
Alyne Mayra Rufino dos Santos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (Proarq/UFS), foi oficialmente nomeada diretora do Centro Nacional de Arqueologia (CNA), órgão integrante do Departamento de Ações Estratégicas e Intersetoriais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura (MinC). A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União no fim de agosto.
A trajetória de Alyne Mayra é marcada por sua atuação junto a comunidades quilombolas e pela valorização das ancestralidades amefricanas e amazônicas.
Natural de Rondônia, a doutoranda iniciou sua formação como aluna da primeira turma de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia (Unir). Desde os primeiros passos na graduação, envolveu-se em lutas coletivas, participando de projetos de pesquisa, extensão e monitorias. Após a graduação, ingressou no mestrado do Proarq/UFS e aprofundou sua pesquisa na interface entre arqueologia, negritude e Amazônia.
“O mestrado foi a possibilidade, de forma acadêmica, de me constituir e me entender enquanto mulher negra na Arqueologia”, afirma.
Atualmente doutoranda pela UFS, Alyne continua trilhando um caminho que une ciência, ancestralidade e justiça social, desenvolvendo sua pesquisa no quilombo Forte Príncipe da Beira, no Vale do Guaporé, em Rondônia, com foco na arqueologia da paisagem e na percepção de sítios arqueológicos a partir da vivência e história da comunidade.
“A arqueologia no Brasil tem sido foco de apropriação por várias comunidades quilombolas e indígenas através da cultura material, seja modificações em paisagens ou aproximação de suas ancestralidades”, explica.
Centro Nacional de Arqueologia
A notícia da nomeação, para Alyne, simboliza valorização da presença de uma mulher negra, nortista e LGBTQIA+ em um espaço estratégico da gestão pública federal. “Considero a nomeação um reconhecimento do trabalho que desenvolvi na Superintendência do Iphan em Rondônia. É uma vitória que o Norte, como coletivo, se destaca através da minha trajetória”, destaca.
A conquista de Alyne é vista como um marco não apenas pessoal, mas também institucional. “O Proarq tem aberto horizontes para novas concepções da Arqueologia e diferentes fazeres arqueológicos. É um espaço que tem oportunizado a inserção de corpos e percepções dissidentes, como eu, uma mulher negra amazônida na academia”, afirma.
Como diretora do Centro Nacional de Arqueologia, Alyne terá como missão coordenar a gestão do patrimônio arqueológico brasileiro. Entre suas prioridades, estão a ampliação do alcance do projeto Arqueologia Viva, lançado na gestão anterior, e a revisão de portarias normativas que regem a Arqueologia desde os anos 1980. Além disso, ela destaca a importância da articulação de políticas públicas que promovam a aproximação da sociedade com o patrimônio cultural.
“Queremos socializar o conhecimento arqueológico e executar ações que aproximem cada vez mais o Iphan das diversas comunidades brasileiras”, pontua.