Ter, 27 de junho de 2023, 11:10

Com agenda em Sergipe, embaixador da Irlanda visita UFS
Universidade recebeu o diplomata visando ao intercâmbio cultural e em prol da internacionalização da instituição
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A Universidade Federal de Sergipe (UFS) recebeu na tarde desta segunda-feira, 26, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy. A recepção, realizada na Sala dos Conselhos, teve a presença de membros da gestão da universidade, além da comunidade acadêmica.

O encontro envolveu dois assuntos como destaque: a apresentação do trabalho de renda irlandesa desenvolvido em Laranjeiras-SE; e uma palestra, por parte do embaixador, a respeito do centenário da obra Ulysses, do escritor irlandês James Joyce.


Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS
Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS
Seán Hoy, embaixador da Irlanda no Brasil. (Fotos: Adilson Andrade / Ascom UFS)
Seán Hoy, embaixador da Irlanda no Brasil. (Fotos: Adilson Andrade / Ascom UFS)

“Uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre esse projeto [das rendas irlandesas]. É um projeto cultural, com relação com a Irlanda, que é um país que recebe muitos brasileiros - temos 70 mil brasileiros lá. Temos agora a oportunidade de aumentar nossas relações culturais”, opinou Hoy.

“Estamos celebrando o centenário de Ulisses, de James Joyce, um livro que apesar de ser complicado é relativamente popular no Brasil. E estamos aqui também com esse projeto para visualizar Ulisses aos olhos dos brasileiros”, completou.


Érica Winand, que coordenadora de Relações Internacionais da UFS.
Érica Winand, que coordenadora de Relações Internacionais da UFS.

Seán Hoy está em Sergipe a convite do Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem). O intercâmbio entre a UFS e a embaixada irlandesa faz parte da política de internacionalização da universidade.

“Colocamos a Coordenação de Relações Internacionais à disposição para estreitar parcerias com a Irlanda, esse país que é conhecido por estar entre os dez melhores sistemas de educação do mundo”, disse Érica Winand, que chefia a Coordenação de Relações Internacionais (Cori).

“E nós pretendemos também estar entre os melhores, não só por questões meritocráticas, de ostentação, mas por acreditarmos que a educação é o caminho mais louvável para que a humanidade seja mais justa, menos desigual. E acreditamos em uma internacionalização também assim, de base humanista e que promova igualdade entre os povos e cooperação para o desenvolvimento”, acrescentou.


Rosalvo Ferreira, reitor em exercício.
Rosalvo Ferreira, reitor em exercício.

Segundo Rosalvo Ferreira, reitor em exercício, o encontro é uma oportunidade para a troca de conhecimentos.

“A renda irlandesa é, digamos, a cereja do bolo. Nós contribuímos muito para o desenvolvimento intelectual, com a nossa capacidade de produzir ideias, mas também atuamos na realidade da comunidade, onde as pessoas vivem. Essa troca de conhecimento com o fazer popular é fundamental”, afirmou.

O convite realizado pelo Governo do Estado teve o objetivo de promover o intercâmbio cultural e comercial da renda irlandesa, além de ampliar o conhecimento sobre a produção singular desse artesanato que se perdeu no seu país de origem, a Irlanda, mas se fortalece, a cada dia, no estado sergipano.

“Estamos em um processo de construção de novos mercados, para que a gente possa escoar nossa produção riquíssima, não só da renda irlandesa, mas de outras formas que temos em Sergipe”, pontuou Jorge Teles, secretário da Seteem.


Jorge Teles, secretário do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo.
Jorge Teles, secretário do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo.

Renda irlandesa

A renda irlandesa surgiu na Europa, possivelmente no norte da Itália entre os séculos XVI e XVII. Difundida para o mundo, acabou sendo apropriada, em Sergipe, por mulheres que trabalhavam em fazendas da aristocracia do estado.

A opção das mulheres sergipanas por trabalharem com o lacê do tipo cordão sedoso achatado, mesmo empregando uma técnica que é muito difundida no Nordeste, resultou na confecção de uma renda singular, de grande beleza, ressaltada pelo relevo e brilho do lacê. Isto confere ao produto do seu trabalho um diferencial em relação às rendas produzidas em vários estados da Região.


Ana Karina Calmon, docente e pesquisadora do Campus de Laranjeiras.
Ana Karina Calmon, docente e pesquisadora do Campus de Laranjeiras.

O município que mais se destaca na produção é Divina Pastora, que abriga a maior parte das rendeiras do estado. O trabalho, no entanto, está difundido em diversos outros municípios, como defende a pesquisadora da UFS Ana Karina Calmon. A renda irlandesa foi seu primeiro projeto de pesquisa, quando ingressou na instituição, em 2013.

“Eu tinha o desafio de compreender por que o reconhecimento da produtividade da renda irlandesa estava concentrado na cidade de Divina Pastora, se eu consigo mapear em outras cidades, em outros espaços, a mesma produção”, questionou então a professora.

“E percebemos que, na verdade, são escolhas políticas. Eu compreendo a importância de Divina Pastora, mas não entendo que outras cidades não sejam contempladas, porque podemos ampliar possibilidades de atuação dessas mulheres”, opinou Ana Karina, que é também vice-diretora do Campus de Laranjeiras.


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O “Modo de Fazer Renda Irlandesa” foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, “tendo como referência este ofício na Cidade de Divina Pastora”, através da Lei 8.586/2019, a partir de um projeto apresentado pelo deputado Garibalde Mendonça.

“Ao longo da pesquisa consegui localizar 13 municípios [onde a renda é produzida] em Sergipe . Hoje consigo dizer, com uma certa segurança, que a produção está ao longo do rio Cotinguiba. Ela sai, de alguma forma, de Divina Pastora, e essas mulheres assumem esse serviço como forma de ganhar dinheiro e a produção então se espalha”, conclui Ana Karina.


Gilda  Matias vive e trabalha com a renda irlandesa em Laranjeiras há 35 anos.
Gilda Matias vive e trabalha com a renda irlandesa em Laranjeiras há 35 anos.

35 anos fazendo renda

Gilda Matias, 54 anos, é natural de Maruim, mas mora há 35 em Laranjeiras. Ela aprendeu a confeccionar a renda irlandesa com a irmã, em uma fazenda no município de Divina Pastora.

“Comecei aos nove anos, furando o dedo, chorando… E minha irmã dizendo ‘não, você tem que aprender, pra gente ajudar mamãe’, que tinha 16 filhos… E hoje é orgulho pra mim fazer a renda irlandesa”, conta a artesã.

Quando se mudou para Laranjeiras, Gilda começou a difundir o conhecimento adquirido, que foi se ampliando, e hoje são pelo menos 30 famílias participando da confecção da renda na cidade.


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Ulysses

O embaixador da Irlanda está percorrendo o país também para divulgar o centenário da obra Ulysses, do escritor irlandês James Joyce, considerado um dos romances mais marcantes da história da literatura.

Ascom UFS
comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Ter, 27 de junho de 2023, 14:43
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