Ter, 28 de junho de 2022, 15:21

Projeto "Ler para ser" da UFS promove leitura crítica a membros da Orquestra Jovem de Sergipe 
Iniciativa visa proporcionar protagonismo social através da leitura a jovens de 12 a 17 anos dos bairros Santa Maria e 17 de março 

Criada em março de 2014 com o objetivo de proporcionar a iniciação e o aprimoramento musicais a crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos de idade dos bairros Santa Maria e 17 de Março, a Orquestra Jovem de Sergipe (OJSE) reúne também histórias de meninos e meninas que enxergam na arte e na cultura uma ponte para alcançar espaços que jamais imaginaram.

Segundo dados do Observatório Social da Secretaria Municipal de Assistência Social de Aracaju, o bairro Santa Maria concentra o maior número de pessoas em situação de vulnerabilidade, menor renda per capta e com índices de pobreza da capital sergipana, que refletem também baixos índices educacionais em diversas faixas etárias. Essa realidade, sempre divulgada nos meios de comunicação locais, levou a professora do Departamento de Letras Vernáculas da UFS Renata Ferreira Costa a pensar num projeto que proporcionasse aos membros da OJSE uma análise mais crítica sobre temas dos quais vivenciam e pelos quais eles se interessam, surgindo assim o Projeto de Extensão Ler para ser: formação de leitores críticos com a Orquestra Jovem de Sergipe.


Projeto "Ler para ser" reúne jovens de 12 a 17 anos da Orquestra Jovem de Sergipe (Fotos: Arquivo pessoal)
Projeto "Ler para ser" reúne jovens de 12 a 17 anos da Orquestra Jovem de Sergipe (Fotos: Arquivo pessoal)

Para a coordenadora do projeto, a inserção desses jovens no cenário de uma leitura crítica e coletiva possibilita que eles tenham acesso a universos para além da realidade em que vivem e que, a partir disso, estejam motivados a enfrentar os desafios sociais e traçar caminhos mais promissores em suas vidas.

“Devido ao cenário de vulnerabilidade social presente nos dois bairros, houve uma preocupação quanto à formação crítica desses jovens, inserindo-os em ambientes de leitura que possibilitassem o acesso não só aos contextos da realidade em que vivem , mas dos quais se interessam, pois é fundamental que eles tenham voz ativa num processo de letramento. Dessa forma, o projeto Ler para ser busca contribuir para a formação de cidadãos”, explica a professora Renata Ferreira.


Coordenadora do projeto, a professora Renata ressalta o potencial dos jovens da OJSE
Coordenadora do projeto, a professora Renata ressalta o potencial dos jovens da OJSE

Ela conta ainda que, por ter vivido a realidade da periferia em São Paulo, reconhece o potencial das crianças e adolescentes quando estimulados ao conhecimento, às produções acadêmicas e ao contato com um ambiente motivador para o letramento.

“Eu vim da periferia de São Paulo e o meu acesso à leitura, ao debate crítico e a produções acadêmicas certamente contribuiu para a minha formação, assim como para a formação de tantas outras pessoas que vivem ou viveram realidades semelhantes. Nascer numa periferia, em meio à pobreza e violência, não é um fator determinante para a manutenção dessa realidade e esse projeto tem, justamente, a função de fazer com que esses meninos e meninas compreendam isso e possam sair das perspectivas limitadoras. Muitos deles, através da música, da arte, da leitura, conseguiram traçar novos caminhos e é sob essa ótica que o trabalho é desenvolvido. A Educação é capaz de mudar essa barreira”, salienta a coordenadora do projeto.

Atualmente, a Orquestra conta com 280 alunos, de 6 a 23 anos, mas, por questões metodológicas, o projeto de extensão Ler para ser atende os alunos de 12 a 17 anos, cuja participação é voluntária. Com temáticas diversificadas, visando alcançar o interesse e o debate coletivos, o projeto conta com seis bolsistas, dentre eles a estudante de Letras Vernáculas da UFS Nicoly Rocha.


