Ter, 13 de dezembro de 2022, 16:15

Professor Paulino, nosso eterno mestre
Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira

No dia de 30/11/2022, faleceu aos 80 anos, por Covid, o professor José Paulino da Silva, do Departamento de Filosofia e História, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde exerceu a função de professor do magistério superior até 1995, quando se aposentou. O professor Paulino nasceu na Fazenda da Cachoeira do Taepe, em Surubim-PE (1942), e foi seminarista na Congregação Salesiana Dom Bosco, em Jaboatão. Era Doutor em Filosofia e História da Educação, havendo ingressado na UFS em 1970. Ao longo de sua jornada acadêmica profissional, além de orientar vários alunos, publicar livros e artigo científicos, assumiu importantes funções na administração superior da Universidade, desde a sua fundação, quando foi assessor do primeiro reitor da UFS, Dr. João Cardoso do Nascimento Júnior (1968-1972). Posteriormente, assumiu outros cargos importantes tais como Pró-reitor de Assuntos Estudantis (1978), Pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa (1980), e Vice-reitor na nossa gestão (1992-1996.)

+ Faleceu o professor aposentado José Paulino da Silva

Na nossa gestão à frente da UFS, fui agraciado por Deus com a sua companhia. Com muito mais experiência na administração universitária do que eu, e muito mais conhecido no seio da comunidade universitária, aceitou humildemente o convite para ser o nosso vice-reitor, priorizando em sua decisão os interesses institucionais e da sociedade sergipana. Escrevemos a duas mãos o projeto “O saber e o fazer em prol da revitalização da UFS”. Sua participação foi muito importante, não só na construção do projeto, mas, sobretudo, na sua execução ao longo da nossa gestão. A sua presença permanente ao meu lado foi decisiva para a qualidade e segurança das minhas decisões à frente da administração da UFS. Mas nossa sintonia não se restringiu a área da administração universitária, foi muito além disso, se expressando em todos os campos da nossa convivência íntima, a ponto de tê-lo como um irmão espiritual. Tornou-se meu compadre, depois meu paciente, submetendo-se semanalmente às sessões de terapia psicobioenergética, a que passei a me dedicar após o exercício da Reitoria. Tudo isto foi consolidando uma amizade espiritual de 40 anos de convivência e que, portanto, não se extinguirá com o seu falecimento, pelo contrário, ele agora vive em mim através do conjunto de suas virtudes que foram impregnadas na minha alma e continuarão a se expressar através das minhas atitudes.

Essa sua característica, de marcar indelevelmente a vida daqueles que prezaram da sua amizade, foi uma expressão marcante em toda sua trajetória de vida, onde sempre procurou dar o melhor de si pelo desenvolvimento do seu semelhante, especialmente dos seus alunos, aos quais sempre se dedicou muito amorosamente. Todos que conviveram com ele haverão de reconhecer a sua importância na transformação de suas vidas.

Professor Paulino, portanto, foi um ser especial, uma personalidade singular no modo de ensinar, expressando no seu fazer cultura, compromisso social, sensibilidade, espiritualidade e, sobretudo, amorosidade. Pessoa que sempre cultivou a simplicidade. Nunca se preocupou com aparência, nem com a projeção externa do seu trabalho e, sim, com o bem fazer, sempre visando o benefício do seu semelhante. Seu valor intelectual foi sobejamente expresso nos livros e artigos que publicou, destacando-se os estudos sobre a participação de Sergipe na “Guerra de Canudos”. Mas o diferencial na vida do professor Paulino com certeza não foi o seu cabedal cientifico e sim o seu exemplo de vida como cidadão honrado, respeitador dos valores morais e espirituais, expressando sua solidariedade e amorosidade com todos que dele se aproximavam. Um homem de ideias progressistas, se posicionando sempre de forma corajosa a favor das minorias desfavorecidas dos benefícios do desenvolvimento sócio econômico. Defensor intransigente da preservação e divulgação da cultura popular e dos artistas regionais. Sua função de professor transcendeu em muito sua atuação em sala de aula. Suas melhores lições foram dadas na sua forma elegante de enfrentar a vida.

A missão do professor é indubitavelmente divina e essencial para a transformação do mundo. Saber sustentar a vida com dignidade é o legado maior que professor Paulino, que se entregou de corpo e alma a essa nobre missão, nos deixa. Os bons professores têm um impacto permanente na vida dos seus alunos e, portanto, continuam os acompanhando quando vão para a eternidade. Segundo o educador Paulo Freire, “O educador se eterniza em cada ser que ele educa”. Portanto, sintonizado com esse pensamento, professor Paulino será sempre o nosso “Eterno Mestre”

Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira é ex-reitor da UFS (1992-1996)