estamos em um processo de construção de novos mercados, para que a gente possa escoar nossa produção riquíssima, não só da renda irlandesa, mas de outras formas que temos em Sergipe”, pontuou Jorge Teles, secretário da Seteem.

Renda irlandesa
A renda irlandesa surgiu na Europa, possivelmente no norte da Itália entre os séculos XVI e XVII. Difundida para o mundo, acabou sendo apropriada, em Sergipe, por mulheres que trabalhavam em fazendas da aristocracia do estado.
A opção das mulheres sergipanas por trabalharem com o lacê do tipo cordão sedoso achatado, mesmo empregando uma técnica que é muito difundida no Nordeste, resultou na confecção de uma renda singular, de grande beleza, ressaltada pelo relevo e brilho do lacê. Isto confere ao produto do seu trabalho um diferencial em relação às rendas produzidas em vários estados da Região.

O município que mais se destaca na produção é Divina Pastora, que abriga a maior parte das rendeiras do estado. O trabalho, no entanto, está difundido em diversos outros municípios, como defende a pesquisadora da UFS Ana Karina Calmon. A renda irlandesa foi seu primeiro projeto de pesquisa, quando ingressou na instituição, em 2013.
“Eu tinha o desafio de compreender por que o reconhecimento da produtividade da renda irlandesa estava concentrado na cidade de Divina Pastora, se eu consigo mapear em outras cidades, em outros espaços, a mesma produção”, questionou então a professora.
“E percebemos que, na verdade, são escolhas políticas. Eu compreendo a importância de Divina Pastora, mas não entendo que outras cidades não sejam contempladas, porque podemos ampliar possibilidades de atuação dessas mulheres”, opinou Ana Karina, que é também vice-diretora do Campus de Laranjeiras.

O “Modo de Fazer Renda Irlandesa” foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, “tendo como referência este ofício na Cidade de Divina Pastora”, através da Lei 8.586/2019, a partir de um projeto apresentado pelo deputado Garibalde Mendonça.
“Ao longo da pesquisa consegui localizar 13 municípios [onde a renda é produzida] em Sergipe . Hoje consigo dizer, com uma certa segurança, que a produção está ao longo do rio Cotinguiba. Ela sai, de alguma forma, de Divina Pastora, e essas mulheres assumem esse serviço como forma de ganhar dinheiro e a produção então se espalha”, conclui Ana Karina.

35 anos fazendo renda
Gilda Matias, 54 anos, é natural de Maruim, mas mora há 35 em Laranjeiras. Ela aprendeu a confeccionar a renda irlandesa com a irmã, em uma fazenda no município de Divina Pastora.
“Comecei aos nove anos, furando o dedo, chorando… E minha irmã dizendo ‘não, você tem que aprender, pra gente ajudar mamãe’, que tinha 16 filhos… E hoje é orgulho pra mim fazer a renda irlandesa”, conta a artesã.
Quando se mudou para Laranjeiras, Gilda começou a difundir o conhecimento adquirido, que foi se ampliando, e hoje são pelo menos 30 famílias participando da confecção da renda na cidade.

Ulysses
O embaixador da Irlanda está percorrendo o país também para divulgar o centenário da obra Ulysses, do escritor irlandês James Joyce, considerado um dos romances mais marcantes da história da literatura.
Ascom UFS
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