Qua, 15 de junho de 2011, 05:08

Escola e comunidade: uma diáspora atual
Escola e comunidade: uma diáspora atual

Jonaza Glória dos Santos


Num período em que a mídia governamental faz um levante – Todos pela Educação – e ainda nos encontramos em Sergipe com praticamente um terço dos alunos das séries finais do Ensino Fundamental da Educação Básica em distorção idade/série (52.378 dos 164.649, IDEB 2009), é imprescindível que continuemos pesquisando as razões e conseqüências dessa disparidade.

Uma das causas identificadas é a relação escola - comunidade, nessa discussão habita a dificuldade de envolvimento dos interessados, ou seja, fazer com que a comunidade participe efetivamente da escola e/ou que a escola participe ativamente da comunidade. A subjetividade dessa relação revela uma distorção na medida em que os alunos da escola pública partilham o sentido do coletivo, mas não participam das atividades comunitárias, assim como a escola que através das suas atividades pedagógicas não consegue colocar pra dentro dos seus muros as famílias e a comunidade, isso porque “[...] no fundo, o problema é que a escola tem um lugar na sociedade, mas a sociedade nem sempre tem lugar na escola” (CARNEIRO, 1998, p.62).

O entendimento de união é muito mais sentido do que vivenciado, visto que há o sentimento de ser coletivo, mas não há a prática do viver em coletivo. Dentro desse contexto está inserida a escola na sua função precípua de formar o cidadão; mas o relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura revela que “[...] a despeito dos esforços empreendidos no sentido de democratizar a educação, historicamente, a escola cumpriu uma função social excludente” (PENIN e VIEIRA, 2002, pp.15), já que as estatísticas do censo do IBGE em 2010 indicam que ainda há no Brasil 14, 6 milhões de analfabetos.

Esses dilemas nos levam ao âmago da questão da participação da comunidade na gestão democrática da escola pública que se encontra travada, ora pelo discurso liberalizante dos diretores nomeados e que se dizem democráticos quando concedem ou permitem que pais, professores ou funcionários participem desta ou daquela decisão, ora pela falta de engajamento dos pais e/ou responsáveis – entenda-se aqui comunidade – em participar, em estar na escola e fazer prevalecer o seu direito de decidir e contribuir nos caminhos que a escola vai seguir. E se falarmos de comunidade periférica construída sob bases sócio-econômicas desiguais, aumenta a responsabilidade da escola porque é neste habitat que se insere, em sua maioria, a exclusão.

Os diversos interesses contraditórios presentes nas relações que se dão no espaço escolar não eximem o aluno das suas parciais responsabilidades sobre algumas dificuldades que também estão inseridas nesse contexto, que vão desde a conservação física da escola - o que demonstra uma inversão de valores quanto ao princípio universal de cuidar bem do que é importante, até aos motivos que os levam a escolha da própria escola.

Abordar o tema escola e comunidade nos obriga a depararmo-nos com o já desgastado impasse entre os motivos que cada segmento tem para participar ou não, contribuir ou não, fazer ou não a sua parte; sejam os professores mergulhados nas suas justas crises político-sindicais por melhores condições de salários, trabalho e atualmente segurança; sejam os pais nas suas reais impossibilidades temporais e financeiras de contribuir e participar das atividades escolares e coletivas; seja o Estado na sua sempre recessão em articular políticas que estimulem o profissional da educação.

Dessas análises podemos inferir que os sentidos e as contradições da escola e da comunidade estão presentes de forma distorcida na significação que os professores, pais e alunos tem dessas instituições e essa distorção limita as ações de todos os envolvidos no processo escolar dificultando sobremaneira a construção dessa rede ideal necessária à educação.


Currículo
Especialista em Escola e Comunidade – UFS/MEC.


Atualizado em: Qua, 15 de junho de 2011, 05:08
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