Qui, 20 de julho de 2017, 17:55

Um momento para partilhar
Angelo Roberto Antoniolli*

As pessoas devem viver em torno do que acreditam, buscando aplicar na prática da vida profissional e pessoal tudo aquilo que se constitui em valores e princípios éticos que defendem e que almejam ver disseminados na sociedade.

A vida de um farmacólogo lavrada na atividade docente, manipulando plantas, poções e fórmulas, assimilando conhecimentos e inovações, mas, acima de tudo, predispondo-se a apontar caminhos aos alunos, já é, por si mesma, encantadora. E o encanto reveste-se do zelo e da dedicação, especialmente quando a sala de aula e o laboratório não servem como uma espécie de “zona de conforto” na qual o profissional se instala como mero repassador de teorias e práticas que vão, com o tempo, se embolorando. A estagnação é um mal que corrói as pessoas e não convém ao espírito da docência.

Antes de ser gestor público, como reitor da Universidade Federal de Sergipe, tendo anteriormente passado por outras esferas administrativas, desde a chefia de departamento à vice-reitoria, o que eu sou mesmo é professor e pesquisador. Na docência e na pesquisa, tenho firmado a minha vida como farmacólogo.

Abracei a profissão desde os primeiros encantamentos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), no campus de Ribeirão Preto, há cerca de trinta anos. Lá, eu moldei o meu caráter profissional, que tenho procurado aperfeiçoar na luta diária, tentando vencer meus defeitos.

Aqui em Sergipe, e, mais de perto, na UFS, desde a década de 1990, eu tenho envidado esforços para manter acesa a chama que os meus mestres acenderam e que a mim tem cabido fazê-la brilhar ao lado dos meus alunos, muitos dos quais orientandos no mestrado e no doutorado. Assim tem sido a minha vida profissional. A Farmacologia inspira-me e faz-me dar de mim o que de melhor eu possa ter, qual seja a minha obstinação em torno do que eu acredito e do que eu faço.

Na última segunda-feira, dia 10, eu, ao lado de outras pessoas, recebi da Academia Nacional de Farmácia, a “Láurea João Florentino Meira de Vasconcelos”. Não sei dos meus merecimentos para tanto, mas, de qualquer forma, receber tal Láurea, não deixou de ser uma honra, que eu a quero partilhar com todos os meus colegas professores, técnico-administrativos e alunos da UFS. Afinal, nenhuma homenagem que alguém recebe deve ser tida como algo pessoal, se o trabalho que a pessoa homenageada exerce é feito em conjunto, em grupo. A minha vida toda tem sido assim: dou muito mais valor ao trabalho que eu exerço em grupo do que a qualquer trabalho feito isoladamente. Isolados, nós não passamos de caramujos. O trabalho em grupo vivifica muito mais. A docência é sempre um trabalho exercido coletivamente.

A Láurea, que eu e os outros recebemos, tem o nome de um dos baluartes da Farmacologia no Brasil, João Florentino Meira de Vasconcelos, nascido na cidade de Pilar, na então província da Paraíba do Norte, diplomado em Farmácia em 1886 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

João Florentino estabeleceu-se na cidade de Campinas, São Paulo, com a “Farmácia Meira”, a qual foi transferida, posteriormente, para a cidade de São Paulo, onde começou a exercer também atividades políticas, seguindo os passos de seu pai, que chegou a ser presidente de província e ministro do Império. Em 1896 fundou a “Sociedade Farmacêutica”, a qual presidiu com brilhantismo. Essa Sociedade foi a semente da “Escola Livre de Farmácia”, fundada em 12 de outubro de 1898, que deu origem à Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, embrião da atual Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Na “Escola Livre de Farmácia”, foi Professor Catedrático de “Farmácia: Teoria e Prática”. Foi pesquisador e publicou o livro “Elementos de Farmácia”. Outro fato digno de nota, entre tantas realizações do professor Meira de Vasconcellos, foi sua participação ativa na organização e promoção da “Farmacopéia Paulista”, oficializada em 31 de maio de 1917, trabalhando incansavelmente pela sua adoção no Estado de São Paulo.

O patrono da Láurea que nos foi conferida constitui-se em exemplo para todos nós, profissionais da Farmacologia. Na ocasião da entrega da Láurea, realizava-se na Universidade Federal de Sergipe, a “Oficina Inovação Farmacêutica & Propriedade Intelectual”, levada a efeito pela Academia Nacional de Farmácia. É de suma importância que eventos como esse sejam levados aos mais diversos rincões do Brasil, no sentido de disseminar oportunidades para inovação no segmento farmacêutico entre profissionais e estudantes, aproximando-os cada vez mais entre si e com as realidades que permeiam as inovações e, por consequência, a propriedade intelectual delas advindas.

Precisamos estar atentos a tudo que diga respeito às questões da Farmacologia. As inovações farmacêuticas se sucedem, acompanhando a dinâmica da própria vida e, essencialmente, a dinâmica das questões voltadas para a saúde.

Nada deve estar alheio aos profissionais e aos estudantes, a começar pela legislação que nos rege e que rege, por conseguinte, as inovações e a propriedade intelectual, no âmbito da Farmacologia.

Parabéns, portanto, à Academia Nacional de Farmácia por tão auspicioso evento. Que outros desse naipe sejam realizados. Quanto à Universidade Federal de Sergipe, continuará com as portas abertas para acolher eventos dessa natureza ou quaisquer outros que a Academia ou outras entidades pretendam realizar a qualquer tempo.

Por fim, permitam-me partilhar a Láurea por mim recebida com todos aqueles e aquelas que comigo estiveram e estão, na minha caminhada farmacológica, na minha atividade administrativa, na minha vida familiar e pessoal. Ninguém constrói nada sozinho. Comigo, pois, estiveram e estão muitas pessoas valorosas. Com todas e com cada uma delas, em particular, eu partilho a Láurea recebida. Ela não é minha. Ela é de todos que comigo constroem significativos momentos da vida.

*Reitor da Universidade Federal de Sergipe


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