"É um projeto de desenvolvimento pessoal e profissional", diz Nicoly Rocha, estudante de Letras da UFS e bolsista do projeto Ler para ser
"É um projeto de desenvolvimento pessoal e profissional", diz Nicoly Rocha, estudante de Letras da UFS e bolsista do projeto Ler para ser

Moradora do bairro Santa Maria, ela conta que o projeto foi uma verdadeira motivação para o seu desenvolvimento e formação acadêmica, uma vez que conhece de perto as problemáticas da região e o quanto a sociedade, muitas vezes orientadas pelos veículos de comunicação, ignoram a existência de grandes oportunidades no local.

“De uma forma geral, as pessoas associam periferia à violência, pobreza e tragédia. É obvio que elas existem, mas existem também muitas pessoas capazes e dispostas a mudarem as suas vidas e construírem novos percursos em diversas áreas. Todo o bairro tem muito respeito pelos alunos da Orquestra, é bonito de ver, e o projeto Ler para ser é uma oportunidade de isso acontecer, pois foi pensado para mudar a perspectiva de vida deles e eu, como moradora, imediatamente quis fazer parte disso, contribuir de forma acadêmica e sentir esse desenvolvimento profissional e pessoal”, diz a estudante.

Ela explica, no entanto, que o projeto não se trata apenas de uma “roda de leitura”, mas de uuma construção de saberes a partir de temáticas comuns e de interesse àquelas pessoas.

“Não é sentar para ler o livro, o artigo ou qualquer publicação, mas referenciar essa leitura sob a ótica do que eles conhecem e, a partir daí, expandir os debates, trazer um pensamento crítico-reflexivo. Existe uma preparação para o projeto, como capacitações para o desdobramento de leituras que, muitas vezes, são vistas pela sociedade com preonceito, Eles trazem os temas sobre os quais gostariam de falar, não havendo qualquer intervenção no sentido de hierarquizar debates”, comenta Nicoly.

A professora Renata Ferreira explica que os temas abordados fazem parte da identidade sociocultural do grupo, tais como raça, gênero, sexualidade, consciência de classe , educação e futuro, possibilitando, além da formação crítica, um protagonismo social.

“Esses jovens já estão inseridos num contexto de arte e consciência, trazido pela música, e nós almejamos ampliar isso através do letramento e da consctrução de um protagonismo social para o qual eles têm muito potencial. A Orquestra Jovem de Sergipe é um solo muito fértil para diversas áreas do saber e tem sido gratificante ver o interesse deles nas reuniões, que serão feitas semanalmente no Espaço Cuidar, sede da Orquestra”. Conta Renata.

Atuando desde a fundação da OJSE como professor de violino e desde 2016 como coordenador pedagógico e regente da Orquestra Jovem de Sergipe, o maestro Márcio Bonifácio salienta a importância do projeto para seus alunos.

Sem dúvidas, a possibilidade de um letramento crítico-reflexivo é uma oportunidade de eles ampliarem seus horizontes e de vislumbrarem espaços nos quais, normalmente, não conseguiriam se guiar sozinhos. Dessa forma, a estruturação de um projeto que vislumbre esse objetivo é bastante significativa não só para os alunos, mas para seus pais, familiares e toda a sociedade.”, conta o maestro,

Orquestra Jovem de Sergipe

A Orquestra Jovem de Sergipe (OJSE) é um projeto social que tem como principal objetivo proporcionar a crianças e adolescentes, de 06 a 18 anos, dos bairros Santa Maria e 17 de Março, a iniciação e o aprimoramento musical por meio do estudo de instrumentos de corda, percussão, sopro, canto coral e musicalização, promovendo um encontro com a música clássica e abrindo portas para a profissionalização.

Com uma equipe de professores qualificados, são oferecidas aulas individuais e em grupo, além de ensaios, de segunda a sexta-feira, em três polos: Espaço Cuidar, CRAS e Instituto Rahamim, todos no bairro Santa Maria.

Atuando há oito anos, a OJSE já tem no currículo apresentações com artistas renomados nacionalmente e também no estado de Sergipe, tendo se apresentado na capital e em diversos municípios sergipanos. Em novembro do ano passado, pela primeira vez em um concerto próprio, a Orquestra Jovem se apresentou no palco do maior teatro de Aracaju, o Teatro Tobias Barreto, com mais de 100 músicos, dentre coralistas e musicistas.

Jéssica Vieira – Ascom UFS

Com informações da OJSE

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Atualizado em: Ter, 28 de junho de 2022, 16:36
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